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Corpo Extenso

por Pablo Morenno *
publicado em 27/06/2007.

O automóvel é a extensão de teu corpo. Foi o que disse meu instrutor de direção na primeira aula, contrariando minhas lições de Ciências: “O corpo é formado de tronco, cabeça e membros”. A qualidade da parte extensa depende da índole do sujeito possuidor do principal. Tenho verificado, nestes catorze anos de motorista, a verdade do aforismo. Para alguns o carro é extensão de seu ódio, para outros de sua gentileza. Com essa extensão do corpo (e da alma) andamos por aí matando ou salvando. Mais matando que salvando.

O automóvel tornou-se mais importante que a casa. Há muitos com carro de luxo e morando de aluguel. Não é fácil levar a casa para as festas, para o trabalho, para um encontro de amigos. Difícil ostentar suas torneiras de ouro, os azulejos importados, ou o mármore italiano da pia da cozinha. Demonstrar para amigos e garotas que somos poderosos, ricos, bem sucedidos e um sucesso, é uma necessidade de vida ou morte. Colegas se impressionam mais com um carro de alto padrão do que com nossa felicidade no amor. Garotas, em geral, são atraídas preponderantemente por uma BMW que por nossa futura capacidade de ser um bom pai de seus filhos. Para quem duvida, proponho um teste: saia para as baladas com um Fiat 147, vestido modicamente, e leve consigo um projeto escrito de como você pretende na vida ser um sujeito ético e decente. Depois repita a balada, em modelitos fashion, sem projeto nenhum, mas alugue uma BMW e diga que é sua. Feita a experiência, avalie o resultado e me contrarie com provas.

Por essas e outras, a iniciativa do Vaticano em publicar os dez mandamentos do motorista é oportuna. Antes tarde do que nunca. Neste mundo de automóveis fáceis, exercer o amor ao próximo no volante é maior imperativo. Mais atual que não pecar contra a castidade, honrar pai e mãe, ou não furtar. Está praticamente impossível ser casto numa sociedade sexualizada e é tempo de pais e mães de escassa honra. Deixar de afanar nestes tempos - quando, em qualquer um dos poderes do Estado, encontram-se representantes dispostos a transformar Ali Babá e seus comparsas em Franciscos de Assis – tornou-se conduta altamente suspeita.

O documento católico tem razão. Muitas pessoas aguçam o instinto de domínio, prepotência e poder quando dirigem, e o automóvel é usado como objeto de ostentação para ofuscar os demais e suscitar invejas. O texto também denuncia comportamentos pecaminosos em muitos motoristas, como a falta de cortesia, gestos ofensivos, discussões, blasfêmias, perdas do senso de responsabilidade e violação deliberada do código de circulação. Relembra que no século XX cerca de 35 milhões de pessoas morreram em acidentes de trânsito. Os feridos totalizaram 1,5 bilhão. Em 2000, os mortos foram 1,26 milhão.

A Tábua de Moisés para os motoristas:

1 - “Não matarás"; 2- “A estrada seja para ti um instrumento de comunhão entre as pessoas e não de dano mortal"; 3- “Cortesia, correção e prudência te ajudam a superar os imprevistos”. 4- “Seja caridoso e ajude o próximo na necessidade, especialmente se for vítima de um acidente"; 5- “Que o automóvel não seja para ti expressão de poder e domínio e ocasião de pecado”. 6-”Convença com caridade os jovens e os que já não o são para que não dirijam sem condições de fazê-lo"; 7- “Preste apoio às famílias das vítimas dos acidentes”; 8- “Reúna a vítima com um motorista agressor em um momento oportuno para que possam viver a experiência libertadora do perdão”. 9- “Na estrada, guie o mais fraco”; 10 - “Sinta-se responsável pelos demais”.

Meu instrutor de direção esqueceu de me dizer ou, talvez, eu não estivesse muito atento. Além de extensão de nosso corpo, o automóvel é, sobretudo, extensão da nossa consciência.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

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