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Meu pai guardava parafusos
por Pablo Morenno
*
publicado em 13/08/2006.
Se palavras e exemplos não puderem existir ao mesmo tempo, opte o pai por exemplos. Gestos, mesmo silenciosos, dizem verdades gritantes. Que o pai fique em silêncio, mas mostre.
Caminhando pela rua, encontrei um parafuso. Tomei o caderninho do bolso e anotei: “Meu pai guardava parafusos”. Ele nunca imaginou que, recolhendo-os ao bolso e guardando-os em uma lata vazia de querosene, ensinava segredos. Ignorávamos. Ele mostrava. Eu aprendia. Repartíamos vida. Bastava.
Na roça, parafusos tinham suas utilidades. Segurar uma peça da trilhadeira, engrossar o olho de um cabo de enxada. Ou prender no telhado da casa um zinco afrouxado por vento.
Na estrada, meu pai detinha o passo, curvava-se, e recolhia ao bolso um parafuso qualquer. Não importava ferrugem, tamanho, rosca gasta. O importante era nunca abandonar um parafuso por desconhecer a utilidade futura. No caso de meu pai, o exemplo sempre dava mão às palavras. Na verdade, ao conselho. “Meu filho, nunca sabemos onde e quando utilizaremos este parafuso. Um dia, na precisão, descobriremos”. E prosseguia.
Há pouco, chegando da rua, sentei-me ao computador e passei a limpo a anotação do caderninho. O que teria meu pai me ensinado naquele seu exemplo? Não moro no interior, não uso ferramentas. Trilhadeiras quase não existem. Enxadas são raras. Os telhados são de concreto. Teriam sido inúteis os exemplos e desperdiçados os conselhos?
Não. Mesmo sem perceber, imito meu pai. Ando pelas ruas e também recolho parafusos nos bolsos. Depois, me acompanharão até em casa, habitarão uma lata. Claro, os parafusos não são de aço. Chamam-se palavras, feitas de letras e sonoridades. E acaso não levo nos bolsos esse caderninho para anotar idéias? E a lata de querosene de meu pai não é este computador onde guardo as anotações e as transformo em textos?
Os pais, mesmo sem saber, sempre nos ensinam coisas para a vida. Nós, mesmo ignorando, repetimos sutilmente nossos pais.
Sobre o Autor
Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno
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