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As palavras são novas

por Efraim Rodrigues *
publicado em 01/06/2007.

Hoje, sexta feira, enquanto escrevo esta coluna, a grande notícia é a virada no discurso de George Bush. Mesmo sendo algo subjetivo, ele finalmente concordou com o efeito estufa.

Não há surpresa alguma para os que conhecem a história da degradação dos recursos naturais. Há milênios que recursos naturais, sejam árvores, peixes ou minérios são explorados à exaustão, para garantir a riqueza de uns. Estes uns, sempre os melhor informados sobre os problemas de suas atividades, estendem o jogo quanto podem, tentando acumular uns últimos caraminguás.

Fizeram assim os fenícios, explorando o Cedro do Líbano, fizeram assim os Mesopotâmicos, explorando seu solo, os madeireiros no Brasil, desde os lusitanos até os recentes japoneses. Igualmente o faz o lobby do petróleo americano com o ar.

Ficou difícil manter o discurso de negação do efeito estufa, ante o consenso mundial. Mas não se pode dizer que com esta mudança de discurso, os EUA tenha fracassado. Ainda no milênio passado, Clinton, o bonzinho, chutou para a próxima gestão o ônus de tomar medida concreta de contenção do efeito estufa. Bush ganhou mais oito anos, e ainda conseguiu empurrar para o próximo presidente, democrata, o peso de assinar isto.

Não que o resto do mundo não possa fazer muito sem os EUA. E o fez. Construímos um consenso e deixamos em um canto, o principal emissor de gases de efeito estufa. É como se John Wayne entrasse no bar, e ninguém olhasse para ele.

Ficou impossível manter a farsa, com o exterminador do futuro tomando fortes medidas anti-efeito estufa na Califórnia (além de muitos estados da costa leste também), com várias empresas assumindo compromissos, e até pressionando o governo por legislação que eles sabem que virá, e que querem se preparar o mais cedo possível.

Aqueles que vêem nisto uma grande virada, com o poder nas mãos do povo, esqueçam. É só mais um recurso natural deixando de ser disponível para todos de graça, e passando a custar. Já foi assim com o próprio petróleo, a terra, madeira, água e agora o ar. A cada nova degradação, uma minoria mantém o acesso ao recurso, pagando, e o resto olha.

Com o ar, porém, ficou mais complicado porque é a primeira vez que degradamos em escala planetária. Não há como pagar para ir para um outro planeta com clima mais ameno, ainda que o ar condicionado no carro de alguns possa sugerir o contrário, também por um tempo limitado.

Ouçam a coluna Som Ambiente na Rádio Bandeirantes, toda terça-feira, cinco horas e um pouquinho.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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