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Não existem receitas, e sim reflexões
por José Aloise Bahia
*
publicado em 09/08/2004.
A palavra ética vem de ethos, termo grego que significa a conduta, o caráter ou o comportamento humano conveniente visando atingir uma meta, um bem. Ética é diferente da práxis, que é uma atividade ligada a uma posição e prática política, a qual se diferencia também de arbeit que são as atitudes e o nosso trabalho exercido no dia a dia. Todas, em conjunto, diferem de uma outra, também muito importante, a moral, que deriva do latim moraãlis, e, e se refere ao conjunto de normas livres, conscientes e aceitas que objetivam organizar as relações dos indivíduos na sociedade. A ética é um tipo especial de reflexão interna e pessoal, feita por nós seres humanos, construída na medida em que crescemos e vivenciamos em nossas várias histórias e interações sociais as atitudes, condutas e comportamentos que visam à evolução do comportamento e a re/tomada de determinadas consciências e responsabilidades.
Os princípios de uma nova ética - o termo é do pensador Pietro Ubaldi - para o homem de hoje é um desafio amplo da melhor espécie e qualidade: desejar e escolher um tipo de edificação de caráter neo-humanista. Aqui, não é somente o homem que está no centro do universo. Como bem lembra Leonardo Boff, agora existe também a humanidade e aquilo que a acompanha: a natureza, o ecossistema, a biodiversidade e a nossa mãe Terra. Eis a propensão inegável e vital para despertar uma reflexão diferente e fundamental, criar novos valores, e conclamar a consciência de todos sobre os desmazelos impostos por nós dentro da nossa eterna casa, a Terra. Este é um dos lados macros da discussão ética. Ponto de parada importante, pois sem a Terra nada existe.
Pois bem, voltemos então ao micro. Para o jornalismo, enquanto alimento cotidiano do mundo, prescinde um tipo de ética de responsabilidade e respeito às leis sociais, pautada na liberdade para a reflexão e escolhas pessoais e aquilo que tanto faltam às manchetes, notícias e reportagens, como bem argumentou de maneira objetiva e prática, José de Anchieta: a renovação constante, a invenção do novo, a novidade. Mesmo que os manuais, agenda-setting, critérios de noticiabilidade, valores-notícias, newsmakings, gatekeepers, editores, conselhos editoriais, processos de rotinização e as empresas em seus veículos e "pactos" com os públicos diversos em conjunto com a realidade natural do mundo dos fatos e acontecimentos apontem que a maioria das notícias seja proveniente de catástrofes, escândalos, desgraças, fait divers, roubos, mortes, crimes, aumento dos preços, desvios e infrações devemos arregalar nossos olhos e observar alguma novidade escondida por aí, pois não deixa de ser esta veemente carência, aquilo que nos falta e aflige, o que nos impulsiona. Não para um "furo jornalístico", e sim para o reino da novidade e da esperança. Devemos ficar atentos e perceber a alteridade do outro, como nós sedentos de autonomia e com algo para dizer, em nossas transitações no mundo real e natural - espero que alguns jornalistas estejam à procura deste caminho -, feita no embate dos vários sujeitos com suas histórias e reflexões diurnas e noturnas, em detrimento dos esmagadores "valores maiores", impostos pela moral estabelecida. São nestas passagens que estaremos em condições de privilegiar, retomar e dar forma a incrível e difícil tarefa de construir uma nova ética. Onde o desejo e a liberdade, em seus olhares e significados, possam apontar para a construção efetiva e digna de um tipo de informação que privilegie uma cidadania mais inclusiva e participativa de todos, independente de raça, credo religioso, partido político, sexo, etc., extensível a nossa classe: a de jornalistas plenos em sua vocação na construção de um mundo melhor. Fica o desafio para a categoria em sua vontade incessante de afirmação e evolução em suas práticas, encontros e convívios na cidade, no campo, no trabalho e na família. Mesmo com o deadline e o corre-corre do cotidiano devemos reinventar o mundo através da reflexão ética. Não existem receitas para esta época "pós-utópica" - a expressão é do poeta Haroldo de Campos -, e sim um desejo e necessidade de reflexão, sem a qual estaríamos mais perdidos que as balas nefastas que perambulam pelos morros e a cidade, e nos deixam meio envergonhados, com uma sensação estranha e visceral de que nada vale à pena.
Sobre o Autor
José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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