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Louvor ao Chapadão do Brasil Central

por .::. Verdes Trigos Cultural .::. *
publicado em 22/02/2003.


"Esses moços, pobres moços, Ah! se soubessem o que eu sei..." Lupicínio Rodrigues.

Alto Paraíso, uma pequena cidade no coração do chapadão do Brasil Central, sua população não passa dos dez mil habitantes. Um lugar totalmente diferente do que estamos acostumados a viver. Calor e muita poeira. A viagem começa em Brasília, que está a 230 km. De carro, deve-se seguir em direção a Planaltina pela BR 020, depois pela GO 118. Em menos de três horas, estamos em plena Chapada dos Veadeiros.

Na chapada, à primeira vista, tudo parece áspero, árido e agressivo, um mato ralo e rasteiro, arbustos de galhos retorcidos que formam estranhas figuras e muita poeira. A paisagem, num rápido olhar, parece homogênea, sem qualquer atrativo. Todavia, de repente, caminhando por suas trilhas, a paisagem vai se descortinando em campos floridos, cachoeiras deslumbrantes, piscinas encantadoras, canyons profundos, montanhas majestosas e corredeiras refrescantes. É de tirar o fôlego!

A chapada é intrigante e instigante. De longe ou por uma foto aérea não se vê sua essência. Os seus mistérios e sua essência somente são relevados a quem se dispõe a penetrar fundo em suas entranhas e a caminhar por suas trilhas insinuantes. Foi assim que me senti ao desbravar os cerrados da chapada: desbravando os seus mistérios e os seus encantos. Paragens inebriantes e aventuras cheias de intenso prazer.

Em verdade, se a Chapada dos Veadeiros não foi o local em que estava situado o paraíso em que Adão pecou, é, por certo, um pedacinho do céu que o Criador cortou de seu imenso palácio e pregou em pleno coração do Brasil. Por todos os cantos da chapada, as paredes de rocha escondem cachoeiras e vales de beleza única. São centenas de quedas d´água que formam lagos cristalinos cercados por rochas pré-históricas. Parece que estamos vendo o lugar onde se iniciou a criação. No vale do Rio Preto, dá até para imaginar que ali existiu dinossauros e outros bichos pré-históricos.

Patrocinado pela Volkswagen, na Promoção Parati Pé na Estrada, www.paratipenaestrada.com.br, estávamos eu e minha mulher fazendo um roteiro que é rota obrigatória para quem gosta de lugares selvagens e inexplorados. E lá estivemos nós, que nunca tínhamos praticado qualquer tipo de esportes radicais e nem a eles somos adeptos, praticando rapel, na verdade um cascading, na Cachoeira de Almécegas I, canyoning no rio Macaquinho, Trekking para o vale do Rio Preto (uma caminhada de 12 km pelo interior do Parque Nacional), como se fôssemos veteranos aventureiros.

Vivemos uma semana de emoções fortes, cercados por belezas naturais. Trocamos a roupa social, terno e gravata, por uma roupa despojada, totalmente apropriada para as aventuras que nos esperavam.
Henrique e Alessandra na Chapada dos Veadeiros

Rapel.


VALE DA LUA

Se o céu da Chapada dos Veadeiros nos presenteia com imagens de cinema, é no chão que o espetáculo se completa. Ali, é possível apreciar a mais perfeita integração entre os elementos mais básicos da natureza. O Vale da Lua, formado por rochas de origem vulcânica, apresenta um cenário esculpido pelas águas que nos intriga e nos encanta, sendo um exemplo exuberante dessa combinação de rochas e água.

O mais fascinante é a formação rochosa existente no Vale da Lua, que protege inúmeros segredos e revela indícios sobre a história do planeta. A Chapada dos Veadeiros é constituída por rochas do pré-cambriano que guardam parentesco com as rochas descobertas nas terras altas de outros continentes, indicando que um dia os cinco continentes foram um só. As formações rochosas peculiares dão um toque surreal à paisagem.

No Vale da Lua é possível interagir com a natureza, especialmente quando se ingressa no interior das cavernas existentes nas formações rochosas e passa fazer companhia às jararacas que descansam sob a sombra de uma pedra, que não sendo provocadas, apenas dormem e não chegam a representar qualquer perigo. No Vale da Lua é possível banhar-se numa piscina natural de águas transparentes, sempre a nos convidar a um banho relaxante.

PARQUE NACIONAL.

O objetivo do parque é garantir a proteção integral da flora e da fauna silvestres, dos solos, das águas e das belezas cênicas, para fins científicos, educacionais, recreativos e culturais. A entrada no parque é somente permitida com acompanhamento de um guia devidamente treinado. Lá estivemos assessorados pelo guia David, da Travessia, www.travessia.tur.br, que, como outros, um dia saiu de São Paulo e apaixonou-se pela chapada e lá se tornou guia turístico, praticador de rapel, canyoning e outros esportes radicais. Em Alto Paraíso, gente como David existe às centenas.

O principal rio que corta o parque é o Rio Preto, afluente do Rio Tocantins, que comporta belíssimas cachoeiras, com inúmeros córregos, ribeirões afluentes e onde se localizam os principais atrativos do parque.

Existem várias razões para que a Chapada dos Veadeiros, no Estado de Goiás, região mais alta de todo o Planalto Central, seja considerado pelos ambientalistas como o berço das águas e pelos místicos como berço do novo milênio: a energia dos seus cristais e as centenas de nascentes; a maior concentração de áreas úmidas do cerrado brasileiro; a diversidade e mistura de culturas e raças; o grande número de grupos místicos e terapias holísticas em relação ao total da população; os diferentes projetos pilotos implementados por diversas agências governamentais e não governamentais, todas trabalhando em busca de um desenvolvimento sustentável.

Praticamos um trekking de 12 quilômetros pelo interior do Parque Nacional. No caminho, paradas estratégicas em mirantes que proporcionam belíssimos panoramas do Salto II do Rio Preto e do cânion do mesmo rio. No Salto I, após um lanche de frutas e sanduíches naturais, um rápido mergulho nas águas geladas do rio antes de prosseguir até a próxima atração: as corredeiras do Rio Preto. Neste local, as cachoeiras formam piscinas naturais bem rasas, com água forte e sob muita pressão, criando uma hidromassagem natural perfeita. Após horas de caminhada, por volta das 17 horas, nada melhor que um almoço de comida caseira com tempero típico do cerrado, molho de pequi. Na casa da Dona Nenzinha, cozinheira famosa em São Jorge (distrito de Alto Paraíso, na entrada do Parque), é possível degustar diversos pratos deliciosos e típicos do cerrado, em companhia de inúmeros aventureiros vindo de várias partes do mundo, alemães, ingleses ou americanos.

RAPEL NA ALMÉCEGAS I

Jamais imaginamos em nossas vidas um dia praticar rapel, um cascading numa cachoeira de aproximadamente 50 metros de altura. Devidamente instruídos por Íon Davi, David e Ignácio, superamos o medo, ganhamos segurança interna, certos da segurança do esporte, descemos a cachoeira. Embaixo nos aguardava a fotógrafa Louise Chin, que foi a primeira a tomar os nossos emocionantes depoimentos; e em razão da total ausência de palavras, poderíamos ter dito, se tais expressões pertencessem ao nosso vocabulário, que a descida foi um "show de bola", "dez", "muito massa".

Empresas gastam fortunas em recursos humanos utilizando-se de métodos sem nexo (li no jornal que as empresas contratam agências de recursos humanos que aplicam treinamentos totalmente malucos), pois gastariam muito menos se soubessem utilizar os recursos naturais existentes no Brasil. Com 42 anos de idade, nunca havia praticado rapel, canyoning, cascading ou trekking, no entanto, superei todas as minhas próprias expectativas, venci todos os desafios propostos e adquiri segurança interna para ser um vencedor. Venci desafios e, por certo, sempre os vencerei. Pude experimentar, em harmonia com a natureza, o melhor treinamento do qual já participei e a empresa a qual estou ligado por ele nada pagou. E se tivesse pago, o custo seria muito inferior àqueles gastos com treinamentos contratados a peso de ouro.

Uma dica às empresas: treinamento para motivação, objetivando vencer desafios e metas, vencer o medo, inclusive de morrer, pode e deve ser realizado na Chapada dos Veadeiros.

Na cachoeira de Almécegas I, recebemos as instruções do guia Íon Davi, rapeleiro de fama internacional, e nos equipamos com todo o material de proteção, incluindo capacetes, luvas e coletes salva-vidas, e nos preparamos para encarar a descida. Foram momentos de emoções fortes, e que, por certo, será lembrado como um dos pontos altos da viagem. A descida do lado do fluxo d´água permite que se entre dentro da cachoeira, ficando por vezes totalmente coberto pelas águas, enquanto vários arco-íris se formam durante a descida. O cascading termina em uma piscina natural, onde se inicia um cânion de rochas estreitas. Depois de tanta emoção, nada como mais um mergulho para relaxar. A adrenalina é tamanha, que nos empolgamos e Alessandra, minha mulher, adquiriu coragem e saltou de uma altura de quatro metros em uma piscina natural na Cachoeira Almécegas II.

RIO MACAQUINHO

A próxima atividade era um canyoning no Rio Macaquinho. A aventura começa com o deslocamento até o vale do Rio Macaquinho. Uma estrada de terra em condições precárias, com muitas pedras soltas, erosões e crateras enormes, exigiu toda a perícia do motorista para conseguir conduzir o veículo até o início do trekking. Deixa-se o veículo as margens do caminho e pé na estrada até chegar ao Santuário das Pedras, propriedade de Fausto Melo - outra figura do lugar, que nos contou como Deus lhe mostrou o caminho desse paraíso e sua missão de proteger o local. Fausto leva sua missão a sério, é um desbravador do cerrado, trabalha com educação ambiental, é um dos guias mais velhos da chapada.

O Macaquinho é um local totalmente inexplorado, com paredes formando corredores que impressionam, ainda mais por causa da água, que desce com tudo. Foi estabelecido como rota de rapeleiros pelo Fausto, Íon e David, no ano passado, e já está agendado para junho um grupo de sessenta ingleses aventureiros que serão recepcionados por Íon e Fausto, lá no Santuário das Pedras.

Já no rio, o rapel, muito técnico, passando por dentro de um anel de rocha esculpido pela força das águas, é o ponto alto do canyoning. A força e o volume das águas são enormes, o que dificulta a visualização da via, e aumenta exponencialmente o grau de adrenalina dos participantes. Começa na cachoeira do anel, que tem esse nome devido a um furo que a água cavou na pedra, criado a forma de uma anel e por ele se atravessa e desce por sua garganta uns 100 metros abaixo.

O cânion do Rio Macaquinho é de uma beleza singular. Estreito, sinuoso e profundo. Utilizando técnicas verticais, progredimos pelo cânion do rio até a hora de voltar. Descer o rio não foi fácil, mas subir pelo mesmo caminho seria impossível. Hora de pegar uma trilha até uma piscina natural para mais um mergulho antes de enfrentar a estrada precária de volta para Alto Paraíso. No caminho, uma parada em uma fazenda local para saborear uma galinha caipira deliciosa. Dois moradores locais, nativos do distrito de Bandeiras, muito simpáticos, aproveitaram nossa passagem para pedir uma carona até a cidade, e nos divertiram muito contando "causos" da região, como encontros com onças e cascavéis. Chico Preto, de aproximadamente oitenta anos, garantiu-nos que matou onça no facão, após laçá-la e amarrá-la num tronco. Que o IBAMA não ouça seus "causos", Chico Preto.

ECOTURISMO

O povo da chapada tem investido no ecoturismo. Os fazendeiros estão investindo em infra-estrutura e utilizando-se dos recursos naturais de suas propriedades os colocam à disposição dos turistas. É um Brasil que o Brasil não conhece, e, infelizmente, os estrangeiros talvez conheçam melhor do que nós; alguns até adquirindo propriedades, instalando restaurantes, pousadas e hotéis.

Hoje é possível comprar fazendas por R$ 500,00 o hectare. Caso nela tenha uma cachoeira ou uma vocação ecoturística, o preço é outro. Vi anúncio no jornal local da venda de 20 alqueires goianos (que é o dobro do alqueire paulista), localizados a nove quilômetros de Alto Paraíso, com cachoeiras e piscinas naturais pela bagatela de R$ 62.000,00. Já em São João da Aliança, 50 km ao sul, as terras são agriculturáveis e os gaúchos lá plantam soja e garantem que a produção chega a 60 sacas por hectare.

Texto: Henrique Chagas
Fotos: Ignácio Aronovich e Louise Chin


* HENRIQUE CHAGAS é procurador da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, lotado em Presidente Prudente/SP . É Professor de Direito Internacional Público e Privado na Faculdade de Ciências Jurídicas da UNOESTE. É diretor e mantenedor da VERDES TRIGOS CULTURAL (http://www.verdestrigos.com.br).


. . . . SERVIÇO

. . . . Como chegar?

. . . .O ponto de referência é Brasília/DF, que está a 230 km. Se for de carro, seguir em direção a Planaltina pela BR 020. Depois, pegar a GO 118 até Alto Paraíso. Outra opção, armar este translado com própria operadora ou locar um carro, ou ainda, ir de ônibus para Alto Paraíso.

. . . . Onde ficar?

. . . . Pousada Alfa e Ômega (www.veadeiros.com.br).
. . . . 0800 64 41 007 e (62)446.1225 - Luis Paulo

. . . . Portal da Chapada - camping (www.portaldachapada.com.br)
. . . . (62) 9669 2604

........Pousada Jardim do Eden (www.pousadajardimdoeden.com.br)
........Telefone (62)446-1395 Lucia Helena

. . . . Operadora de Turismo Local.

. . . . TRAVESSIA ECOTURISMO (www.travessia.tur.br)
. . . . Operadora dos aventureiros Íon Davi e Fausto Melo.
. . . . (62) 446.1595 - com roteiros adequados ao seu perfil.


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