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Uma questão de linguagem
por Noga Lubicz Sklar
*
publicado em 17/10/2007.
"É inevitável comparar Mônica Veloso a Monica Lewinsky — esta, sim, que, no mais catastrófico blowjob da História, mudou o mundo", afirma Arnaldo Jabor em sua crônica de hoje. Eu entendo o que ele sente. Parece bem mais aceitável usar em público o americano blowjob que o nosso desgastado, mais que vulgar, boquete. Passei por enormes crises morais enquanto traduzia, do diálogo original em inglês, os termos altamente éroticos do Hierosgamos. Ao mesmo tempo fui me dessensibilizando, encarando as palavras picantes como apenas normais, parte da vida adulta. E desde então, tenho advogado isso. Acontece muito em filmes na tevê: o excesso de moralismo atravanca a linguagem do legendador, transformando "cunts" pops em pomposas "vaginas", e chulos "dicks" ou "cocks" em "pênis" ridiculamente anatômicos, desvirtuando completamente o tom original do texto, soando falso e afastando o leitor do clima desejado pelo autor do script.
Que sentido existe em acostumar o ouvido e a mente a absurdos? Em descolar o sentido clássico de uma palavra de seu ofensivo equivalente em atos? Trata-se de chocar para relaxar? Integrar? Já citei aqui no blog, faz poucos dias, o tipo de humor cortante praticado por George Carlin. Curiosamente está no ar, na HBO, um filme emblemático disso tudo que quero abordar: o escandalosamente incorreto e hilariante "Os Aristocratas". Trata-se de uma piada clássica, crassíssima, contada em diferentes versões por vários cômicos dos Estados Unidos. "Sem nudez; sem violência; e incrivelmente obsceno", alerta a sinopse do filme no site do canal. Para mim também aquilo tudo parece absurdo, incompreensível, até mesmo gratuito e inaceitável, mas o Alan vem em meu socorro, e explica como este tipo de humor pode contribuir para a prática da liberdade e da democracia. Através do riso, da exploração teórica do absurdo, alargamos os limites da rigidez moral e ao mesmo tempo provamos que as situações ali expostas são, sim, absurdas, desnecessárias, impraticáveis na vida real por seu próprio ridículo. A palavra e o discurso restam, porém, absolutamente livres e sem fronteiras ou controles, algo inadmissível em regimes autoritários ou ambientes rigidamente controlados, tendendo à eventual explosão. Vai lá e vê o filme pra entender como é. Foi candidato ao melhor documentário em Sundance.
E por falar em linguagem, em transparência. Não entendi nadinha da teoria de mercado que deu o Nobel de economia ao simpático velhinho de 90 anos, um sobrevivente do comunismo cagando regras capitalistas, quem diria. Mas do que entendi, uma prática se destaca: o uso da verdade. "Se os envolvidos em uma negociação dissessem a verdade, isto resultaria em eficiência de mercado", não é interessante? Transparência, gente, transparência. Estou com ela e não abro, e graças a Deus, até no Brasil a prática vai se infiltrando: uma amiga minha comentou outro dia, meio a contragosto — sem querer dar força para o atual governo — a crescente transparência do Ministério da Cultura sob a batuta de Gilberto Gil. Agora que estou me metendo, com o projeto dos MeMo´s, pelos meandros obscuros da produção cultural, saber disso me dá um certo alívio. "Seja clara e verdadeira", recomenda Carol. "É o que funciona melhor no MinC pra conseguir o que você deseja". Ufa. Ainda bem. Falar a verdade sem papas (e empoladas) na língua é comigo mesmo.
E por falar em linguagem e no seu bom entendimento, surge, não sei bem como — e pra reforçar meu mantra atual: existe vida literária inteligente no universo online das conexões globais — um crítico literário na praça, correndo por fora mas já em ritmo de pole position. Trata-se do jornalista Nelson Vasconcelos, que aparece no Globo de hoje — numa crônica deliciosa sobre o último livro de Günter Grass, "Nas peles da cebola" — com seu estilo inédito de resenha: acessível, charmoso e direto, dá-lhe Nelson. Faz bem o meu estilo este seu novo lado de resenhista, um sopro renovador no território rígido e sufocado de normas que é o das resenhas literárias, oba. Alguns dirão que esse parágrafo não tem nada a ver com o resto do texto. Pode até ser, mas ajuda a entender o bem que faz a verdade, a transparência, e a comunicação despretensiosa de uma idéia.
Pode parecer que não, gente. Mas estamos crescendo. Estamos crescendo. E eu, por meu lado — já deu pra perceber —, encontrei um triplo antídoto para a frustração, que fatalmente, se não combatida, desemboca em depressão: ação; ousadia; renovação. Como a linguagem e o comportamento, pra gente crescer é preciso, a todo instante, reinventar-se: o ex-fracassado Al Gore que o diga. E por favor: sem falso pudor, falou, Jabor?
Sobre o Autor
Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.
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