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Educação Bancária, Pedagogia Libertária e a famosa World Wide Web
por Ademir Pascale Cardoso
*
publicado em 09/06/2007.
Tomei a liberdade das reticências soltas para uma pequena divagação.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Retornando a questão: "Educação Bancária ou Pedagogia Libertária?". - Porém, antes de inferir esta intrincada e lastimosa questão, contarei uma pequena experiência vivida por mim há poucos dias atrás.
Pensativo, como sempre, no rijo caminho entre lar e trabalho, refletia sobre alguns lamentosos ocorridos. - Trabalho em uma entidade carente de segunda à sexta-feira, das 9h às 13h, ministrando aulas de introdução a informática para jovens carentes em uma pobre região da periferia de São Paulo e, pude observar cautelosamente o aprendizado das crianças e adolescentes de 9 a 16 anos. - Nestas aulas, em momentos de descontração, notei que "todos" os alunos, infalivelmente e sem exceções, acessavam os mesmos canais: "orkut, msn e sites de jogos" e, isso vale também para os adultos, pois além de ministrar aulas de informática, também oriento adultos para esta grande rede, intitulada "world wide web" que, abre caminhos, rompe fronteiras, mas, os interessados em se aventurarem nesta viagem, ainda são poucos, os demais preferem a limitação dos mesmos canais de diversão.
Depois de refletir, observar e conversar com as crianças e adolescentes, compreendi e cheguei ao “x” da questão sobre o interesse nos mesmos canais. Este mundo virtual, ainda é algo novo para pessoas da periferia de baixa-renda e, a diversão neste novo mundo é escassa, pois as crianças de hoje não sabem se divertir como no tempo de minha infância... ainda lembro, como se fosse hoje os campeonatos de jogo de botão e bafo, sinto-me feliz ao lembrar das brincadeiras de queimada, esconde-esconde e cabra-cega, mas, percebi que hoje isso é algo instinto, são apenas lembranças...
Um dia, fiquei dez minutos observando os jovens alunos e, percebi que alguns não tinham o hábito de piscar os olhos na frente do monitor e, que Deus me perdoe, mas pareciam com zumbis. - Até então, em um lindo dia, dei uma pesquisa de livre escolha para as crianças. Escrevi na lousa os seguintes temas abaixo:
- Biografia de Maurício de Souza
- Aquecimento Global
- Dia do Índio
- Harry Potter
- Inclusão digital
Queria observar os erros de português, caligrafia e, principalmente, a criatividade destes alunos que variavam de 9 a 16 anos de idade. - Bom, até que gostei da escolha da maioria, afinal, a criadora do bruxinho Harry Potter, Joanne Kathleen Rowling, foi a autora que despertou a leitura nas crianças do século 20 e 21, mas, naquele caso, não era bem isso, pois os pais dessas crianças não tinham dinheiro para pagar 30 ou 40 reais em um livro de Harry Potter. Neste caso, o fato da escolha foi apenas a divindade que a personagem gerava perante essas crianças, que talvez ficaram sabendo de sua existência em longa-metragens reprisados na sessão da tarde, ou mesmo em boatos na escola, daqueles "um pouco" mais afortunados, então neste caso, não fiquei "mais" tão feliz.
Duas crianças escreveram sobre o dia do índio, acredito que porque seus avós eram indígenas. Uma criança escreveu sobre o excelente Maurício de Souza e, acredito que ela tenha se lembrado que foi ele quem criou a Turma da Mônica. A última criança, escreveu sobre o "tão falado" Aquecimento Global e, fiquei sabendo que o fez, porque o professor de português de sua escola, tinha pedido esta pesquisa. - Ninguém escreveu ou se interessou na inclusão digital, talvez porque eu não tenha deixado dúvidas referente a importância desta inclusão que, ao final deste artigo, concluirei minha idéia.
Observei que alguns alunos, apenas copiavam os textos dos sites sobre o tema escolhido e, alertei para que não o fizessem, e sim, para que lessem e "entendessem" o texto e depois com suas próprias palavras, escrevessem na folha - queria ver a visão de mundo de cada um, a interpretação do texto, mas, aquele dia que começou belo, naquele momento, se tornou em trevas. - Alguns desenhavam as palavras, não sabiam o que estavam escrevendo, apenas copiavam o texto e, uma destas crianças, estava na 6º série do ensino fundamental e, meu Deus, diga, como essa criança conseguiu chegar a “6º série" sem ao menos conseguir formular uma misera frase, apenas desenhando as palavras sem o mínimo de entendimento?
As outras crianças, apresentavam erros tão grotescos, que fechei os olhos por alguns momentos e pedi a Deus que aquilo não fosse verdade, mas, ao abri-los novamente, percebi que não era um pesadelo, era real... Por que, Deus, não ouvistes minhas preces? - Uma criança escreveu que "estava adorandu o curço", outra "isplicou" que o "Aquecimento Global" era algo relacionado ao chuveiro de sua casa - por mais que me esforcei, este não consegui entender. *(sei que uma boa porcentagem do Aquecimento Global é devido a queima de carvão mineral para gerar a energia elétrica, mas a criança não fez nenhuma associação referente a este caso).
Não estou julgando as crianças, mas sim, seus mestres que não tornaram a leitura um hábito. Mestres que "não pegam no pé" do aluno ao notarem tais erros. Mestres que não incentivam, que não explicam, que não abrem as portas do aprendizado e, acham que a "pedagogia libertária" é deixar o aluno fazer o que quiser, pronunciar e escrever como quiser... - É, essa deve ser a tal pedagogia libertária. Paulo Freire deve nos olhar das nuvens com tristeza, não sabendo que raios de pedagogos são esses... - Para complementar o que acabei de escrever, no dia seguinte desta lastimosa experiência, perguntei para um aluno, que horas ele ia para a aula e ele me disse: "às zuma". – Eu disse educadamente para ele que, o correto seria dizer “às 13 horas”, mas este disse que tanto faz, pois um dia disse isso a sua professora e ela não deu a mínima atenção, não o corrigiu.
Voltando a pé, com passos curtos e de cabeça baixa, no mesmo rijo caminho entre trabalho e lar, algo me fez parar e levantar a cabeça. Era o som de algumas crianças brincando em um campinho, próximo de um sujo córrego. Não sei dizer qual modalidade era, mas estavam brincando com bolinhas de gude e, lembrei de minha infância, dos anos 80s, quando ainda nem sonhava com a tal internet. Lembrei dos livros que lia antes de dormir de Daniel Defoe, Miguel de Cervantes, George Orwell e do brasileiro, Marcos Rey (Clique aqui e veja os livros do autor Marcos Rey). Com perfeição, lembrei de quando assistia pela manhã ao Daniel Azulay e suas interessantes oficinas de desenho e criativas brincadeiras... também lembrei da educação bancária que, mesmo sendo imposta pelos rígidos mestres, aprendia a ler e a escrever e, sabia pelo menos formular opiniões e uma boa história, pois sempre que a fazia, minha professora de português mandava ir à frente da lousa e a ler em voz alta, o que me trazia constrangimentos, pois era e, ainda sou, muito tímido.
Quando eu era mais jovem, perdia horas na biblioteca da pracinha do Campo Limpo, procurando livros para minhas pesquisas. - Hoje, as crianças pesquisam na internet, simplesmente digitando o título da pesquisa em um site de busca e ao achar o site com o referente tema, simplesmente usam o comando: Ctrl + C, Crtl + V e, jogam em um editor de texto e mandam imprimir com seus nomes ao final da falsa pesquisa e nem sabem sobre o que se tratava o assunto da mesma. - Um dia perguntei para uma destas crianças se o professor aceitava esse tipo de pesquisa e ela falou que sim, que sempre aceitava.
Sei muito bem da importância da internet, da rapidez na informação e da liberdade de expressão, mas, se não existir alguém que mostre o caminho certo e que auxilie corretamente os jovens, pode ter certeza que de nada adiantará essa "grande" tecnologia e, no futuro, não saberia dizer se ela continuaria a se desenvolver com tanta velocidade, afinal, quem continuaria criando e desenvolvendo programas e benefícios na grande rede, se esses adultos do futuro, aprenderam no passado simplesmente a usar o comando Ctrl + C, Crtl + V nas pesquisas escolares?.
Os pais deveriam incentivar mais os filhos e, mesmo sabendo que os livros são caros, ainda existem as bibliotecas públicas e, lá as crianças poderão ler gratuitamente. Os professores, deveriam pensar mais no futuro, afinal, quem os construirá se eles não estão interessados em ensinar corretamente? Se o salário está baixo e que não compensa lecionar, me desculpe, mas que arrumem outra profissão, afinal de contas, lidam com seres-humanos e com a educação, constroem o futuro da humanidade e, precisam principalmente, ter paixão pelo que fazem.
Hoje, não ministro aulas apenas de introdução a informática. Abro as portas para o conhecimento, mostro sites interessantes, criativos e informativos e, às vezes, sorteio alguns livros ao final da aula, como uma forma de incentivo para aqueles que se destacaram e, mesmo os que não se destacaram, ganham também alguma coisa, como uma revistinha em quadrinhos.
“Saudações para a internet e ao glorioso Paulo Freire, Daniel Defoe, Miguel de Cervantes, George Orwell, Marcos Rey, Daniel Azulay, Maurício de Souza, Harry Potter e Joanne Kathleen Rowling e, viva a verdadeira Pedagogia Libertária. - Abra os olhos para o futuro da humanidade e impeça que as crianças virem zumbis do sistema”.
Hoje, convivo com a pedagogia libertária, mas aprendi com a *educação bancária e, sinceramente, prefiro a “verdadeira” pedagogia libertária do Prof. Paulo Freire, e não esta falsa que rola solta nas escolas.
*Pais e mestres, indico os sites listados abaixo, mas, não se esqueçam das antigas brincadeiras de roda, cabra-cega e mãe da rua. Não se esqueçam também, que as bibliotecas publicas ainda existem, não são “coisas” do passado. - Além da diversão, o exercício físico e mental também é uma boa:
Sites que Recomendo:
- www.turmadamonica.com.br
- www.danielazulay.com.br
- www.iped.com.br/kids
- pt.wikipedia.org
- www.amigosdodente.com.br
- www.amigosdodente.com.br/add_criancas.html
- www.on.br/site_brincando
- www.cienciadivertida.pt
- www.tvcultura.com.br/aloescola/infantis/chuachuagua
- www.contandohistoria.com
- www.palavracantada.com.br
- www.tiogui.com.br
Sobre o Autor
Ademir Pascale Cardoso: Crítico de cinema e editor do Portal Cranik, Ademir Pascale, é criador de um projeto de inclusão social e cultural, intitulado “Vá ao cinema!”, o qual já beneficiou mais de 5 mil e quinhentas pessoas de baixa-renda de todo o Brasil com o acesso gratuito às salas de cinema. Idealizador e Editor do Portal Cultural Cranik “www.cranik.com” desde 2003, é também crítico de cinema e coordena uma equipe de jornalistas e estudantes da área de comunicação social em seu portal ( http://www.cranik.com/equipe_cranik.html ), colunista de diversos sites culturais, Ademir Pascale é também um dos grandes divulgadores da sétima arte e do incentivo à leitura no Brasil, possuindo parceria com as maiores distribuidoras de filmes e editoras, o qual disponibiliza concursos culturais em seu Portal, incentivando a leitura e a ida ao cinema. O Editor já foi aluno de alguns dos maiores cineastas da América Latina, como: Paulo Betti, Guilherme de Almeida Prado, Toni Venturi, Imara Reis, André Sturm, Fernando Bonassi, Vera Hamburger, Lina Chamie, De Blasiis, Kátia Coelho, entre outros, além de ter concluído seu curso de roteiro para cinema com o conceituado autor e produtor norte-americano “Hugo Moss”.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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