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Um dia no céu
por Efraim Rodrigues
*
publicado em 12/06/2005.
Mas o céu a que me refiro não é aquele para onde quase fui, mas um outro aqui na Terra mesmo.
Nesta quinta feira eu fui a Faxinal do Céu, um centro de treinamento de professores de nível fundamental e médio, uns 80 km para lá de Guarapuava.
Na platéia, 350 alunos. Como os professores do ensino médio e fundamental de 5a a 8a costumam ter algumas centenas de alunos, e os de fundamental de 1a a 4a têm uns 40, fiz uma conta por cima e imaginei que estava falando indiretamente para uns 40.000 alunos.
Na pauta, como sempre, uma hora de Biologia da Conservação.
Antes de mim, falou um velho conhecido, Marcos Sorrentino, que se tornou uma referência nacional em Educação Ambiental, e hoje coordena, de Brasília, uma série de programas interessantes.
Acho que a convergência entre as nossas falas foi menos que uma coincidência. Entre várias outras coisas, ele disse que para melhorarmos nossa cultura, não basta mais conhecimento para nós, mas uma nova cultura. Quando chegou a minha vez de falar, pude contar aos professores como, em uma reunião da FAO em Cidade do México, vi doutores, Ph.D. e similares, todos da área ambiental, de vários pontos da América Latina, jogando copinhos de café e cigarros no chão. Conhecimento, para este povo, não faltava.
Contei também, uma estória interessante do Marcos, dos tempos em que vivia em Piracicaba. Nestes tempos o Marcos era um jovem professor, já preocupado com o conhecimento que as pessoas têm de seu ambiente.
Se alguém reclamava que se perdeu na cidade, já estava o Marcos lembrando a falta que o conhecimento do seu ambiente causa...
Um belo dia, se vendo em dificuldade fisiológica, o jovem professor descobre, um ano depois de morar naquela casa, que havia um banheiro no fundo do quintal.
Contei este caso menos para esculachar um amigo, e mais para dizer que mesmo pessoas com uma longa trajetória ambiental, também têm seus problemas, e que devemos lidar humildemente com eles.
A história serve para muitos ambientalistas arrogantes, que saem por aí colocando o dedo na cara das pessoas e ditando normas. Todos (especialmente nós, urbanóides) têm alguma culpa no cartório, e devemos olhar antes para ela, do que para a dos outros.
Antes de começar minha palestra também contei uma terceira história, esta bem recente. Lá em Faxinal do Céu, depois de tomar meu café, voltei ao meu quarto e vi uma moça arrumando a cama com TODAS as luzes da casa acesa. Eu ia fazer algum comentário com ela, quando lembrei que o meu gasto mensal de gasolina e querosene de aviação dever ser no mínimo dez vezes maior que o dela.
Espero ter provocado os professores com a idéia que a melhor lição que podemos dar aos alunos é o exemplo.
Portanto, apaguei as luzes e fui embora quietinho. Quando voltei, ainda tive o hilário prazer de ver que a luz do quarto ainda acesa. Esta tinha sido a única que não apaguei por que achei que seria muito agressivo ir abrir a janela do quarto onde ela trabalhava.
Um outro ponto alto da minha palestra (para mim, pelo menos) foi poder relacionar os 7 bilhões de habitantes da Terra hoje, e a necessidade de firmarem pactos novos entre si, como a conservação de outras espécies, com a barulheira que alguns professores fizeram na casa ao lado da minha, as 2:30 da manhã. Sete bilhões de pessoas em um planeta exigem novos comportamentos, assim como 350 professores em um espaço exíguo.
A lição que aprendi lá em Faxinal do Céu, é que os professores de níveis fundamental e médio têm, no estado do Paraná, uma condição muito melhor que os professores universitários. E o Governo está certo em fazer assim, já que os professores universitários somos todos uns (sic) descabeçados.
Sobre o Autor
Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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