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Good guy, bad guy

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 12/12/2007.

"Naqueles clássicos westerns de antigamente", o Alan me explica, "era muito simples saber quem era bom, quem era mau, quem era mocinho, quem era bandido: bastava olhar a cor do chapéu." Como o próprio cinema da época, a realidade da vida era bem preto no branco, e todo mundo sabia o que era certo: aprendia em casa, na mesa do jantar com pai e mãe. Não mais. Estamos num período de convulsão generalizada de conceitos e, por mais que eu pense, tenho tido a maior dificuldade em manter firme uma opinião. Principalmente quando expresso a tal da opinião online, e sou logo contestada por uma enxurrada de comentários maldosos. É claro que me sinto mal com isso, vocês entendem. Me acostumei desde criancinha a ser criticada, considerada estúpida, e a fazer do comentário inteligente e inusitado uma arma de auto-defesa, usando a ironia como munição. Em outras palavras: a estabelecer uma relação dúbia com o comentário alheio, de amor e ódio misturados, quase sempre um vício, um veneno para o bem-estar.

O que me faz oscilar: em poucas horas posso ser inteligente e burra, esclarecida e ignorante, brilhante e idiota, liberal e preconceituosa, iludida e realista, informada e por fora de tudo. Não é à toa que às vezes termino o dia com uma tremenda dor de cabeça, e nos dois últimos, me acreditem, não houve analgésico que desse jeito nela.

A exibição exacerbada, que a sociedade conectada nos permite, nada mais é que uma lente de aumento sobre comportamentos que sempre existiram, mas nunca como hoje, claro, estiveram tão óbvios. Imaginem então o efeito de microscópio que a mídia exerce sobre o cotidiano, mais ou menos como aquele farol possante que varre à noite o território de uma prisão: expõe e confunde o prisioneiro em fuga. Com uma diferença: nessa prisão virtual que é o moderno desejo de notoriedade, ninguém quer realmente fugir, mas sim, ser exposto. Mesmo que isso resulte em alguma confusão. Falem mal. Mas falem de mim.

A mídia é voraz, sim, mas por outro lado, estamos sempre prontos a ser engolidos, mastigados, digeridos. Ou pior: nunca estamos prontos. Eu, pelo menos, descobri que não estou, e a única conclusão que estou apta a oferecer, em meu diálogo diário com o leitor, é a noção ampliada da minha própria ignorância. Já é alguma coisa. Pelo menos não finjo ser dona de nenhuma verdade e reconheço que a verdade muda, a certeza oscila, a insegurança impera. A não ser naquele pontinho insignificante, naquele momento ampliado e eternizado pela publicação, e que um instante depois de comunicado já não pode ser cancelado e fica ali, congelado e estéril e disfarçado de verdade absoluta.

O resultado de tudo isso eu espero que seja, eu gostaria que fosse, um estado permanente de debate e uma tolerância maior com o estado de perplexidade alheia.

Vivi tudo isso na carne esta semana, quando tive meu tão ansiado - e duramente batalhado - momento de celebridade. Infelizmente, pelos motivos errados. Não sei se agi corretamente, segundo os meus princípios, já que meus princípios foram desafiados durante o desenrolar do drama, da trama exposta, inicialmente, por um breve texto enviado por email que nem sequer atingiu seu objetivo maior: ser publicado em alguma cobiçada página de jornal, que afinal de contas, é o sonho de todo cronista. Mas me engano, erro mais uma vez. O texto atingiu, sim, e como!, seu objetivo maior, mesmo sem minha vaidosa assinatura: expor o estado de vulnerabilidade em que vivemos. E se meus excessos, ilusões e fantasias atropelaram, em algum momento, a pureza ideológica desta denúncia, peço desculpas, ou melhor: não devo desculpas a ninguém. Sou apenas um ser humano oscilando ao sabor ácido de suas incertezas, sustentado por uma certeza maior ainda: a mudança é a única constante, um clichê filosófico tão disseminado que buscando no google foi impossível encontrar sua origem.

Nestes últimos dias, falhei miseravelmente em apontar os vilões e os heróis do cotidiano, numa dúvida estúpida sobre quem é mais importante na defesa de nossos valores, e porque não dizer, da própria vida: a mídia ou a polícia. Pra falar a (minha e temporária) verdade, o chapéu tem mudado de cor, e de cabeça, com uma freqüência atordoante.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.

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