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Mais forte que o tempo

por Maria Cristina Castilho de Andrade *
publicado em 27/12/2004.

Eu sou aquela mulher que fez a escalada
da montanha da vida, removendo
pedras e plantando flores.
(Cora Coralina)

Alguns passos apenas e entramos em 2005. Com ele, vem o novo e a repetição. O repetir, apesar de monótono em alguns instantes, não nos assusta. Chega pleno da ilusão de que o dominamos. O cantor e compositor Toquinho é mais realista, escreveu juntamente com Vinícius, Guido Morra e Maurício Fabrício Aquarela: E ali logo em frente/ A esperar pela gente/ O futuro está (...) Nem tem hora de chegar/ Sem pedir licença/ Muda nossa vida depois convida/ A rir ou chorar.

O novo está, como o que se repete, no futuro, porém nos inquieta. Fazemos ninho, ao longo do ano ou de muitos anos, em alguma árvore que parece mais segura. Há aqueles, no entanto, que não encontram um galho sequer e esticam-se nas sarjetas.

Passam a estações, com suas tempestades, e nossas garras insistem em fixar-se nas palhas do abrigo. De repente, faz-se tempo de vôo e com ele chega o medo da altura, do desconhecido, das pedras das montanhas.

Recolho algumas colocações que me despertaram nestes últimos dias do ano. O professor e escritor português Alves Jana comenta, em artigo, sobre os cinco desejos estruturantes: amor, beleza, serenidade, felicidade e eternidade e os cinco desejos também muito poderosos: poder, prazer, riqueza, saber e glória. Os últimos, segundo Jana, matam os primeiros e, facilmente, são responsáveis pela destruição de pessoas e de povos.

Santiago Kovadloff, escritor e filósofo argentino, que em 1993, lançou o livro O Silêncio Primordial, afirma: Vivemos em tempos em que a consciência da vida como espetáculo derrotou a visão da vida como tarefa. (...) O silêncio primordial pode nos ajudar a ouvir a nós mesmos, e não à publicidade. (...) A fraternidade é mais proclamada do que exercida.

Do poema Flores de Adélia Prado, destaco: O Espírito de Deus pairava sobre as águas.../ Sobre o meu, pairam estas flores/ e sou mais forte que o tempo.

Semana passada, em homilia, nosso Bispo Diocesano, Dom Gil Antônio Moreira, comentou que Maria recebera o Espírito Santo e, ao chegar à casa de Isabel, assim que ela ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou plena do Espírito Santo (cf. Lc 1, 39-45). Ou seja, transmitimos para as pessoas o que levamos.

Desejo a vocês, leitores queridos, em 2005: sementes renovadas na cova das pedras, coragem na hora do vôo, renúncia aos desejos poderosos, opção pelo silêncio primordial, flores pairando sobre sua vida! E como desejo maior, que eu e você possamos ser portadores do Espírito de Deus para nossa gente!

Carinho imenso e obrigada por me ler!

Sobre o Autor

Maria Cristina Castilho de Andrade: Cristina Castilho é professora de Português e agente das Pastorais da Mulher e a Carcerária. No trabalho com mulheres prostituídas e presidiários, circulou e circula pelo submundo, conhecendo sua realidade. Seu livro de crônicas conta a história das pessoas com quem se deparou no submundo do mundo. Escreve semanalmente no Jornal da Cidade de Jundiaí; mensalmente no Suplemento Estilo do Jornal de Jundiaí - Regional e, quinzenalmente, no Jornal de Abrantes - Portugal.

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