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Controvérsia Sem Fim

por José Aloise Bahia *
publicado em 22/01/2005.

Depois de mais de um século a polêmica ainda persiste: quem é o Pai da Aviação? Os franceses não cansam de citar Clement Ader. Em 1890, ele criou um aparelho em forma de um morcego. Espatifou-se, sem ao menos sair do chão. A Alemanha defende Karl Jatho, que teria voado em 1903. Os russos aclamam Nikolas Jonkovski. Também a Inglaterra tem a sua reivindicação: Sir Hiram Stevens Maxim (1894). Entretanto, a controvérsia sem fim é entre o brasileiro, nascido em Minas Gerais, Alberto Santos Dumont (1873-1932) e os irmãos norte-americanos Wilbur e Orville Wright.

No dia 17 de dezembro de 1903, em Kitty Wawk, EUA, os irmãos Wright fizeram o seu primeiro vôo. Não foi um vôo autônomo. A ascensão da aeronave dos americanos foi alavancada por uma catapulta, e contra o vento, para depois conseguir se sustentar no ar. Bem diferente dos métodos de Santos Dumont.

No ano de 1901, Santos Dumont ganhou o prêmio Deutsche de la Meurthe, perante uma comissão do Aeroclube da França, pelo primeiro vôo bem sucedido num balão esférico dirigível. O trajeto foi entre Saint-Claud e a Torre Eiffel. Em 1906, consegue o primeiro recorde e vôo homologado da história da aviação com um aeroplano (avião), um aparelho mais pesado que o ar, ativado por um motor de explosão, o 14-Bis.

Os irmãos Wright não foram a Paris. Pelo contrário, para não perderem a patente, preferiram esconder o feito de 1903. Apareceram somente em 1908, com uma aeronave avançada, reivindicando o título de pioneiros da aviação mundial. Todavia, até o ano de 1910, todos os aparelhos dos irmãos Wright necessitavam de uma imensa catapulta, com vento intenso e uma pista em declive, enquanto o 14-Bis voou em 1906 sem a ajuda de qualquer artifício externo. Em 1907, Santos Dumont cria o Demoiselle, monoplano que pesava 100 Kg e perfazia 90 Km/h. O Demoiselle é considerado o modelo padrão para quase todos os aviões construídos depois.

De acordo com o historiador francês Charles Dollfus, foi Santos Dumont que introduziu a aviação mecânica na Europa, e demonstrou diante do público e especialistas - inclusive o vôo foi filmado, uma das relíquias da história do cinema - a sua descoberta. Efetivamente, Santos Dumont exercitou pela primeira vez na história um vôo integral: conseguiu sair do chão por seus próprios meios, navegou no ar de maneira controlada e pousou. Isto não foi feito pelos irmãos Wright Quem chama a atenção para este fato é o pesquisador brasileiro Henrique Lins. Ele também levanta outra explicação: "Durante a II Guerra Mundial, os EUA necessitavam mobilizar a opinião pública para mostrar que tinham poder para competir com a Luftwaffe, a poderosa força aérea alemã. Então foram desencalhar a façanha dos irmãos Wright e os transformaram em heróis nacionais".

Esta polêmica reina até hoje na história da aviação mundial. Nunca haverá um consenso sobre quem voou primeiro. Porém, um detalhe: o inventor brasileiro Santos Dumont teve suas experiências empíricas catalogadas e registradas, comprovando à ciência, a seriedade dos seus estudos. Atitude científica que não foi tomada pelos norte-americanos, os irmãos Wright. Deixando um rastro de dúvida, transparecendo que o mais importante era registrar a patente, e ter seus nomes na história.

Mais informações: www.mpsnet.net/virtualshop/temaspolemicos.html.

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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