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Ambientalismo frouxo

por Efraim Rodrigues *
publicado em 20/02/2005.

Há 17 anos, no final de 1988, eu fui assistir a palestra de um líder de seringueiros da Amazônia. Eu ainda morava em Piracicaba-SP, e ninguém conhecia o tal de Chico Mendes que iria falar. Para ser sincero, não lembro muito da fala dele, eu que sempre tinha sido (pelo menos até então) tão preconceituoso com erros de português.

Nem uma semana depois, eu descubro pela TV quem era a despretensiosa figura da palestra.

A morte de Chico Mendes deixou o mundo com uma sensação de "Lavoisier decapitado". Desculpem a referência tão distante, é que nesta semana eu aprendi que Lavoisier, o químico que descobriu a lei da eterna ciclagem dos elementos químicos, foi morto na Guilhotina. Portanto, para mim esta semana foi de triplo pesar. Dorothy Stang, a missionária americana morta no Pará, Lavoisier e a lembrança de Chico Mendes.

Muitas pessoas colocariam a morte do químico francês em uma categoria separada dos outros dois, porque afinal houve uma guilhotina, um júri, e até um juiz, que diante do pedido do químico de ter algum tempo para concluir um trabalho científico (eita projetinho de pesquisa importante..), respondeu que a república não precisava de cientistas.

No entanto, existe intenção na morte dos três igualmente. O descaso com a situação fundiária, e a ausência do estado em áreas de conflito é a guilhotina brasileira. Não tem a determinação e a culpabilidade da guilhotina francesa, onde o tal juiz tinha nome, identidade e residência fixa. Aqui a coisa é brasileira, responsabilidade dividida, que é de todos, mas na verdade não é de ninguém.

Seria fácil culpar a classe política, mas isto cairia no mesmo vazio de colocar a culpa das questões ambientais sempre em um outro alguém.

A verdade pura e simples é que temos pouca presença do estado, com sua máquina de justiça e infra-estrutura cá no sul-maravilha, quase nada no nordeste, e nada no norte, desde o canto lá do Acre onde vivia Chico Mendes, até o Pará, da missionária Dorothy Stang. E isto desde antes dos tempos de Lavoisier até a semana passada.

Se serve de algum consolo, nossa inapetência, descaso e incapacidade de fazer operar nossos próprios desejos, não é exclusividade brasileira.

O outro grande evento desta semana foi a publicação de um ensaio de um antropólogo, Michael Schellemberger, que mostra o aumento do conservadorismo na sociedade americana nos últimos 15 anos. O artigo, "A Morte do Ambientalismo" pode ser baixado de www.thebreakthrough.org.

Sua idéia central é que existe um ambientalismo permeado em toda sociedade, mas que ele não é convicto. Setenta por cento dos americanos se declaram ambientalistas. Mas isto não se expressa na hora de votar. Na hora de votar, é cada um por si e Deus por todos. Ou seja, a ação individual recebe minha atenção, e a coletiva fica ao Deus dará.

O que muitas ONGS não gostaram de ouvir nesta semana, é que Schellemberger afirma que boa parte da culpa é delas, ao manter as mesmas estratégias que não vem dando certo há 20 anos. As centenas de milhões de dólares gastos com prevenção do efeito estufa deram no quê, por exemplo ?

Curiosamente, nesta semana, eu também, pequeno mortal perdido no Norte do Paraná, escrevia para um velho amigo dizendo que as ONGS são organizações muito pequenas para funcionar, que terminam mais preocupadas com a manutenção de seus quadros, do que com a catalisação de mudanças, e que o governo, com seus funcionários concursados, não oferece o estímulo e as condições de trabalho necessárias para operar mudanças.

O caso brasileiro encerra todas as dificuldades do americano, com uma outra preocupação adicional, que é a urgência que todos estes problemas têm para grande parte da população. Para os ricos, ambiente é satisfação, é futuro, é compaixão. Para os pobres, é comida e moradia.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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