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31 de dezembro de 2008

Grande elenco não salva filme da mediocridade e comédia romântica sobre tema polêmico, por Chico Lopes

Em arte, como na vida, boas intenções não bastam e o sentimentalismo edificante pode edificar, dependendo da mão do artista, nada além de rasas choupanas que tentam canhestramente passar por belas casas. Basta que se veja "No entardecer" ("Evening"), de Lajos Koltai, para se chegar a esta conclusão. O filme é uma co-produção EUA/Alemanha de 2007 e tem um elenco tão impressionante que, ao retirá-lo de uma locadora no escuro, a gente o faz por topar com Meryl Streep, Vanessa Redgrave, Glenn Close, Toni Collette, Natasha Richardson, só para ficar em nomes bem conhecidos. Em escala inferior (no quesito talento) há também Claire Danes, que está no papel principal, além da estréia da filha de Meryl, Mamie Gummer, num papel de relevo.

Tudo isso torna evidente que o filme, baseado num best-seller de Susan Minotti que pouca gente parece conhecer, é um daqueles em que o elenco feminino é que dá as cartas. Porque a parte masculina, confiada a dois atores desconhecidos como Patrick Wilson e Hugh Dancy, fica mesmo de escanteio. Não pela desimportância dos personagens, mas pela fraqueza da dupla.

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14 de dezembro de 2008

Quem tem medo de Evelyn Wakim?

Um blog especializado em thrillers publicou, há poucos dias, uma crônica falando de Evelyn Wakim, uma das personagens de um romance meu, 120 HORAS, de Luis Eduardo Matta. Se puderem, não deixem de ler:

http://textosethrillers.blogspot.com/2008/12/quem-tem-medo-de-evelyn-wakim.html

Será que ela existe mesmo?

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A morte e o silêncio, por Rubem Alves

Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo são ofensas à dor da pessoa.

NOS BREVES intervalos em que a chuva parava de cair e os raios de sol se infiltravam pelas nuvens, o arco-íris aparecia fazendo os homens se lembrar da promessa que Deus fizera depois do dilúvio: ele nunca mais permitiria que as águas destruíssem a vida. Mas parece que ele se esquecera. A chuva caia sem parar alagando campos, inundando cidades, derrubando casas, matando gente e bichos.
Ele era um menino de 14 anos, feliz, que gostava de viver. Filho único, morava em Floripa. Como todos os meninos e meninas, ele deveria ir à escola naquele dia, porque a chuva não estava tão forte assim. E andar na chuva é uma arte que dá alegria às crianças.
Chegou a hora do recreio, tempo livre para brincar. A chuva voltou a cair mais forte, com raios e trovões. Havia um lugar abrigado da chuva, uma marquise, construída fazia três semanas. Era uma cobertura de cimento, planejada por engenheiros que sabiam o que estavam fazendo. Sólida. Ele se abrigou sob a marquise para ver a chuva. Mas a marquise, ignorando ferro e cimento, caiu sobre ele, esmagando-o. Agora, no seu lugar, resta uma dor que nenhuma palavra pode conter.
A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas têm poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosse tão importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou.
Mas não há palavra ou poema que possa com as únicas palavras que a morte deixa escritas: "Nunca mais". Nada existe de mais definitivo e mais doloroso que esse "nunca mais..."
Bem fizeram os amigos de que o visitaram com o intuito de consolá-lo na sua desgraça. O texto bíblico descreve o que aconteceu:
"Quando eles, de longe, o viram, eles não o reconheceram; e eles levantaram suas vozes e choraram. E eles se assentaram com ele no chão durante sete dias e sete noites, e nenhum deles lhe disse uma palavra sequer, porque eles viram que o seu sofrimento era muito grande" (Job 2.13 ).
Todos os amigos querem diminuir o sofrimento da mãe. Cercam-na com palavras que, pensam eles, trarão algum consolo. Mas que palavra ou poema poderá substituir o seu filho? E a chamam ao telefone para dizer-lhe suas palavras doces e cheias das intenções mais puras. Mas a pureza das intenções não garante a sua sabedoria. E aí, à dor da morte do filho, acrescenta-se uma a outra dor: a mãe é obrigada a ouvir os consoladores delicada e pacientemente, com sorrisos de agradecimento... Mas são tantos os consoladores e eles cansam tanto...
Gestos de consolo, lembro-me de um que me comoveu. Eu vivia em Nova York com a minha família. Aí o pai da minha esposa foi morto num acidente, no Brasil. Ao abrir a porta do apartamento, no chão estava um buquê de flores. Aquele que o trouxera se retirara em silêncio. Não tocara a campainha. Mas deixara um bilhete onde estava escrito: "Não quis perturbar a sua dor..."

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26 de novembro de 2008

ANNE HATHAWAY: o enigma de Jane Austen em "AMOR E INOCÊNCIA", por Chico Lopes.

Se você sente que precisa fugir de tantos filmes violentos, repletos de perseguições, tiroteios e mortes horríveis, todos dentro dessa mania de sadismo impenitente que domina cinemas e locadoras e que faz com que o ser humano cada vez mais pareça um monstro cujo apetite de destruição vai para muito além do delírio, é bom saber que esses mesmos cinemas e locadoras ainda oferecem alternativas como filmes históricos e românticos ocasionalmente bem feitos.
Um dos últimos é "Amor e inocência" ("Becoming Jane"), estrelado por Anne Hathaway. Ela começou a fazer sucesso com "Diários da princesa", comédia romântica bem frívola, e ninguém diria que acabaria crescendo a ponto de contracenar muito bem, com Meryl Streep, em "O Diabo veste Prada", ganhando destaque (se bem que equivocado) numa comédia blockbuster como "Agente 86" e virando uma atriz de respeito. Na verdade, cresceu tanto que é possível que seja indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2009 pelo sucesso de crítica que está fazendo no filme "Rachel´s getting married", último de Jonathan Demme: um monte de gente importante achou-a o máximo. Em "Amor e inocência", faz Jane Austen aos 20 anos com muita dignidade e charme.

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8 de novembro de 2008

Parábola de Frank Darabont é um filme de terror para ser lembrado, por Chico Lopes.

Entre os filmes que vi neste ano, não me lembro de nenhum que tenha me prendido tanto a atenção e me deixado tão incomodado quanto "O nevoeiro" ("The mist"), produção norte-americana de 2007 dirigida por Frank Darabont.
A história original é de Stephen King, notório em fornecer ao cinema argumentos que degeneraram, no mais das vezes, em filmes meramente horríveis ou por vezes terrivelmente ridículos, tão ruins que é melhor nem citá-los. King é contraditório - produz material literário em abundância e, na sua política de fertilidade produtiva, perpetrou muito lixo e algumas coisas boas. Diretores como De Palma ("Carrie, a estranha"), Rob Reiner ("Louca obsessão"), Stanley Kubrick ("O iluminado") fizeram alguma coisa digna com suas histórias, mas mesmo um filme tão cultuado quanto "O iluminado" parece uma enorme bobagem salva pelo enfoque monumental gelado, a sugestividade e as perícias de direção de Kubrick. Virou um filme de arte fazendo o lixo reluzir, mas, para muita gente, o lixo continuou lá, fazendo a mistura cheirar mal. Frank Darabont foi feliz adaptando "Um sonho de liberdade" e "À espera de um milagre", tornando-se uma espécie de marca de qualidade a partir de King. Por alguma razão, achou a maneira certa de adaptar as histórias abusivamente paranormais e apelativas do escritor, extraindo delas personagens ricos e lições de humanidade. Em "O nevoeiro", nada de braçadas. ==>>> LEIA MAIS

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Complexo de vira-lata, por Noga Lubicz Sklar

"Ele escreve seus próprios livros!", afirmo para o meu marido Alan enquanto enumero, entre tantos outros motivos, minha preferência política por Barack Obama. Olho pra ele, ele olha pra mim, e caímos na gargalhada os dois, onde já se ouviu tamanho absurdo, "escreve seus próprios livros"? Uai, gente, não é isso que um escritor faz? Escrever? Mas bem, hum, tudo isso já está no passado, a eleição de Obama, quero dizer, não o mal de um mercado literário onde raros são os escritores que escrevem seus próprios livros, ih, já estou me repetindo, insistindo num estado de coisas que a bem da verdade não deveria espantar ninguém.
Outro dia mesmo a minha nova editora explicava seu trabalho de, hum, editora, me contando que os livros que chegam para publicação vêm completamente crus, com erros terríveis, enfim, impublicáveis. E que depois de editados, imaginem, o autor ainda os altera, isto é, "corrige" a edição, voltando muitas vezes aos erros de antes e por aí vai, euzinha aqui num estado terrível de ansiedade e curiosidade suspensa pra descobrir como é que vai ser comigo (refiro-me à revisão das "Crônicas de Ulysses"), será que o que escrevo é assim também, ruim a um ponto de, além de rejeitado por boa parte das grandes editoras, ainda ter que ser completamente reescrito? A conferir que se for o caso, prometo confessar pra vocês, mas de volta a Obama que essa coisa de se perder do assunto no meio do texto tampouco está com nada. ==>>> LEIA MAIS

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21 de outubro de 2008

Os passos da vida, por Manoel Hygino dos Santos

Rosângela Vieira Rocha tem uma vida dedicada a escrever e a ensinar a escrever. Nascida em Inhapim, com quinze anos foi para Brasília. Formada em jornalismo pela Faculdade de Comunicação da UnB, é também bacharel em Direito pela Universidade Católica de Salvador e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Integrada ao Programa para Graduados Latino-americanos, fez curso de pós-graduação lato sensu pela Universidade de Navarra, em Pamplona, Espanha. Tem três livros publicados, vencedores de prestigiosos prêmios: "Véspera de lua", venceu o Prêmio Nacional de Literatura, Editora UFMG, em 1988, na categoria romance.
Em 2002, foi classificada entre as finalistas da 4ª Bienal Nestlé de Literatura Brasileira e recebeu Menção Especial no Prêmio Graciliano Ramos, da União Brasileira de Escritores, em 1990, com "Rio das Pedras". Este foi também primeiro colocado na categoria novela na Bolsa Brasília de Produção Literária, em 2001, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

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20 de outubro de 2008

O sonho da razão, por Manuel da Costa Pinto.

Narrativas de Samuel Beckett criam espaços imaginários como laboratórios da morte individual e coletiva
"UMA FENOMENOLOGIA da percepção e uma arqueologia do saber aproximam "O Despovoador", distopia que ecoa o inferno dantesco, e "Mal Visto Mal Dito", janela e réquiem para uma velha enclausurada."
A fórmula, que sintetiza essas duas narrativas de Beckett reunidas num único volume, está no prefácio de Fábio de Souza Andrade -intérprete obsessivo (como todo bom leitor) do romancista e dramaturgo irlandês.
A referência a Merleau-Ponty ("Fenomenologia da Percepção") e Michel Foucault ("A Arqueologia do Saber") lança luz sobre um universo de sombra. O sujeito, na obra de beckettiana, tem algo de pré-discursivo, pré-intelectual; e, ao fazer a fenomenologia dessa existência puramente corpórea, que precede a consciência, o autor de "O Inominável" expõe o fosso que existe entre palavras e coisas, linguagem e mundo.

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13 de outubro de 2008

O seu é o limite, por Noga Lubicz Sklar

"EU TENHO LOÇÃO DE RIDÍCULO", declara em alto e bom som Josirene da Silva - a mulata burra e bunduda do cabelo duro e nariz achatado de Black Music - ao seu interlocutor indeterminado: eu? você? ela mesma segundo alguns?, num clássico fluxo funkado de consciência, derramado e truncado e gritado, belamente intensificado nas letras garrafais que atravessam as 37 páginas finais do livro.

Com a breve exceção de um trecho em minúsculas sussurrado, confirmando com isso uma velha conhecida regra de todo internauta no estilo adotado. Mas ops. Peraí. O sujeito a quem se dirige (falando mais de sexo, mas também de outros encontros) é fatalmente um desnomeado do sexo masculino, como indica um eventual "meu querido" que logo de cara me exclui, pelo menos emocionalmente, da caudalosa parada impressionista. Ou impressionante. Do acalorado conflito musical resultante, em ritmo de um rap louro alucinante, nem Duque Elintão escapa, tá ligado? "Zoou comigo, acaba no microonda".

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8 de outubro de 2008

Grandes descobertas sobre si mesmo e sobre a vida são comuns nos relatos dessas caminhadas. Uma teologia forte nasce aí: na pobreza do pó.

Às vezes, na insônia, como diria Elias Canetti, ouvimos os ruídos do corpo e sentimos a fragilidade da vida que nos escapa. Certa feita, o escritor israelense Amós Oz me disse, numa entrevista para a Folha, que tem o hábito de caminhar pelo deserto todas as manhãs. Esse hábito o ajuda a compreender melhor a condição humana.
Por quê? Amós Oz tem em mente a antiga tradição religiosa de caminhar pelo deserto a fim de percebermos do que somos feitos: pó e cinzas. Grandes descobertas sobre si mesmo e sobre a vida são comuns nos relatos dessas caminhadas. Uma teologia forte nasce aí: na pobreza do pó.

O Gosto do Pó, por Luís Felipe Pondé.

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O Gosto do Pó

por Luis Felipe Pondé *
publicado em 8/10/2008.

NÃO TENHO VOCAÇÃO para idealizar as coisas. Idealizar é pensar que o mundo é melhor do que parece. A idealização aumenta o já inevitável risco de fracassar na vida. Reconheço, caro leitor, que a incapacidade de idealizar pode se transformar numa doença mortal. O ceticismo, o cinismo, o niilismo, a melancolia, são formas possíveis dessa doença.
Muitos acreditam que sem utopias ou ideais a vida perde o sentido. Talvez tenham razão. Acho que não. Eu, desprovido de qualquer órgão para idealização, prefiro sempre a realidade à fantasia. Nunca tive qualquer esperança metafísica. Não acho que minha vida seja necessariamente melhor por isso. Uma das banalidades da sociedade moderna é confundir conhecimento com felicidade e sucesso. "A vida para a felicidade" é irmã gêmea da mediocridade.
Mas a mediocridade pode ser uma forma de sobreviver. Muitas vezes, não há muito mais do que isso como opção no cotidiano. Não acho que o conhecimento salve ninguém, mas ele nos ensina outras formas de olhar o mundo. Nós pensamos enquanto as aranhas tecem suas teias.

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7 de outubro de 2008

UNIVERSO PAULISTANO - Textos sobre São Paulo

UNIVERSO PAULISTANO - Textos sobre São PauloAndross Editora, receberá até 15/11/2008 textos para uma série de três livros a fim de homenagear a cidade de São Paulo por conta de seus 455 anos de fundação. O título da série é UNIVERSO PAULISTANO. A temática é simples: São Paulo!

Cada livro será de um gênero diferente: contos, crônicas e poemas. As capas serão parecidas, mas, para cada gênero, um detalhe será mudado: no livro de contos, o prédio refletido na lente do fotógrafo é o Martinelli; no de poemas, o MASP; no de crônicas, o Monumento às Bandeiras.

Qualquer pessoa pode escrever e enviar uma história com pretensão de publica-la em nosso livro. 

Para participar da comunidade do livro no Orkut, clique em http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=71755761
Para maiores informações, acesse www.andross.com.br e leia o regulamento de envio de obras.

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4 de outubro de 2008

FIASCOS ROMÂNTICOS E CLÁSSICO DE CARMEN MIRANDA DIRIGIDO POR BUSBY BERKELEY, por Chico Lopes

UM AMOR PARA TODA A VIDA - O chato de quem vê muito cinema é a constante traição às expectativas. A gente sabe que a realidade cinematográfica anda medíocre e esgotada (parece que todos os gêneros vão se esvaziando dia após dia), mas sempre tem a louca esperança de encontrar aquele filme que desminta nossos tristes prognósticos infalíveis na maior parte dos casos. Queremos ter surpresas, queremos nos emocionar, irritados pela realidade lógica, mas desmancha-prazeres.
"Um amor para toda a vida", que tem à frente do elenco os veteranos Christopher Plummer e Shirley MacLaine, parecia merecedor de uma locação esperançosa.
Qual o quê! Realizado em 2007 pelo inglês Richard Attenborough, que já fez filmes de muito sucesso como "Ghandi" e "Um grito de liberdade", "Um amor para toda a vida" ("Closing the ring") é um filme particularmente frouxo, embora tenha um bom elenco e uma história de amor promissora, que começa na Irlanda, na Segunda Guerra Mundial, e é ligada aos dias atuais por um anel que certo piloto, morto num acidente, deixou para a sua namorada americana, muito desejada pelos seus amigos. Não vou me lembrar do nome do ator que ama e é amado por sua namorada americana (mais tarde, ela será o personagem de Shirley MacLaine), mas ele é de uma ruindade espantosa, não consegue passar a menor chama. =>>>>> LEIA MAIS

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23 de setembro de 2008

'Ensaio sobre a Cegueira'

"Ensaio sobre a Cegueira"

por Contardo Calligaris *
publicado em 18/9/2008.

Somos capazes de tudo: o apocalipse nos testa e nos revela a nós mesmos e ao mundo
GOSTO DOS romances e dos filmes apocalípticos, ou seja, das histórias em que algum tipo de fim do mundo (guerra nuclear, invasão extraterrestre, epidemia etc.) nos força a encarar uma versão laica e íntima do Juízo Final. Nessa versão, Deus não avalia nosso passado, mas, enquanto o mundo desaba, nosso desempenho mostra quem somos realmente. No desamparo, quando o tecido social se esfarela e as normas perdem força e valor, conhecemos, enfim, nosso estofo "verdadeiro". Somos capazes do melhor ou do pior: o apocalipse nos testa e nos revela.
O primeiro romance apocalíptico (de 1826) talvez tenha sido "O Último Homem" (ed. Landmark), de Mary Shelley, que é também a autora de "Frankenstein". De fato, as duas obras são animadas pelo mesmo sonho: uma criatura radicalmente nova pode ser fabricada no bricabraque de um necrotério ou nascer das cinzas da civilização. Em ambos os casos, ela será sem história, sem ascendência, sem comunidade e, portanto, penosamente livre - para o bem ou para o mal.

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18 de setembro de 2008

O Velho Hitch, por Manoel Hygino dos Santos

Chico Lopes entende de cinema. Não sem razão está no Instituto Moreira Salles, embora também se dedique, com merecido sucesso, à literatura. Seus livros de contos venderam o que podem, no Brasil que lê pouco e em que os costumeiros leitores, não têm o necessário embasamento para conveniente apreciação.
O mesmo acontece com a sétima arte: o que, ao crítico, tanta vez parece uma obra-prima, ao espectador comum não passa de uma grande porcaria. Tampouco o que agradava à platéia adolescente de décadas atrás, satisfaria os jovens de hoje. Os tempos mudam, e, com eles, os gostos.
Comentando Hitchcok, há poucos dias, afirmava Chico Lopes que os espectadores de novas gerações, com o privilégio de poder descobrir a obra toda do diretor inglês em caixas de DVD´s, que são um dos maiores petiscos do consumismo cinéfilo atual, vão certamente se encantar com as obras-primas e nelas descobrir coisas que nem adivinhariam.
Quanto a mim, digo sem medo de causar surpresa: gostei de todos os filmes de Hitch a que tive oportunidade de assistir. É um dos gênios do cinema do século passado, quer dirigisse na Europa, quer nos Estados Unidos. Enfim, como não sou crítico, mas mero diletante, escapo à censura.

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2 de setembro de 2008

O Estado não é policial, é frouxo

SÃO PAULO - Dois presidentes, Gilmar Mendes, do STF, e Garibaldi Alves, do Senado, viram nos "grampos" em seus telefones um "estado policialesco".
É precisamente o contrário. Estado policialesco pressupõe um Estado forte, onipresente, hiperativo.
O que existe no Brasil é um Estado frouxo, inerme, ausente exatamente onde a sua presença é mais necessária.
Episódios como o dos "grampos" contra duas das mais altas autoridades da República, para não mencionar Gilberto Carvalho, o mais próximo assessor do presidente Lula, só demonstram o quanto o atual governo é omisso. Prova-o a seguinte frase do ministro da Justiça, Tarso Genro, falando precisamente sobre interceptações telefônicas: "Estamos chegando a um ponto em que temos de nos acostumar com o seguinte: falar no telefone com a presunção de que alguém está escutando".
Traduzindo: o chefe da Polícia Federal, em vez de se indignar -e agir em conseqüência, o que seria ainda mais relevante-, prefere conformar-se com a sua incompetência, impotência, inapetência ou tudo isso ao mesmo tempo para controlar atividades que desrespeitam o Estado de Direito. Fosse menos relapso, o ministro diria que tomaria todas as providências para que a arapongagem deixasse de ser tão disseminada e que os inocentes poderiam ter a "presunção" de que só são ouvidos pelos seus interlocutores.
Se seu chefe, o presidente da República, também fosse menos relapso, teria afastado o ministro no ato, para demonstrar que não compactuava com a omissão do subordinado. Como não o fez, é forçado a agir tardiamente, punindo o policial, Paulo Lacerda, que foi o símbolo de uma elogiada PF. Não há símbolo que resista no governo Lula. Cai um após o outro sempre que qualquer labareda chega perto do presidente.

CLÓVIS ROSSI  Folha de São Paulo)

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31 de agosto de 2008

O palco é político, mas o drama é individual, por Moacyr Scliar.

Os escritores A.B. Yehoshua e David Grossman
têm posições controversas na cena pública de Israel,
mas não fazem literatura engajada. Na ficção deles,
o que interessa é o conflito humano

David Grossman, A.B. Yehoshua e Amós Oz [sou fã declarado] formam a tríade de escritores israelenses que, como profetas bíblicos, têm funcionado como a consciência viva do país. Os três nasceram naquela que é talvez a mais dramática cidade do mundo, Jerusalém, fato que já os diferencia de escritores israelenses de gerações anteriores, muitos deles imigrantes. Intelectuais de renome internacional, multipremiados e multitraduzidos, mostram-se sempre atuantes na política de Israel. Na última guerra do Líbano, por exemplo, inicialmente apoiaram Israel, mas, em agosto de 2006, convocaram uma conferência de imprensa na qual apelaram ao governo para que aceitasse um cessar-fogo. Apesar de suas conhecidas e às vezes controversas posições políticas, nenhum deles faz ficção engajada, como o leitor poderá verificar em obras de dois desses autores recém-lançadas pela Companhia das Letras – A Mulher de Jerusalém (tradução de Nancy Rozenchan; 278 páginas; 47 reais), de Yehoshua, e Desvario (tradução de George Schlesinger; 328 páginas; 51 reais), de Grossman. A situação conflituosa de Israel aparece de forma somente indireta nesses livros, nos quais interessa mais o drama individual dos personagens.

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28 de agosto de 2008

Livro sobre bares cariocas foi lançado primeiro em São Paulo

Botequim de bêbado tem dono” reúne 25 crônicas sobre bares cariocas, dos famosos Lamas, Capela e Bar Luiz, aos menos votados, porém mais curiosos cantinhos freqüentados pelo sambista – lugares como o Adonis, em Benfica, onde a fartura é tanta que oferece meia porção de bife a milanesa, ou o Momo, na Tijuca, que serve o melhor jiló no alho da cidade, ou ainda o A Paulistinha (ou será O Paulistinha?, pergunta o sambista), bar na rua Gomes Freire, cujo segredo da cozinha, entrega, é a cinza do cigarro que o cozinheiro fuma enquanto prepara um delicioso bolinho de bacalhau.

Lançamento da Desiderata, a mesma editora que lançou a antologia de textos do “Pasquim” e, no ano passado foi comprada pela Ediouro, o livro de Moacyr Luz é fartamente ilustrado por Chico Caruso e foi fruto de uma árdua pesquisa, in loco, da dupla, ao longo de seis meses. “A cada visita um encantamento rodeava nossas mesas, e a temporada de pinturas e biroscas durou quase um semestre”, escreve o sambista.

por: Mauricio Stycer - Categoria(s): Blog

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26 de agosto de 2008

Debate quente, cabeça fria

A moda do aquecimento global foi adotada por órfãos do marxismo. O verde é o novo vermelho

NÃO EXISTE coisa mais perigosa no mundo que um homem inteligente munido de uma máquina de escrever. Lembrei essa eterna verdade com livro recente, pequeno e luminoso de Nigel Lawson, ex-ministro inglês e diretor da revista "The Spectator". O livro se chama "An Appeal to Reason: A Cool Look at Global Warming" (um apelo à razão: um olhar frio ao aquecimento global, Duckworth, 149 págs.) e é um milagre a sua publicação. Lawson procurou várias editoras e a resposta era sempre a mesma: questionar o aquecimento global? Isso não é apenas crime; é heresia.
Como explicar essa atitude irracional que é a pura negação do espírito científico? Lawson explica: porque o aquecimento global não é uma questão racional; é uma questão de fé, exatamente como outras questões "científicas" que assombraram a Humanidade nas últimas décadas. Nos anos 60, foi o pesadelo malthusiano de um mundo sobrepovoado e faminto; na década de 70, foi a possibilidade de uma nova era glacial perante a descida acentuada das temperaturas; agora, é um mundo que aquece, glaciares que derretem e águas que sobem, uma espécie de secularização das pragas bíblicas para punição dos excessos "capitalistas". A moda do aquecimento global foi sobretudo adotada por órfãos do marxismo, que substituíram uma religião secular por outra. Hoje, o verde é o novo vermelho. >>> na FSP (assinantes), por JOÃO PEREIRA COUTINHO

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25 de agosto de 2008

Pondé passa a escrever às segundas na Folha de São Paulo

Sua visão é de uma "desconfiança visceral" em relação às "promessas de felicidade da modernidade", ao "otimismo moderno", às certezas iluministas de progresso, a todo projeto utópico.
Admirador do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e, cada vez mais, de Nelson Rodrigues (1912-1980), Pondé já aceitou, sem queixas, o carimbo de "conservador", mas afirma agora que isso passou a incomodá-lo, já que é usado como pecha, ele diz, "como forma de excluir a pessoa do debate".
Em entrevista à Folha, no início do ano passado, criticou a "crença na razão como instrumento suficiente para o conhecimento", e afirmou sua "desconfiança com a idéia de que você possa jogar fora a tradição religiosa" e sua "contrariedade à idéia de ruptura -de que o ser humano possa inventar tudo a partir de hoje".
Pondé declara que gostaria de se inserir na tradição jornalística "que vai do crítico Otto Maria Carpeaux e de Nelson Rodrigues a Paulo Francis". "Gostaria de fazer na coluna uma quebra da unanimidade em relação às grandes crenças, preconceitos e manipulações que dominam o mundo intelectual. E fazer uma ponte entre o mundo acadêmico e o jornalismo", afirma. "Essa é uma espécie de plano de vôo."

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u437450.shtml

Quem tem medo do macaco?, por Luis Felipe Pondé.

 

Sobre o Autor

Luis Felipe Pondé: Luis Felipe Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e pós-doutorado em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Atuou como professor convidado nas universidades de Marburg (Alemanha) e de Sevilha (Espanha). Atualmente é professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião e do Departamento de Teologia da PUC-SP, da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da pós-graduação de ensino em ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo e da Casa do Saber.
Autor, entre outros títulos, de “O Homem Insuficiente”, “Crítica e Profecia”, “Filosofia da Religião em Dostoievski”, “Conhecimento na Desgraça” e “Ensaios de Filosofia da Religião”. É articulista da Folha de S. Paulo, com coluna semanal às segundas-feiras.     

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23 de agosto de 2008

MEMÓRIAS DE UMA DECASSEGUI/ Emilia Eiko

Viver e trabalhar no Japão. Para muitos, uma necessidade. Para outros, uma aventura. E para alguns, a última chance de sobrevivência. Neste livro você vai conhecer Emilia, uma descendente que trabalhou na terra do sol nascente, entre muitas idas e voltas, no período entre 1991 e 2005.
O dia-a-dia na fábrica, a difícil convivência com os japoneses, a saudade da família que ficou no Brasil, as diferenças culturais, tudo isso, e muito mais, narrado com muita sinceridade e riqueza de detalhes. Ria, chorem emocione-se com a solidão, o sofrimento e as confusões que norteiam a vida de um decassegui.
Feedbacks importantes para quem é novato ou para quem ainda está pensando em sua primeira estada no arquipélago nipônico. E depois de ler o livro, tire a sua conclusão: vale a pena ou não trabalhar no Japão?

Sobre a autora
Natural de Junqueirópolis, Emilia cresceu na capital paulista, onde reside. Já viveu no Paraná e no Japão. Fala inglês, japonês e espanhol. Sua vida escolar foi exemplar. 1979, por seu excepcional desempenho, recebeu o Prêmio Incentivo Biblioteca Cidade de São Paulo, juntamente com outros alunos, em solenidade no Teatro João Caetano.
Sempre participou de Concursos Literários, obtendo várias menções honrosas. Sua poesia Homenagem aos oitenta anos da imigração japonesa no Brasil obteve o quarto lugar em um concurso nacional. E a poesia Fugaz foi classificada no concurso da Editora Scortecci e publicada na Antologia Lauréis. Tem outras poesias publicadas na Antologia Poética de Pinheiros, volume IX.
Memórias de uma decassegui é seu primeiro livro solo, onde narra suas histórias na terra do sol nascente. Alegrias e tristezas, verdades e mentiras sobre a vida dos decasseguis brasileiros no Japão. É casada com o advogado Edivaldo Dias de Souza e tem dois filhos, Michelle e Fernando.

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22 de agosto de 2008

Barbaridade, tchê!

A nata da nata das crônicas escritas nos últimos oito anos por Luis Fernando Verissimo está reunida em O mundo é bárbaro (Objetiva, 158 pp., R$ 29,90). Escolhidas num universo de 500 textos, elas discutem a ascensão chinesa, a guerra contra o terror, a candidatura de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos e o passado e o futuro do Brasil e da América Latina. E expressam muitas reflexões sobre o comportamento humano. O cronograma de lançamentos da obra se inicia na capital gaúcha, nesta sexta-feira, dia 22, na Livraria Cultura - Bourbon Shopping Country (Av. Túlio de Rose, 80 – 2º piso), que terá noite de autógrafos com o autor a partir das 19h30. Depois é a vez de Campinas, dia 29 de agosto, sexta-feira, a partir das 19h30, na Livraria Cultura - Shopping Iguatemi Campinas (Av. Iguatemi, 777 – 1º piso). A maratona segue em São Paulo, onde o livro será lançado no dia 2 de setembro, terça-feira, das 19h às 22h, na Livraria da Vila da Lorena (Al. Lorena, 1731 – Jardins). Depois, o Rio de Janeiro recebe o autor, no dia 3 de setembro, quarta-feira, a partir das 19h, na Saraiva MegaStore – Rio Sul Shopping Center (Rua Lauro Muller, 116 – 3º piso).

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4 de agosto de 2008

"Lua na casa três", de Henrique Chagas, também foi publicado na FOLHA DE BLUMENAU

"Lua na casa três", de Henrique Chagas, também foi publicado na FOLHA DE BLUMENAU na edição 188, no dia 23-07-2008. Veja aqui.

OUTROS ESCRITOS DE HENRIQUE CHAGAS
1)  Do vento criador que pairou sobre as águas ao olhar mastigado , por Henrique Chagas. 
2)  De Anselmo a Verdes Trigos , por Henrique Chagas. 
3)  A leitura me dá sorte , por Henrique Chagas. 
4)  Lua na casa três , por Henrique Chagas. 
5)  Hierosgamos: o Cântico dos Cânticos de Noga , por Henrique Chagas. 
6)  Herói do Nosso Tempo , por Henrique Chagas. 
7)  Em Santiago encontrei "La mujer de mi vida" , por Henrique Chagas. 
8)  "O livro é a porta de entrada para um mundo melhor" , por Henrique Chagas. 
9)  Inocente no mundo de Kafka , por Henrique Chagas. 
10)  De volta ao começo: Cruzália/SP , por Henrique Chagas.

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3 de agosto de 2008

O que há de novo está no ovo, por Noga Lubicz Sklar

"Faz parte da natureza humana quando está diante de uma coisa nova, dizer: "É uma merda".", afirma Paulo Coelho, meu herói desta e de todas as outras semanas, entrevistado em Paris por João Paulo Cuenca, ah, bom: não se trata aqui de nenhuma ampla, geral e irrestrita anistia intelectual tardia concedida ao Mago, gente, não, apenas de uma autêntica conveniência marqueteira, estando o Cuenca em Paris e, nem faz tanto tempo assim, dividindo sala com Coelho na mesma editora, a tradicional porém moderníssima Agir.

Outras duas sacadas geniais de Coelho o Noga Bloga já pratica faz tempo: disponibilizar por princípio suas obras na internet ["Só tenho a ganhar com a pirataria. As pessoas lêem o início no computador, depois acabam comprando o livro"] e a política inovadora de "privacidade zero" no blog. Bem. Hum. Eu entendo. Compartilhar da privacidade do Paulo é uma coisa. Da minha é outra muito diferente. Não? Bem. A gente nunca sabe. Quem sabe em breve Coelho e eu poderemos também compartilhar a sala, hein? Porque o segredo da prosperidade, vocês sabem, não é a olímpica e já clássica data mágica chinesa - oito de agosto de dois mil e oito às oito horas e oito minutos - mas sim, vamos combinar: apostar na baixa. Pra realizar o lucro na alta, é claro. ==>>> LEIA MAIS

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20 de julho de 2008

Uma comédia para comover e a melancoliade uma cineasta singular, por Chico Lopes.

JACK E MORGAN NUM PACTO PELA ALEGRIA - "Antes de partir", de Rob Reiner, chegou aos cinemas brasileiros precedido por palavras não muito animadoras dos críticos norte-americanos, que ou não gostaram do filme ou acharam-no apenas mediano, carregado nas costas pela dupla de atores que o estrelam no mais alto nível, Morgan Freeman e Jack Nicholson. Mas, fez boa carreira e chegou às locadoras com pinta de que fará sucesso entre os espectadores de DVDs que admiram esses dois veteranos, e também pelo fato de ser um filme sobre a velhice e a morte levado com leveza e perícia. O assunto do filme é, na verdade, amargo ao cubo, e a situação seria insuportável sem dois atores do porte de Freeman e Nicholson.
Dá para rir de uma história em que dois homens doentes de câncer dividem um mesmo quarto de hospital entre vômitos, quimioterapia, crises? Pois os dois atores são tão grandiosos e absorventes, sutis e engraçados que os diálogos deles, mesmo sobre banalidades e absurdos, são o sal de tudo. Um é milionário e branco, outro é negro de classe média, dono de uma oficina mecânica. (Morgan e Jack estão envelhecidos, mas em Jack isso chega a ser chocante, e há uma cena em que ele se defronta com o espelho que é visceral demais e temos vontade de desviar os olhos). ===>>> LEIA MAIS

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13 de julho de 2008

Humor deslocado, duas faces de uma atriz e um clássico romântico com Orson Welles, por Chico Lopes.

Continuo com minhas idas (raras) ao cinema e minha disparada preferência pelos DVDs, comentando um sucesso em cartaz e outras coisas que andei pegando pelas locadoras.

SÁTIRA PERDIDA NO TEMPO - A despeito das críticas favoráveis e da publicidade maciça, é bom que o espectador de cinema pense duas vezes antes de ir ver "Agente 86", um dos sucessos da atualidade nos cinemas. Hollywood vem padecendo com falta de boas idéias e novos roteiros e recicla tudo - dessa vez, é o agente satírico de um velho seriado homônimo de televisão dos anos 60, que foi feito pelo falecido Don Adams, uma idéia de Mel Brooks que tinha muito de divertido, mas também podia irritar, pela idiotice assumida. Como hoje em dia o humor no cinema pende, decididamente, para a segunda, e raramente compensa isso com diversão, "Agente 86", de Peter Segal, com Steve Carell no papel que foi de Adams, é uma produção muito barulhenta e apenas mediana. Alguns momentos de riso, ação desenfreada, e Carell acertando aqui, ficando maçante ali. Anne Hathaway até que se esforça como parceira, mas não é engraçada. Terence Stamp é de novo um vilão excêntrico. Isso já cansou muito.

TEXTO COMPLETO

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12 de julho de 2008

9º CONCURSO DE LITERATURA DA FUNDAÇÃO CULTURAL DE CANOAS (RS)

A Fundação Cultural de Canoas (RS) promove o 9º Concurso de Literatura - Conto, Crônica e Poesia, com entrega dos trabalhos até 31 de julho de 2008, SEM TAXA DE INSCRIÇÃO. O primeiro lugar de cada gênero receberá 100 exemplares da coletânea a ser editada, o segundo 50 exemplares, o terceiro 30 exemplares, e as menções honrosas 5 exemplares. Todos os participantes receberão certificado de participação. O regulamento e a ficha de inscrição estão no site www.fundacan.com.br ou pelo fone/fax (51) 3059.6938. Os trabalhos premiados estarão integrados à coletânea SEM NENHUM ÔNUS.

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6 de julho de 2008

O mundo horrível a que o cinema nos acostumou, por Chico Lopes

A violência no Cinema tem uma longa história que não poderei rastrear neste simples artigo, no qual quero apenas apontar algumas coisas, registrar algumas impressões que me ficam de ter visto, em dois dias sucessivos, dois filmes muito diferentes, mas basicamente dominados por um tema: a violência. Foram eles "No silêncio da noite", thriller "noir" de Nicholas Ray realizado em 1950, e "O gângster", produção norte-americana de 2007, dirigida por Ridley Scott, que foi um grande sucesso do ano passado e concorreu com trombetas favoráveis da crítica neste 2008.
Começando pelo segundo, começo por dizer que tanto o espectador comum quanto o crítico especializado estão sujeitos a uma coisa rotineira, hoje em dia: o ataque maciço da publicidade, que prepara todos para determinadas produções com toneladas de informações e seduções de todos os tipos. Somos preparados para gostar de certos filmes, queiramos ou não, e só depois de tê-los visto é que percebemos que, a despeito de todas as firulas e confeitos novos que eles apresentaram na forma, o que nos contavam era mais do mesmo, refletindo a velha moral cínica dos comerciantes que sabem reciclar o já faturado e seguir faturando. Mas, como gostamos de cinema e isso é provavelmente mais vicioso do que parece, seguimos como consumidores ávidos de alguma coisa que não sabemos bem o que é e que queremos que seja extraordinária. Portanto, o círculo vicioso é incurável.
O caso de "O gângster" é bem assim: a crítica teceu grandes loas ao filme (na capinha do DVD, diz-se que é "o maior filme do ano"), as indicações ao Oscar impressionaram, e lá estão dois atores de que o público não poderá deixar de gostar: Denzel Washington e Russell Crowe. Ridley Scott, diretor capaz de grandes coisas, é irregular, e faz filmes bem esquecíveis também. Mas tem o senso do espetacular e sabe fazer produções imponentes, e em "O gângster" voltou a acertar: o filme é muito bem feito, absorvente e não há reparos técnicos a fazer: a coisa nos enche os olhos, vai num crescendo de interesse, e não é um filme curto.

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4 de julho de 2008

no blog do galeno: 'a leitura me dá sorte'.

A leitura me dá sorte
Henrique Chagas - Verdes Trigos Cultural - 12/6/2008

Carrego comigo a lembrança do meu pai, José Terra, sempre lendo. Foi com ele que aprendi a ler e a escrever. Ficava emocionado com a leitura da poesia de Camões na primeira página do Estadão. Pouco entendia e nem sabia que, por traz daqueles versos decassílabos haviam textos censurados, histórias que a ditadura militar decidira que eu não deveria saber. Li várias vezes a História Sagrada, um livro grosso que meu pai ganhou de um caixeiro viajante; fiquei impressionado com as peripécias do Rei Davi e seus filhos. Leia mais

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27 de maio de 2008

O horror peculiar do pai espiritual de Stephen King, por Chico Lopes

Encontrei "O caso de Charles Dexter Ward", de H.P Lovecraft, num desses stands que trazem livros de bolso a preços simpáticos da L&PM, e não hesitei em adquirir.
Tenho uma relação de admiração e algum "pé atrás" com esse escritor. Conheci-o de duas coletâneas de contos lançadas nos anos 80/90 pela editora Francisco Alves ,"Um sussurro nas trevas" e "A casa das bruxas". Devem ser itens de sebo, hoje em dia, mas recomendo vigorosamente "Um sussurro nas trevas", coletânea que traz realmente o melhor de Lovecraft, contos bem mais curtos que o habitual dele e que, por mais curtos, são mais densos e sugestivos e acertam melhor na criação de atmosferas.
Jorge Luis Borges teve certo interesse por Lovecraft, mas dá para entender que deve ter achado aquelas narrativas repletas de documentos apócrifos e referindo-se a entidades, culturas, povos e raças que teriam existido na Terra antes da presença do Homem, afinadas com suas obsessões.
Também teria dito que ele o interessava por ser quase uma paródia de Edgar Allan Poe. Os excessos românticos de Poe são freados por um racionalismo e um cálculo na composição, mas Lovecraft é mais desatado e delirante e quase hilariante, de vez em quando: seu estilo, repleto de adjetivos, superlativos e coisas indefiníveis, cultos, entidades e evocações com letras maiúsculas, presta-se facilmente à imitação e ao deboche, e nisso Borges estava certo.
Não é de estranhar que Lovecraf seja tão imitado por seu discípulo mais conhecido, e mais bem sucedido editorialmente: o escritor Stephen King.===>>>> LEIA MAIS

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16 de maio de 2008

Herzog, Anderson, Oz e Wright: passagens pelas locadoras

Eis alguns resultados de minhas idas freqüentes a locadoras, nos últimos meses. Espero que as dicas sejam úteis para adeptos e incautos:

O SOBREVIVENTE - Werner Herzog, o gênio alemão que nos deu filmes como "O enigma de Kaspar Hauser", "Nosferatu", "Aguirre - A cólera dos deuses" e tantos outros, ainda está na ativa. Há um excelente documentário seu nas locadoras, "O homem urso", e, de repente, quando se pensava que ele se restringira a este gênero, surgiu essa produção de 2006 com Christian Bale, o último "Batman", no papel principal.
Ele é um personagem verídico (Herzog já filmara um documentário a seu respeito), o alemão Dieter Dangler, que se engajou como piloto na América no início dos anos 60, mas teve a má sorte de pegar os primórdios da guerra do Vietnam, nos bombardeios sobre o Laos. Seu avião sofre um acidente e ele cai na selva. Será capturado e levado a uma prisão, que dividirá com outros, americanos e asiáticos supostos inimigos dos vietcongs, em condições inumanas.
Tudo isso faz pleno sentido dentro da arte cinematográfica e dos temas usuais de Herzog, que filma como ninguém selvas e personagens visionários perdidos em sonhos patéticos. A fotografia é soberba, e o início é deslumbrante, com bombardeios feito um delírio pirotécnico em câmera lenta, ao som da música maravilhosa de Klaus Baldet, que parece um pouco derivada do Adagietto da Quarta Sinfonia de Gustav Mahler utilizado em "Morte em Veneza", de Luchino Visconti.

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27 de abril de 2008

Vida de autor(a) , por Noga Lubicz Sklar

Não sei se é interessante a tendência hoje em dia dominante de se falar demais da própria vida, transtornando a literatura num caldo insossamente autobiográfico, coisa que sim, eu mesma faço e sem vergonha nenhuma. Esclarecer, esclarece. Mas limita a fantasia alheia, sei lá, perde o mistério e quem sabe a graça. Por outro lado, restringe consideravelmente a gulosa possibilidade de uma demolição futura da personalidade, processo sofrido em mais alto grau por Ann Hathaway, esposa de Shakespeare e praticamente uma desconhecida da história, vítima preferida dos adoradores acadêmicos do bardo. O assunto aparece revitalizado por Germaine Greer em "Shakespeare´s Wife", resenhado na edição desta semana do suplemento literário do NY Times. Tudo bem que muito do que se sabe da vida elizabetana não vem de fatos historico-antropológicos mas... das peças de Shakespeare, e nem nas páginas de Ulysses Ann Hathaway escapa de sua imagem tradicional como musa inspiradora do marido: a megera (in)domada, pra quem o escritor deixou de herança não mais do que sua segunda melhor cama. +++++++

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A turba do 'pega e lincha', por Contardo Calligaris

Outro dia passei duas horas em frente à televisão. Não adiantava zapear: quase todos os canais estavam, ao vivo, diante da delegacia do Carandiru, enquanto o pai da pequena Isabella estava sendo interrogado. O pano de fundo era uma turba de 200 ou 300 pessoas.
Permaneceriam lá, noite adentro, na esperança de jogar uma pedra nos indiciados ou de gritar "assassinos" quando eles aparecessem, pedindo "justiça" e linchamento.
Mais cedo, outros sitiaram a moradia do avô de Isabella, onde estavam o pai e a madrasta da menina. Manifestavam sua raiva a gritos e chutes, a ponto de ser necessário garantir a segurança da casa. Vindos do bairro ou de longe (horas de estrada, para alguns), interrompendo o trabalho ou o descanso, deixando a família, os amigos ou, talvez, a solidão - quem eram? Por que estavam ali? A qual necessidade interna obedeciam sua presença e a truculência de suas vozes?

“Os alemães que saíram para saquear os comércios
dos judeus na “Noite de Cristal” faziam isso porque
queriam sobretudo afirmar sua diferença"

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26 de abril de 2008

Castelo Branco promove concurso de crônicas

Até o dia 2 de junho  podem ser feitas as inscrições para o "1° Concurso Crônicas Cariocas", promovido pela Castelo Cultural, centro de cultura da Universidade Castelo Branco, em parceria com o portal Crônicas Cariocas. O objetivo é estimular a produção literária e incentivar a cultura no Estado do Rio de Janeiro. Com uma tiragem inicial de mil volumes, as 20 crônicas finalistas irão integrar a antologia “Crônicas Cariocas”. Entre os critérios de avaliação estão: criatividade na escolha do tema, qualidade técnica empregada, originalidade do texto, bem como análise do português. Cada participante pode concorrer com cinco crônicas inéditas, residir no Rio e ter idade igual ou superior a 15 anos. Os três primeiros colocados recebem prêmio em dinheiro, e todos os 20 autores recebem uma quantia de exemplares, de acordo com a colocação. O regulamento está disponível no site www.cronicascariocas.com. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone da Castelo Cultural: (21) 3216-7808.

Serviço:
1° Concurso Crônicas Cariocas
Inscrições até o dia 2 de junho
Taxa de inscrição para cada texto: R$ 5
Regulamento: www.cronicascariocas.com
Mais informações: (21) 3216-7808

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MENINOS DO PORTINARI, por Pablo Morenno.

Menino do Papagaio foi pintada por Portinari em 1954. Vi a tela original de perto no Museu Ruth Schneider, aqui em Passo Fundo-RS, na exposição itinerante do MARGS-Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Raramente teríamos oportunidade de sentir o cheiro perturbador da tinta, se não fosse esse projeto de arte extra-muros. Ainda não tenho um Portinari na sala da minha casa para ter dispensado esta oportunidade singular.
Menino do Papagaio parece uma mancha de fogo no mar. Também seria possível dizer que o menino de Portinari é uma miragem de sol no deserto. O menino que não tem rosto é o único em cores quentes, rodeado de cores frias. Até mesmo a ovelha que lhe dá aconchego é feita de cores frias. Tudo é árido. Não há uma única planta. Só areia e rochas. Não esperem brotação. O céu está extremamente límpido. Não háverá possibilidade de chuva por muitos dias.
O menino do papagaio é um menino de fogo no meio de um mundo frio. Até o sol é frio. Não lembro de ter visto em outras pinturas um sol tão gelado. Tem gente que diz que o sol de Portinari não é um sol, mas uma lua. Não parece ser razoável. Primeiro, porque a cara do objeto azul no céu azul é de sol e não de lua. Segundo, um menino jamais soltaria papagaio na noite. Outra coisa, as figuras têm sombra refletida no chão de areia. A lua não sabe fazer sombras tão marcantes. ==>>> LEIA MAIS

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Graciliano Ramos e o Partido Comunista Brasileiro, por Ângelo Caio Mendes Correa Jr

A idéia de realizarmos o presente trabalho nasceu quando líamos o penúltimo capítulo do livro Cadeia, de Clara Ramos, no qual a filha de Graciliano Ramos apresenta algumas considerações a respeito do Partido Comunista Brasileiro e da parcela de intelectuais que a ele aderiu, nos anos 30, na luta pelo socialismo.
As diversas células do PCB passaram a organizar, na década de 30, cursos, círculos de estudos e debates literários, cujos temas iam da teoria literária às obras de seus contemporâneos, como Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz, dentre tantos outros.
Nos anos 40 teremos, todavia, as primeiras cisões entre o PCB e alguns de seus intelectuais militantes, sobretudo por não concordarem com as concepções do realismo socialista, cujo teórico era Zdanov, incumbido por Stálin de "por ordem nas fileiras dos ideólogos e castigar os desgarrados".

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Garimpos na atualidade e no passado: filmes que andei vendo, por Chico Lopes

De vez em quando, há leitores do que escrevo aqui no "Verdes Trigos" que me cobram o fato de comentar mais filmes antigos que novos ou me acusam de só gostar de "filmes velhos". Mal respondo à acusação de só gostar de filmes do passado, porque é simplesmente uma atitude do pior obscurantismo e ignorância - como se a história do Cinema fosse desdenhável e tudo tivesse começado ontem, com algum dos fetiches tecnológicos de Spielberg e Lucas. Gosto de tudo, de qualquer época, contanto que seja bom de fato. É impossível entender o que é o Cinema sem ver os chamados "filmes velhos".Acho privilegiada uma época como a nossa, em que DVDs de velhos filmes não param de sair, que nos permitem olhar para o passado, avaliar o que foi feito, comparar com o presente (ainda que seja para lamentar este) ou simplesmente fazer uma viagem deliberadamente saudosista a personagens e valores tidos por antiquados, por quê não? (se a modernidade prega que toda pretensão a valor é hipocrisia e só a maldade dá uma idéia fiel do ser humano, talvez o que está decididamente fora de moda seja a única salvação).
Vou vendo filmes de todos os tipos, tempos e lugares. Um pouco do que ando vendo segue aqui, talvez como orientação para algum leitor que aprecie meu gosto (ou desgosto) e queira concordar (ou discordar) comigo futuramente:

ENCANTADA - Produto de Walt Disney que pretende fazer paródia dos desenhos animados clássicos do estúdio como "A Bela Adormecida", "Branca de Neve e os Sete Anões", e consegue ser inteligente e engenhoso, ao menos até à metade. A princesa típica de todos os desenhos Disney, que inclusive, folgada, faz uso de animais para serviços domésticos convocando-os com musiquinhas melosas, sofre maldição de uma bruxa, cai num abismo e este abismo dá num buraco de esgoto de uma rua da Nova York atual, onde o desenho sai como atriz (Amy Adams).
Aí, o filme passa a ser uma comédia romântica normal. Ela sai à procura de um castelo e do príncipe com quem deve se casar, deparando-se com a brutalidade do mundo contemporâneo (como se não houvesse muita crueldade velada naqueles desenhos todos!). Encontra um jovem executivo realista (nesses filmes, o sujeito que não crê em fantasia é rapidamente estigmatizado como um tipo cruel e sem imaginação) e desiludido que tem uma noiva, mas não é feliz (vocês já entenderam tudo). O filme faz rir, mas, quando a gente se dá conta, está pregando precisamente todos os valores que tentou parodiar até então, e sentimos que fomos chantageados de maneira bem baixa. Uma pena. Mas Amy Adams é boa atriz. ==>> LEIA MAIS

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7 de abril de 2008

Esboço da trajetória de um idealista, por Ângelo Caio Mendes Correa Jr.

A botânica no Brasil tem grande dívida com um homem cuja vida foi praticamente toda dedicada a ela: Pio Corrêa, autor, dentre mais de uma centena de obras científicas, do Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas, que, em seis volumes, 4200 páginas, reúne descrições de quase dez mil plantas. Leonam de Azeredo Penna, ex-diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a ele assim se referiu: "Em sua estruturação original, sem ser baseada em qualquer congênere e até agora não imitada nem igualada por quantas apareceram em outros países, é o Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas", obra da maior utilidade prática na literatura botânica mundial, presente em bibliotecas de instituições científicas do Brasil e do exterior."
Nascido na cidade do Porto, Portugal, a 6 de maio de 1874, desde cedo teve contato com o universo dos livros. Seu pai, Ignacio Miguel Corrêa, era editor e livreiro e amigo de Camilo Castelo Branco, então o maior nome da literatura portuguesa.
Bastante moço chegou ao Brasil, indo estudar na Escola Agrícola Luiz de Queiroz, onde se especializou em geologia, através da qual surgiu seu interesse pela botânica, pois quando trabalhava em Santa Catarina, ao lado de Henrique Lage, buscando encontrar jazidas de carvão, localizou o carvão associado a camadas de ardósia, na qual aparecia gravado um verdadeiro herbário, perfeitamente conservado, de espécies vegetais fósseis. A vista desses vegetais fósseis despertou-lhe primeiramente o desejo de identificá-los por sua classificação científica. A seguir, viria o interesse de estudar e classificar as espécies vivas. ==>> LEIA MAIS

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O sonho de Martin Luther King, por Contardo Calligaris

O amor é o agente da modernidade: os sentimentos vencem os preconceitos das tribos
Em 1963, cinco anos antes de sua morte, King contara seu sonho aos manifestantes da marcha sobre Washington: ele imaginava um futuro em que "brancos e negros, judeus e gentios, protestantes e católicos", descendentes de escravos e de donos de escravos, todos viveriam em harmonia, sentados "à mesa da irmandade". Nesse futuro, cada um seria julgado por seus atos e por seu caráter, não pela cor de sua pele, pela herança de sua etnia ou por sua fé.
King pedia que os EUA e o mundo moderno se mostrassem à altura de suas próprias declarações fundadoras: por exemplo, a Constituição dos EUA.
Ao longo das últimas quatro décadas, muitas coisas mudaram. Um balanço rápido constataria, sem otimismo excessivo, que o preconceito e a discriminação das diferenças retrocederam. Foi o efeito de mil lutas, grandes e pequenas, nos Parlamentos, nas ruas e nas padarias da esquina.
Esse sonho reviveu, nestes dias, no discurso de Barack Obama "A More Perfect Union" (a "união mais perfeita", que era o propósito explícito dos signatários da Constituição dos EUA). Obama é suficientemente atento às diferenças para se lembrar, por exemplo, de que ser filho de imigrante africano não é a mesma coisa do que ser descendente de escravo. Mas, apesar de sua atenção às diferenças, talvez por ser o fruto de um amor inter-racial, ele consegue (novidade absoluta) ser um candidato negro, sem ser um candidato dos negros. =>>> LEIA MAIS

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3 de abril de 2008

Um Oscar duvidoso e reflexões sobre outras dubiedades do "Cinema de Arte", por Chico Lopes

Quem escreve sobre Cinema e vê muitos filmes, como eu, tem que estar sempre atento à movimentação da área, naturalmente. Mas não pode escapar a alguns desapontamentos ao fiar-se no julgamento alheio - ou seja, ao ler maciços elogios a um determinado filme lançado no estrangeiro, comentado com entusiasmo arrebatador, tachado como obra-prima, premiado aqui e ali e esperado com ansiedade nos cinemas e nas locadoras brasileiros. Nesses casos, o leitor comum, que acredita em determinados críticos e comentaristas de cinema por achar que seu julgamento é sóbrio e confiável, não pode ficar acreditando cegamente em seus guias: todo mundo erra nesta área, seja por boa-vontade excessiva, seja por ceder a idiossincrasias e outras tinturas emotivas ou publicitárias. Os acertos e as precariedades de julgamento são quinhões universais, ninguém que se fie demais, não há ninguém que saiba tudo e escape às besteiras. Só não erra de fato quem não emite opinião nenhuma.
Dei bobeira esperando muito de "Onde os fracos não têm vez", pelo qual fiquei suspirando no final do ano passado, porque, conhecendo o talento de Javier Bardem e dos irmãos Coen, e fiando-me nos julgamentos arqui-favoráveis da crítica americana nos sites de cinema da Internet, estava tomado pela onda pró (que, tal como as ondas contra, tem que ser sempre olhada com seu tanto de desconfiança). Depois, com os quatro Oscar ganhos pelo filme, nas categorias mais fortes, fiquei com a impressão de que veria algo fora do comum, realmente. Que surpresa! Encontrei um filme ora bom ora razoável, com boas interpretações, mas, sem dúvida, sofrendo da maior onda de supervalorização que vi em toda a minha vida. Não merecia os prêmios todos que ganhou, simples assim. +++++++

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20 de março de 2008

O homem que virou santo, por DRAUZIO VARELLA

Enfrentara rebeliões, caíra refém, mas era tudo brincadeira perto das crises de ciúme da mulher

JURANDIR JURA que a culpa foi da vizinha. Diz que tinha virado santo com a finalidade de aplacar os ciúmes da mulher, Zélia, convencida de que todas as outras mulheres da vila davam em cima dele, cafajeste, derretido por qualquer rabo-de-saia.
O comportamento exemplar dos últimos meses era conseqüência de uma briga provocada por uma ida à padaria, depois da qual Zélia acusou-o de haver admirado as pernas de uma loira alta e lhe atirou o liquidificador nas costas. Ao fazer as pazes, assinaram um armistício com diversas cláusulas, a mais importante das quais exigia que ele não ousasse olhar para a tal vizinha, recém-instalada no andar de cima.
Jurandir explicou que a exigência era absurda, mal reparara na moça. No dia da mudança, tinha segurado a porta do elevador para que ela entrasse com os pacotes, apenas por cortesia. A esposa respondeu, possessa, que o problema não havia sido o cavalheirismo, mas o sorriso calhorda que ele colocara nos lábios.
Decidido a preservar o casamento e o convívio diário com os filhos, ele fez de tudo para andar na linha. Tinha boas razões para desejar a paz: a esposa era mulher de bons princípios, mãe exemplar, dona-de-casa prestimosa; seu problema era um só: o gênio forte.
-Quando o ciúme atacava, parece que incorporava o Coisa Ruim. Não via hora nem lugar; fazia escândalo na frente de quem fosse.
Ele trabalhava como carcereiro havia 20 anos. Tinha enfrentado rebeliões, caído refém de presos amotinados, participado de negociações em galerias apinhadas de homens e facas, mas considerava as peripécias brincadeira de criança comparadas às crises da mulher enciumada.
Quis o destino, no entanto, que numa segunda-feira de chuva ele chegasse em casa mais cedo e que não houvesse ninguém. Tomou banho, vestiu a bermuda, colocou um CD, abriu a primeira lata de cerveja e foi atender ao telefone interno.
Era a vizinha. Perguntou se não poderia ajudá-la a instalar o aparelho de DVD. Tão cheio de fios!
Ele jura que subiu a escada na ingenuidade, preocupado com a volta da esposa, e que só se deu conta da armadilha quando viu o umbigo de fora, o decote diabólico e a calça agarrada que a moça usava.
-Uma roupa daquelas mulher nenhuma veste apenas para instalar um DVD.
Quando os lábios dela se aproximaram perigosamente, ele recuou.
-Minha mulher vai chegar, você está de batom vermelho.
No dia seguinte, ela ligou para a cadeia. Disse que existia uma atração fatal entre os dois, instalada desde a gentileza na porta do elevador. Insistiu que resistir a essa força seria ir contra a natureza humana.
Não precisou de retórica para convencê-lo.
-Eu estava totalmente de acordo. Perder uma chance como aquela seria até pecado. O problema era como escapar da marcação cerrada lá em casa. Meus horários eram controlados com precisão de minuto.
A imagem dos lábios vermelhos, entretanto, não lhe dava trégua.
Uma semana depois da instalação do DVD, concebeu um plano para passar a noite com a vizinha. No dia fatídico, telefonou para casa avisando que estava escalado para o plantão noturno, porque iriam realizar uma blitz que só terminaria quando localizassem dois revólveres em mãos dos detentos.
O plano foi executado com perfeição. Às seis da tarde, o telefonema para casa com voz grave, o encontro na estação do metrô, a pizza e a noite com a vizinha num hotel da rua Jaguaribe.
Na manhã seguinte, ao virar a esquina da cadeia, Jurandir viu que um colega corria em sua direção.
-Nem chega perto do portão. Tua mulher está lá fazendo um escândalo. Diz que ligou a noite inteira atrás de você, e ninguém te achou. Ela se recusa a ir embora enquanto você não aparecer. Pediu para falar com o diretor. Quer saber se você ficou mesmo de plantão por causa de dois revólveres.
Jurandir voltou na direção do metrô, sem idéia do que fazer. Parou no meio-fio desamparado, quando alguém gritou seu nome. Era o motorista de um camburão que chegava para buscar os presos com audiência no Fórum.
Nesse instante, teve uma idéia.
-Me leva pra dentro da cadeia, fechado no camburão. Depois explico.
Minutos mais tarde, o portão principal da cadeia se abria para que Jurandir saísse ao encontro da esposa, desconcertada.
-Oi, meu amor, disseram que você estava nervosa à minha espera. Eu fiquei preocupado. Algum problema?

[NOTA] Postei esta crônica do médio Drauzio Varella, depois que li, na FSP de hoje, a crônica do Contardo Calligaris. Creio que as duas crônicas se complementam e se completam. Pessoalmente, não gosto de santos, muito menos de moralistas. Aliás, eu não confio naqueles que se dizem santos, prefiro aqueles que se confessam pecadores e de seus pecados se arrependem ou se arrependem dos pecados que não cometeram.

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16 de março de 2008

Na cama com Bruna Surfistinha - Receitas de prazer e sedução, por Carla Coelho

"Você vai descobrir por que toda mulher tem o sonho de ser garota de programa por um dia e por que os homens são tão loucos pelo sexo anal. Você vai saber como tirar proveito da masturbação (sozinho ou acompanhado), aprender a explorar o corpo dele ou dela e encontrar prazer onde você jamais imaginava sentir".
Bruna Surfistinha não escreveu o terceiro livro simplesmente para ter mais um título no currículo, para ganhar ainda mais dinheiro ou para criar uma trilogia digna dos grandes nomes da literatura nacional. A autora afirma, várias vezes, que o livro é quase que uma obra de caridade para as pessoas que não são plenas em suas vidas sexuais.
"Garota de programa por um dia", "Aquecendo os motores", "Massagem para acender o tesão" e "O sexo começa pelo beijo", são apenas alguns dos capítulos do livro de 296 páginas que vai deixar muito "marmanjo" sentado por horas e horas praticando um hábito não muito comum para a população brasileira, ler.

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Uichiquibeijmaijpuunapuuhuc!, por Noga Lubicz Sklar

Este episódio Circe do Ulysses é tão complexo que dá pra ver nele como Joyce se enrolou. É muito interessante: a dimensão do impacto criativo do artista retém o seu frescor nas loucuras do texto.
Tenho aqui em casa, vocês sabem, quatro versões principais do livro (fora capítulos esparsos na web e milhares de anotações): duas em inglês (uma impressa e uma em pdf) e duas em português, sendo a do Houaiss impressa e em pdf, o que facilita as idas e vindas, a busca de palavras através do livro, ocorrências repetidas e, agora em Circe, discrepâncias entre elas, ou vocês pensavam que eu guardava tudo isso na cuca? Ho ho ho, gente, assim nem Joyce. O curioso é que Houaiss seguiu a versão que tenho impressa e Bernardina seguiu a versão que tenho em pdf, o que dá uma visão quase completa da coisa.
Joyce, a gente nota, acha às vezes que exagerou na radicalidade. E volta atrás. São palavras inventadas, frases, falas inteiras cortadas ou acrescentadas, porque embora a minha mente lógica queira acreditar que a mais complicada veio primeiro não dá pra garantir nada, já que em Joyce, todo mundo sabe, a complexidade tendeu a se agravar até desembocar no quase incompreensível Finnegans Wake. Há momentos no Ulysses que são a prévia perfeita disso - é Burgess quem aponta -, como num dos paragráfos finais de Nausicaa que resume em meia dúzia de frases todo o pensamento do personagem até ali. Ou ainda no inglês recém-parido do Gado misturando sons de não sei onde pra resultar num idioma pra não sei quem muito joyciano mesmo, fecha essa matrafalaca. Ops. Falamatraca. ===>>> LEIA MAIS

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15 de março de 2008

Ruy Affonso e os Jograis de São Paulo, por Ângelo Caio Mendes Correa Jr.

Por quase seis décadas, Ruy Affonso, que dentre tantos méritos, foi um dos fundadores do TBC , Teatro Brasileiro de Comédia, em 1948, e criador dos Jograis de São Paulo, em 1955, deixou marca definitiva em nosso cenário artístico, não apenas como ator, mas também escritor, diretor e professor.
Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, onde cursou também Filosofia, seu aprendizado teatral deu-se com a colaboração de destacados diretores estrangeiros que vieram ao Brasil na primeira metade do século XX, como Adolfo Celi, Luciano Salce e Ziembinski. Teve ainda o privilégio de ser orientado por Verá Korène Rognoni, da Comédie Française e pelo mímico Marcel Marceau.
Em 1955 criou os Jograis de São Paulo, conjunto formado por quatro atores, pelo qual passaram, em suas diversas formações, nomes como Rubens de Falco, Armando Bogus, Raul Cortez, Ítalo Rossi, Carlos Vergueiro, Homero Kosac e Fúlvio Stefanini, apresentando poesia, seja através de coral ou solos encadeados. Com o grupo excursionou por todo Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e México. =>>> LEIA MAIS

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8 de março de 2008

PAUL BOWLES: autobiografia e contos de um viajante sem volta, por Chico Lopes

Paul Bowles como escritor e personagem começou a me despertar interesse - como acho que em quase todo mundo que o leu - pelo filme "O céu que nos protege", de Bernardo Bertolucci. O filme mexeu com gente menos convencional, precisamente por tratar de dois viajantes nada convencionais, Paul e sua mulher, Jane Auer. Bem óbvio que eles eram a fonte direta de inspiração do casal vivido no filme por John Malcovich e Debra Winger.
Nos anos 90, com esse sucesso cinematográfico obtido em nichos mais intelectualizados, houve um interesse editorial pela obra de Bowles no Brasil e, na ocasião, comprei dois livros seus editados pela Rocco, "Chá nas montanhas" e "Um amigo do mundo", que ainda, com sorte, podem ser encontrados em sebos e promoções.
Uma escritora amiga, Yara Camillo, falou-me de Bowles no final do ano passado e se referiu a uma autobiografia do escritor que eu não conhecia: "Tantos caminhos", lançada no Brasil pela Martins Fontes (edição de 1994).
Yara acabou me emprestando "Tantos caminhos" e mergulhei na leitura. Achei o livro muito interessante, decisivo para se entender a personalidade do escritor a partir de sua vida, e é uma pena que seja item de sebo, porque muita gente poderia se aproveitar da leitura. Poderia ser reeditado, mesmo com a onda Bowles tendo passado. Aliás, uma das vantagens da "poeira assentada" na questão das modas literárias é que se pode conhecer melhor um autor e sua obra tempos depois que o incensamento automático e duvidoso já sumiu de vista e os consumidores de cultura, tão fúteis, novidadeiros e desmemoriados quanto quaisquer outros, nem têm mais nada a dizer a respeito de dada figura e de seus livros. Com paixões e foguetórios apagados, faz-se um juízo mais sóbrio do que houve (tem-se a impressão de que essas ondas são ainda mais levianas entre nós, porque pouca gente lê de fato o que diz estar lendo; quase tudo é citação vaga para impressionar patotinhas presunçosas). ==>>> LEIA MAIS

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28 de fevereiro de 2008

A arte imita a arte, por Noga Lubicz Sklar

Depois que descobriram um novo monstro marinho - isto é, um velho - numa ilha da Noruega, não vou me espantar nadinha se afirmarem que o de Loch Ness existe mesmo. Isso, claro, devido às descobertas tecnológicas de um Michael Crichton, que nos permite fertilizar dna de fóssil. Já estou pagando pra ver.
Porque se a gente deixar, um clima hiperreal de pesadelo toma conta de nossas vidas, e hoje nem é sexta-feira treze. É quinta. É fevereiro. Embora o dia de amanhã, todo mundo sabe, nem vai existir, calma, gente: é ano bissexto e, vocês sabem, outro assim só daqui a... sei lá. Nem quero saber. Como esse porteiro de Copacabana, coitado, espancado quase até a morte pelo simples fato de existir e ocupar um lugar no mundo, lugar errado, isto é, no prédio comercial fechado à noite. Ou aquele prisioneiro no Iraque, um cidadão comum torturado pelo simples fato de estar ali no carro, ou o garoto atropelado, ou aquele soldado queimado e esquartejado por seus colegas pelo simples comando da mente doente - síndrome pós-traumática - vítima e algoz afundando no mesmo barco, afinal de contas, são atores ou veteranos recuperados? Ou como o finado Tim Lopes que não tinha síndrome nenhuma nem estava no lugar errado, mas foi espancado até a morte, queimado e esquartejado assim mesmo porque, francamente, muito errado mesmo anda o nosso mundo. Ou nossa visão distorcida dele. E o nosso Tim, imaginem, nem foi candidato ao Oscar de ator estrangeiro. Injustiça. ===>>> LEIA MAIS

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24 de fevereiro de 2008

RIMBAUD e JACK KEROUAC: o prazer e o luto das biografias, por Chico Lopes

Ultimamente, diante da dificuldade para se comprar livros devido aos preços assustadores, tenho me inclinado para títulos que sempre quis ler disponíveis em sebos e promoções (basta ter paciência e sair à procura) ou para edições que têm preços mais justos para um brasileiro comum, de poder aquisitivo claramente limitado. Entre esses livros, comecei a comprar os da editora L&PM, pockets de gêneros muito diversificados, capazes de atrair, pela fama dos autores e mesmo pela audácia de certas edições. De cara, mergulhei nos muitos Bukowskis que a editora oferece. Depois, fui vendo outros títulos, e decidi que tinha que ler um clássico que todo mundo parece conhecer, mas no qual eu nunca pegara: "On the road", de Jack Kerouac. O livro andava sendo de novo comentado por conta de uma adaptação cinematográfica que teria, sob direção de Walter Salles, nos EUA. O filme estaria sendo produzido e seria lançado neste 2008. Mas, de nada mais sei. Em todo caso, valeu o clima de comentário, porque isso me fez ir ao livro, que é de fato fundamental, ainda que muita coisa tenha envelhecido.
Daí, dos Bukowskis, fui para os Kerouacs que a editora também oferece. Li "Os vagabundos iluminados", constatando que nele, infelizmente, Kerouac é derivativo, quando não desigual, auto-indulgente (o budismo devocional do livro é particularmente cansativo e redundante) ou simplesmente chato. Mas, não desanimei, porque a prosa de Kerouac, cheia desses defeitos, é também marcada por lampejos de uma força poética sempre considerável, e comprei "O viajante solitário", em que o clima de "On the road" dá melhor as suas caras. A impressão que se tem é que Kerouac foi vítima da tremenda fama adquirida por "On the road" do ponto de vista do mercado editorial e acabou tendo muita coisa sua, informe e sem interesse, publicada por questões mercadológicas, já que seu nome passou a valer ouro. Estas leituras me fizeram ter a curiosidade de saber melhor da vida dele, e, para isso, a L&PM também oferece um título: a sua biografia, escrita por Yves Buin. Basta lê-la e se descobrirá que Kerouac foi mesmo vítima da fama de seu maior livro. E que, infelizmente, não é um ser humano muito agradável. Ler esta biografia pode ser de uma tremenda importância para seus admiradores neófitos, e suponho que os tenha aos montes no Brasil, devido à lenda, que atravessa gerações. ++++++++++

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20 de fevereiro de 2008

RETRATOS URBANOS: antologia a ser lançada em maio de 2008

Andross Editora está recebendo crônicas para uma antologia a ser lançada em maio de 2008. Seu título: RETRATOS URBANOS. A pretensão é que esse livro seja destaque no estande da Andross na 20º Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que acontecerá de 14 a 24 de agosto de 2008.

Para visualiza capa do livro inteira (com lombada, contra-capa e orelhas), clique aqui.
Para participar da comunidade do livro no orkut, clique aqui
Para submeter uma crônica para avaliação, entre em contato com Andross Editora

Andross Editora - Edson Rossatto
11 6943-7687 - 11 8217-6191
edson@andross.com.br

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Um estilizador sóbrio e intenso de dramas familiares, por Ângelo Caio Mendes Correa Jr.

As palavras que dão título a estas evocações em torno da vida e da obra do escritor Antonio Olavo Pereira foram a ele atribuídas por Alfredo Bosi, em sua clássica História Concisa da Literatura Brasileira.
Nome largamente conhecido do público nas décadas de 50, 60 e 70, detentor de vasta fortuna crítica, embora tenha deixado uma obra pequena em número de títulos, é posível afirmar, sem nenhum favor, tratar-se de uma das figuras mais importantes da prosa psicológica da literatura brasileira pós-45.
Nascido aos 5 de fevereiro de 1913, em Batatais, interior de São Paulo, quinto filho numa irmandade de nove, veio para capital paulista aos 14 anos, onde estudou no Colégio Rio Branco e no Ginásio do Estado.
Seu irmão mais velho, José Olympio Pereira Filho, que em 1918 se iniciara no ramo livreiro na antiga Casa Garraux de São Paulo, fundaria, em 1931, aquela que por décadas foi a mais importante casa editorial brasileira, a Livraria José Olympio Editora, tornando-se o maior editor dos modernistas brasileiros. Basta lembrar que José Olympio reuniu entre seus editados nomes como Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos,Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge de Lima,, Murilo Mendes, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado e Lygia Fagundes Telles, dentre tantos outros da mais alta relevância para nossas letras. Foi também José Olympio quem criou a célebre Coleção Documentos Brasileiros, que ao longo de mais de meio século publicou cerca de duzentos títulos de história, sociologia, filosofia, antropologia, crítica literária, economia e outros assuntos relacionados à cultura brasileira. Inaugurada com Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, teve entre seus autores nomes como Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, José Veríssimo, Oliveira Lima, Luís da Câmara Cascudo, Nelson Werneck Sodré, Lúcia Miguel Pereira, Capistrano de Abreu e Paulo Prado. +++++++

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18 de fevereiro de 2008

Vergonha de quê?, por Noga Lubicz Sklar

"Jim, how beautiful you are!"
de Nora Barnacle a James Joyce, morto, pelo visor do esquife

Que por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher, todo mundo sabe. Mas por trás de uma grande mulher, existe o quê? Um homem pequeno? Um ego masculino domado? Amansado, sim, mas a pão-de-ló, cama, cozinha e roupa lavada, café da manhã na cama. Pequeno? Talvez. Mas, certamente, raro. Nem sempre paciente.
"Bem, Jim está escrevendo seu livro. Vou pra cama e este homem se senta no quarto ao lado e continua rindo do que ele mesmo escreve. Então eu bato na porta e digo, Jim, olha, pára de escrever ou então pára de rir." É meia-noite, num certo apê em Zurique. Mas pelo que sei, poderia ser aqui, ao meio-dia, nesta sala apertada do Alto Leblon, e esta fala na boca do Alan, é, gente. Sim: é duro ser Noga e Nora ao mesmo tempo. ===>>> ++++++

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16 de fevereiro de 2008

CARTA A D. - HISTORIA DE UM AMOR

Este é o último livro do filósofo francês André Gorz, escrito para homenagear sua mulher, Dorine, com quem partilhou a vida por quase sessenta anos. O casal cometeu suicIdio em 22 de setembro de 2007; os corpos foram encontrados um ao lado do outro, e um cartaz, na porta de sua casa, pedindo que a polícia fosse avisada. Gorz, discípulo de Sartre e co-fundador do 'Le Nouvel Observateur', era um crítico radical da mercantilização das relações sociais, contrário à crença no trabalho assalariado, além de ser autor de vários livros sobre ecologia. Desde o início da década de 90 vivia em retiro com a mulher, que sofria, há anos, de uma doença degenerativa. Os dois viveram uma grande história de amor e companheirismo, após terem se conhecido em Lausanne, numa noite de neve, em outubro de 1947. Desde então, nunca mais se separaram.

Eis como começa o livro, escrito em 2006.

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e dois anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

O parágrafo foi bastante lembrado no fim do ano passado, quando veio a notícia de André Gorz e sua mulher, Dorine, suicidaram-se. Ela sofria de uma doença degenerativa há muitos anos. Eles se conheceram em 1947.

Eu despi o seu corpo com cautela. Descobri, miraculosa coincidência do real com o imaginário, a Vênus de Milo tornada carne. O brilho nacarado do pescoço iluminava o seu rosto. Mudo, contemplei longamente esse milagre de vigor e de doçura.

Entra em discussão o tema do casamento.

Eu tinha objeções de princípio, ideológicas. Para mim o casamento era uma instituição burguesa; eu considerava que ele codificava juridicamente e socializava uma relação que, sendo de amor, ligava duas pessoas no que elas tinham de menos social [...] Eu dizia: “O que nos prova que, em dez ou vinte anos, nosso pacto para a vida inteira corresponderá ao desejo do que teremos nos tornado?”

A sua reposta era incontornável: “Se você se une a alguém para a vida inteira, os dois estão pondo em comum sua vida e deixarão de fazer o que divide ou contraria a união. A construção do casal é um projeto comum aos dois, e vocês nunca terminarão de confirmá-lo, de adaptá-lo e de reorientá-lo em função das situações que forem mudando. Nós seremos o que fizermos juntos”. Era quase Sartre.

Naturalmente, o segredo está no sentido que se atribui ao termo “adaptá-lo”. Sartre e Simone de Beauvoir construíram uma vida em comum que se “adaptou” aos inúmeros casos que ambos tiveram fora da relação. O problema começa quando há desacordo a respeito das formas com que cada um dos cônjuges concebe a “adaptação”. É muito provável que um dos lados “se adapte” mais do que o outro... (MARCELO COELHO)

CARTA A D. - HISTORIA DE UM AMOR

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10 de fevereiro de 2008

Ah, se eu soubesse, por Noga Lubicz Sklar

Frase enigmática que por muito tempo intrigou os intérpretes do Ulisses de Joyce, "Women won´t pick up pins. Say it cuts lo." - Mulher não apanha alfinete. Diz que corta o am. (ou em outra opção de tradução, espanta o aman) - esse espanta o aman, ou corta o am, não passa de uma boa mandinga: mulher não apanha alfinete no chão porque espanta o amor, cuts lo(ve), deu pra entender? Bom. Desculpe aí se o mistério acabou de perder a graça.
Ah. Pena que eu não soubesse disso. Já fiz a mandinga contrária, gente, é: me acreditem. E me dei muito mal. Funcionava assim, envolvendo pétalas de três rosas vermelhas - e vela de sete dias, sem fita amarela, e bilhetinhos cortados com o nome do amado - fervidas em água com mel, você besuntada com aquela mistura melada antes do primeiro encontro e o bilhetinho nomeado debaixo da vela acesa de sete dias. Podia até ser que não resultasse em fogo na casa, mas no coração de alguém, jamais falhava. E comigo tampouco falhou: fiquei com o sujeito insistindo na minha cola, bem depois de ter decidido, de ter tentado ardentemente, me afastar para sempre dele, ah! se eu soubesse o macete do alfinete. Apanhava do chão quantos fossem preciso.

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30 de janeiro de 2008

Cadê os nacionais?

O Globo - 30/01/2008 - por André Miranda e Miguel Conde
Duas palavrinhas devem ser acrescentadas à velha máxima de que "brasileiro lê pouco". Levantamento feito pelo jornal Globo junto às principais editoras do país, e ilustrado na pilha de livros ao lado, mostra que apenas um nacional figurou entre os dez livros de ficção adulta mais vendidos no Brasil em 2007: Elite da tropa" (Objetiva), uma obra cujas vendas foram alavancadas pelo filme-sensação "Tropa de elite" e que possui o apelo extra de ser uma história real "disfarçada" de ficção. Portanto, se é verdade que o brasileiro lê pouco, parece mais claro ainda que o brasileiro lê pouco romance brasileiro. O desempenho comercial da ficção brasileira parece ainda mais fraco após uma olhada na lista de não-ficção, na qual a presença nacional é muito maior: em 2007, houve semanas em que até seis livros brasileiros apareciam entre os dez mais. No ranking de ficção, Elite da tropa ficou em oitavo, atrás de obras de autores de Afeganistão, Austrália, Índia, Estados Unidos e Espanha. >> Leia mais

Leia também: Assunto relevante, no Bloga Noga

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27 de janeiro de 2008

Fuga ao real: incompreensões do público leitor, por Chico Lopes

Livrarias, claro, são dos meus ambientes favoritos, sejam elas grandes, espaçosas, iluminadas e recheadas de stands e cartazes, sejam pequenas, estreitas, cubículos como certos sebos, onde o cheiro de livros velhos já é um tremendo excitante. Mas, percebo que as livrarias de maior atração para o público, hoje em dia, não são exatamente lugares onde se pode conhecer os melhores e mais refinados leitores.
Como freqüentador, tenho tido a tristeza de constatar que quase não se procura mais livros de ficção mais refinados e incomuns e que o leitor já não se parece mais com um tipo decididamente culto com quem valha a pena conversar. Ele entra com idéia fixa na aquisição de algum livro que freqüenta a lista dos best-sellers (alguns mais rebarbativos levam até nas mãos para fazer suas compras), estrangeiros em maioria e destinados a entreter, tudo bem, mas dificilmente obras que poderão levar a reflexões maiores e mais interessantes sobre o mundo.
Quando um livro até bem corajoso como "Deus - Um delírio", de Richard Dawkins, faz sucesso, percebe-se que é menos pela força e a riqueza da argumentação do que pelo escândalo que vem suscitando um autor ateu confesso que ataca as religiões - grosso modo, é isso o que fisga o comprador superficial: um apetite pelo sensacionalismo. As razões que o levam a comprar um livro não são as melhores, infelizmente. É possível (e é mesmo observável) que muitos livros que se vem comprando a esse preço escandaloso na faixa dos 50 a 60 reais ou mais, acabem sendo pouco lidos e rapidamente negligenciados e encostados (há sebos com livros praticamente novos, deixados de lado por compradores apressados que não encontraram neles a excitação esperada).===>>> LEIA MAIS

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26 de janeiro de 2008

Paradigmas, por Noga Lubicz Sklar

"A arte" - afirma A.E., o poeta George Russell, no nono episódio (dialética) de "Ulisses" - "deve nos revelar idéias, essências espirituais informes. A questão suprema sobre uma obra de arte é a profundidade da vida que brota dela."
"O resto" - conclui - "é especulação de um colegial para outros."
Bons tempos. O que é que escapa hoje em dia ao rótulo maldito de pura especulação? Hein? Pelas mãos de quem faz tempo já passou de seus tempos de colegial? Não a arte. Certamente que não. E o espírito? Ainda menos.

Ah. O espírito. Que perda de tempo. A vida esotérica não é pra qualquer um, diagnostica Joyce - pela irônica boca idealista de Stephen Dedalus, seu alter-ego jovem quando artista - antes que a dor da vida o transforme num Bloom traído qualquer. Entre ovos áuricos cintilantes e um corpo de carne que muda, completamente, a cada seis meses - ops. exagero. hoje em dia, todo mundo sabe: a cada seis anos - J.J. oscila hilário entre crente e sarcástico, entre o ridículo e o radical. ==>> LEIA MAIS

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22 de janeiro de 2008

Da morte de Suzanne Pleshette e outras conversas entre sobreviventes, por Chico Lopes.

Uma amiga, freqüentadora das sessões de filmes clássicos e nostálgicos que são promovidas pelo Instituto Moreira Salles - Casa da Cultura de Poços de Caldas, aos domingos, me manda e-mail com notícia da morte da atriz americana Suzanne Pleshette, aos 70 anos.
Não tivesse ela participado no papel da professora que morre atacada pelas aves, sacrificando-se pela vida da irmãzinha do homem que ama em "Os Pássaros", de Hitchcock, creio que a notícia ficaria ainda mais restrita a alguma nota de fundo de jornal. Foi também a bibliotecária que é mal vista numa cidadezinha do interior careta dos EUA e, enfastiada, vai para Roma, onde conhece Troy Donahue, no lembradíssimo (mas menos cultuado pela crítica) "O candelabro italiano", de Delmer Daves.
Seu nome era Prudence, uma piada com sua imprudência ao ler algum livro proibido naquela biblioteca de cidade do interior, que sujara a sua reputação. O filme fez todo mundo amar e chorar naqueles inícios de anos 1960, ao som de "Al-di-lá", com Emilio Perícoli. Suzanne foi casada com Donahue, idolatrado por todas as jovens de então. Ela na garupa da lambreta de Donahue é ícone nostálgico infalível na memória de muita gente.
A notícia me chegou, e a repassei a um amigo cinéfilo que, também do interior de São Paulo, na certa se lembraria de Suzanne. Tomara ele tenha lembrado, e sentido o impacto que eu senti. Foi me dando um certo calafrio pensar que há pouca, pouca gente de meu círculo - geralmente os que estão na minha faixa de cinquentão - capaz de saber quem foi Suzanne.  ===>>> LEIA MAIS

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20 de janeiro de 2008

Liberdade para o quê?, por Contardo Calligaris

Liberdade não consiste em escolher nas prateleiras do supermercado


QUANDO JANTO fora, prefiro os restaurantes onde sou um cliente conhecido, porque, em princípio, eles aceitam com um sorriso meu comportamento, que é um pouco atípico: não gosto de ler o cardápio, peço o prato do qual estou a fim naquela noite, que ele esteja ou não no menu. Caso a cozinha não disponha dos ingredientes necessários, o maître e eu imaginamos um compromisso próximo de meus desejos.
Nota: às vezes os que lêem o cardápio do começo ao fim, à força de hesitar entre massas, risoto, carne ou peixe, acabam se entupindo de pão e couvert -e assim perdem o apetite.
Pensei nisso ao reler "O Paradoxo da Escolha, Por que Mais é Menos", de Barry Schwartz, recentemente traduzido em português (ed. Girafa).Schwartz constata, com razão, que a multiplicação das possibilidades de escolha (que é própria da sociedade de consumo) constitui, de fato, um fardo.

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Reparação, por Contardo Calligaris.

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A brutalidade de nosso desejo sempre nos deixa a tarefa de reparar o objeto desejado
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ESTREOU NA sexta passada "Desejo e Reparação", de Joe Wright -uma adaptação, essencialmente fiel, da obra-prima de Ian McEwan, "Reparação" (ed. Companhia das Letras).
O filme recebeu o Globo de Ouro para melhor drama e será certamente um sucesso de público. O livro de Ian McEwan é já um clássico e um best-seller. Por quê?
Certo, Joe Wright fez um filme maravilhoso, e McEwan é um dos melhores escritores do momento. Mas não é só isso.
Acontece que, na tela ou nas páginas, a história contada revela e ilustra um canto ao mesmo tempo escuro e familiar da subjetividade de todos nós, ou melhor, como se diz em psicologia, um mecanismo psíquico que governa nossa vida muito além do que a gente pensa.
Resumindo: uma menina, dotada de uma certa predisposição artística e inspirada por uma paixão amorosa e pelo ciúme inconfessável que essa paixão produz, faz uma sacanagem que estraga radicalmente a vida da irmã assim como a do jovem que ama essa irmã e é amado por ela.

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19 de janeiro de 2008

Um livro que ninguém lê, por Noga Lubicz Sklar

"não se preocupe, não sou tão intelectual quanto pareço. nunca li Nietzsche nem Hegel,
e o Ulisses de Joyce dorme há anos na minha cabeceira, esperando eu ter coragem de atacar.
no entanto, já vi muita coisa... os filmes velhos todos, de Aurora a Caligari. e Fred Astaire e Boggie...
depois Fellini, Almodóvar..."

Noga Lubicz Sklar em "Hierosgamos"

"Eu nunca li "Ulisses" de Joyce e provavelmente nunca o lerei", afirma com uma espécie besta de orgulho o francês Pierre Bayard, autor de um volume fininho e baratinho intitulado "Como falar de livros que não lemos?". Mesmo assim ele se considera apto a fazer referência a Joyce em suas aulas, já que está por dentro do assunto e da "situação" do épico romance. Azar o dele.
Não dá pra negar que uma breve sinopse de Ulisses tem lá sua breve utilidade, o que não substitui em hipótese alguma o prazer de mergulhar plenamente nele. Digamos assim: o enredo é um roteiro de viagem, um bem-bolado folheto de propaganda da agência com uma ou duas páginas e uma bela imagem na capa. Mas quem imagina que só isso basta, que já provoca o tesão - pessoal e insubstituível - da descoberta de um mundo novo, uma outra cultura, paisagens exóticas e o clima excitante do desconhecido, tsk tsk: se ilude. É como, mal comparando, visitar o Louvre pela internet e acreditar-se um connoisseur de história da arte. Ou se contentar com a Monalisa em foto de celular.
Vou contar pra vocês como é que estou lendo Ulisses. Sim, no presente: estou lendo.

Convite da NOGA: Acompanhe online a criação do meu próximo livro: Crônicas irônicas de Ulisses.

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13 de janeiro de 2008

A América contra a caretice, por Noga Lubicz Sklar.

"Não existe uma América negra. Não existe uma América branca. Não existe uma América latina ou uma América asiática. O que existe são os Estados Unidos da América", prega o mantra comunitário de Barack Obama a favor de um mundo civilizado.
"Maravilhoso, não?", comenta Ali Kamel em seu artigo "Obama" no Globo. "Tudo isso escrito e publicado por um político negro nos EUA. Que os Estados Unidos tenham um candidato negro, viável, e que pense assim, é em si um sinal de que se está mais perto do sonho de Martin Luther King", continua o Ali. E de alguns outros sonhos também. Um sonho ameaçado, no entanto, pelo conservadorismo americano, que embora dê sinais de algum desejo de mudança, ainda persiste na caretice. E persiste apesar de atitudes progressistas, que plantaram sua semente de modernidade há muito tempo atrás.
Não sei vocês, mas eu não sabia disso: o Ulisses de James Joyce, banido nos Estados Unidos sob a acusação de obscenidade, só foi publicado, em 1933, graças à sensibilidade do juiz federal John M. Woolsey.

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Filmes dignos de espera: as promessas cinematográficas do ano de 2008, por Chico Lopes.

O começo de 2008 está já com ares de celebração nos cinemas. Muita coisa boa e elogiada pela crítica americana deve chegar neste janeiro e nos próximos meses. Não esquecer que o Oscar é já em fevereiro, e que "Desejo e reparação", de Joe Wright (que estreou de maneira incerta, com "Orgulho e preconceito", no cinema), está valendo todas as apostas, desde o desempenho no Globo de Ouro. Não vi o filme e espero vê-lo para, dentro em breve, comentá-lo aqui, junto aos leitores do Verdes Trigos.
Por tudo que ando lendo nos sites de cinema americanos, desde Roger Ebert e Emmanuel Levy ao painel de "reviews" no "Rotten Tomatoes", passei a ficar à espera de algumas promessas que parecem bem substanciosas.
O diretor inglês, Ridley Scott, realizador de grande talento que já nos deu "Blade Runner", "Alien - O oitavo passageiro" e "Thelma e Louise" - mas que, infelizmente, também faz filmes bem fracos e comerciais, deixando seus admiradores indecisos entre apreciá-lo e ignorá-lo - está de volta com "O gângster", que vem recebendo enormes elogios e tem dois atores de primeira nos papéis principais, Denzel Washington e Russell Crowe.
Fala-se muito também de "There will be blood" ("Sangue negro") de Paul Thomas Anderson, o mesmo autor do excelente "Magnólia", e de "No country for old men" ("Onde os fracos não têm vez") dos irmãos Coen. No primeiro, os elogios são nunca menos que rasgados para a atuação de Daniel Day Lewis na pele de um homem solitário que enriquece com o petróleo, mas cuja ambição e dureza o impede até mesmo de amar o único filho que tem. Do filme dos irmãos Coen também se fala maravilhas, especialmente do desempenho do ator espanhol Javier Bardem, que está se consagrando na América com a interpretação de um matador implacável cuja maldade intensa é coisa poucas vezes vista no cinema - já estão comparando a atuação e o personagem de Bardem com a de Anthony Hopkins para Hannibal Lecter em "O silêncio dos inocentes". ==>> LEIA MAIS

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5 de janeiro de 2008

'Do jeito que nós vivemos

A internet, os livros, os vizinhos, a figura do malandro, a vaidade, a velha história da relação entre homens e mulheres são alguns dos temas das crônicas presentes em 'Do jeito que nós vivemos', de Moacyr Scliar. O olhar perspicaz do cronista flagra as cenas mais comuns do nosso cotidiano, da nossa vida de todos os dias, e as registra nessas páginas. Este livro traz o grande romancista para muito perto de nós. E, como disse Luís Fernando Verissimo, é muito bom tê-lo em nossa vizinhança.

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Revista Verbo21 está sempre atualizada ...

O Conceito de “Pós-Moderno” ainda é atual?
Ensaio » Uma pergunta infernal e cheia de espinhos, que gera dúvidas, debates e questionamentos em muitos pensadores. Um mal-estar, como diria o sociólogo Zygmunt Bauman. Mas vamos (...). Dez, 2007

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2 de janeiro de 2008

Feliz Ano Novo, por T.M. Castro.

Era a década de oitenta, oitenta e dois, talvez. Eu beirava os dezessete anos. Dia trinta e um de dezembro.
A Noite de Ano apresentava-se como de sempre, um saco familiar em que todos os gatos adquiriam sua verdadeira cor. Uns bebiam uma garrafa a mais; outros reclamavam do filho mais velho, sempre atrasado para a reunião e com os olhos injetados, conjuntivite de canabis; outra, usando um vestido branco que parecia começar na cintura, causava furor em nossa avó, vera matrona, real matriarca, tivéssemos então a grana que um dia se foi. Primas e namorados, sempre a procurar lugares ermos dentro da grande casa, como se houvesse moitas e arbustos em salas desusadas, em despensas de armazenar gêneros, em salas de livros e lugares que tais, despertavam comentários entre as duas empregadas e o jardineiro que ainda restavam do antigo plantel (saudável hábito nordestino este de manter criados por gerações a fio: conforto para uns e sobrevivência para outros e não há como mudar nem reclamar, tente-se). Na casa, em noite de ano novo, já se encontrou casal inspecionando a caixa d’água, trinta degraus acima do solo, gente no porão procurando obras de arte perdidas e por aí ia.
As conversas, sempre as mesmas: tio Heráclito, velho comunista de uísque, não cansava de pregar o sucesso do maxismo no leste europeu, elegendo Tirana como a nova Paris. Dom Raimundo, o monsenhor que emprestava dignidade católica ao clã, esbravejava, praguejava, tomava um gole a mais, finalmente mandava o comunista pra puta que pariu, pedia escusas pelo destempero, culpava o uísque, pedia outra dose e invocava o papa, exterminaria Sua Santidade o mal herético do ateísmo histórico. ==>> LEIA MAIS

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29 de dezembro de 2007

Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis

Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis

de Nathan Englander (tradução de Lia Wyler; Rocco; 224 páginas; 36 reais)

Publicado nos Estados Unidos em 1999, esse livro foi uma das mais aclamadas estréias dos últimos tempos. Englander foi comparado a outros grandes escritores judeus, como Bernard Malamud, Saul Bellow e Philip Roth. E ele faz por merecer essa admiração crítica. Seus nove contos visitam o universo judaico com uma ironia que não dispensa o sentimento da tragédia histórica, como se vê em O Vigésimo Sétimo Homem, sobre um grupo de escritores iídiches que são torturados e mortos na União Soviética de Stalin, ou no conto-título, sobre as dificuldades sexuais de um casamento ortodoxo.

 

[Termino o ano de 2007 com a leitura deste lançamento do Nathan: um presente da Noga (isso mesmo, ela surpreendeu-me com este livro), vou conferir letra por letra. Nathan Englander é matéria de capa do Prosa & Verso, do Globo, de 29/12, com entrevista e mil elogios]

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Segredo ou sagrado?, por Noga Lubicz Sklar.

Segredo ou sagrado?
"Nunca aceitei esse ranço de obediência na relação do artista com as multinacionais. De eles saberem mais, de terem o poder de orientar. Eu sempre disse não, e eles sempre respeitavam esse não. Porque eu sempre fiz muito bem tudo o que quis."
Maria Betânia, imperdível, em entrevista ao Caderno Ela de O Globo

Na mesa de almoço em família comunico ao meu tio intelectual minha firme intenção de atacar o velho Ulisses, de James Joyce — um livro que é meu livro de cabaceira, ops, cabeceira, há mais de 5 anos* — nestas férias de fim-de-ano. Já tendo lido, com um prazer inenarrável (ui!), as primeiras cem páginas, não consigo entender as razões para ter hesitado tanto. Deve ser o marketing, ou no caso, o anti-marketing, confirmado por minhas jovens primas: é chato.
Mas, gente, se tem um adjetivo que não se aplica, de jeito nenhum, a esse ícone da literatura, é este. Chato? Pode ser incomum. Pode até ser meio difícil pra quem não tem o hábito da boa leitura, se limitando aos novos lançamentos, resenhados e elogiados por razões muitas vezes obscuras (pra não dizer comerciais, mesmo). Mas chato nunca. Instigante. Poético. Ousado. Isso sim. Nunca gratuito. A gente sente por trás dos neologismos, das citações, da ordem expressa das palavras, a clara intenção do escritor. Nada. Nada de preguiça de (re)escrever ou pressa de publicar. Por enquanto estou lendo, claro, a tradução de Antonio Houaiss. E por falta de opção melhor confiando nela, na erudição do tradutor, na compreensão ampla que ele teve do original, coisa que certamente eu jamais alcançarei. Porque meu passo seguinte, pasmem, é perscrutar o original que encomendei na Amazon. Que pretensão. =>> LEIA MAIS

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21 de dezembro de 2007

Suspiros de 2007 e o que esperar de 2008, por Chico Lopes.

Meus leitores sabem que sou mais de ver ou rever filmes em DVD do que de ir aos cinemas porque, decididamente, não tenho espírito novidadeiro o bastante para achar, entre os tantos lançamentos, algum que me pareça mais digno de atenção. Os filmes, na atualidade, chegam rápido ao formato DVD e, tendo passado o tempo de barulho, de "sucesso", sofrem certa decantação (ela também mais acelerada, em que pese o paradoxo) e pode-se escolher melhor. O que não nos isenta de decepções, porque, hoje em dia, há muito mais publicidade que qualidade. Os outdoors, capas de revista, páginas da Internet, obas aqui, obas acolá, dão a impressão de que cada filme que sai é imperdível. É a ilusão de um mundo excessivamente consumista onde o excesso de sinais pretensamente qualitativos a todos engana.
Nessa floresta de chamarizes falsos, é preciso ter certa resistência crítica que chega a parecer estoicismo e escolher com frieza.
O hábito de ver e trabalhar profissionalmente com filmes dá considerável fadiga nesta época, quando todo mundo se põe a fazer listas dos melhores do ano, encontrando certas unanimidades e estranhando quando alguém não dá muita bola pra elas.
Eu não me abalo. Creio que, ecoando o "ficou chato ser moderno/agora serei eterno", de Drummond, procuro mais o que é sólido nesse mar de futilidades e descartes automáticos que nos assola. Simplesmente, Will Ferrell e Adam Sandler e não sei mais quem ainda não me convenceram de que são comediantes ou atores minimamente interessantes - ninguém pode superar Jack Lemmon ou Jerry Lewis nesses momentos e, se uma mesma locadora dispõe de títulos novos e antigos, e o usuário que entra conhece bem o cinema do passado, só entrará em fria vendo coisas novas se quiser. => LEIA MAIS

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19 de dezembro de 2007

UMA PAIXÃO EM PRETO E BRANCO - ATLÉTICO 100 ANOS

Escrever um livro nunca foi problema para Roberto Drummond. Ele nos brindou com várias obras, sempre recheadas de talento. Falou sobre o cotidiano, fez biografias, escreveu romances. Mas um sonho não foi realizado. Apaixonado por futebol e, acima de tudo, pelo Atlético, ele, cronista esportivo desde 1º de junho de 1969, quando assumiu a coluna "Bola na Marca" no jornal Estado de Minas, sempre idealizou um trabalho sobre o futebol. A chance veio com o convite para escrever o livro sobre o Galo na coleção "Camisa 13". O seu entusiasmo na época foi muito grande. Era a realização do sonho que carregava havia décadas. Mas esse sonho foi interrompido naquele 21 de junho de 2002.
A Editora Leitura traz não só para os torcedores do Clube Atlético Mineiro, mas também para todos os admiradores dessa fanática e fiel torcida alvinegra esta seleção de crônicas que é mais que uma homenagem a Roberto Drummond. É o livro de futebol que ele nunca publicou e sobre o seu grande amor: o Atlético. Uma Paixão em Preto e Branco reúne as melhores crônicas do autor nos momentos marcantes da trajetória do clube, que, com certeza, vai emocionar todos os atleticanos do Brasil.

[Quando vivi em BH, torci muito pelo Galo. Inúmeras vezes fui ao Mineirão ver o Reinaldo jogar. Belos tempos. Agora, no Estado de São Paulo, obrigo-me a ver meu time fora da 1ª divisão do campeonato brasileiro]

update: TV Galo: Reportagem: Lançamento do Livro: http://br.youtube.com/watch?v=yWtexAAwNKs

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15 de dezembro de 2007

Centenário, por Noga Lubicz Sklar.

Esta crônica, publicada originalmente em 15 de janeiro de 2007 no Noga Bloga, foi responsável por minha seleção para a Oficina de Crônicas da Flip, e é com ela que homenageio, hoje, o centenário ilustre do dia. Obrigada por sua inspiração, Mestre Oscar. Nisso e em tudo o mais.


Hey, Óscar
Em minhas mais íntimas fantasias, me sinto igualzinha a qualquer celebridade (celebridade verdadeira, digo, como Picasso, Fellini, Caetano. Pina Bausch e outros do nível, nada de Ilha de Caras, por favor, que dessas não chego nem perto. Haha. Vocês notaram. Deixei o Philip Roth de fora, porque aí já seria pretensão demais). Não vejo diferença nenhuma entre o talento deles e o meu, mas como personalidade, é óbvio que o buraco é mais embaixo. Não sei o que me falta, gente: talvez um pouco mais de loucura, de ousadia, de um não-ligar-pro-que- alguém-pensa-de-mim. Ainda não cheguei lá mas vou me arrastando, penosamente, nessa direção. =>> LEIA MAIS

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8 de dezembro de 2007

Que livro é esse?, por Noga Lubicz Sklar

Promoção inédita no Globo premia com um exemplar de "Eu sei que vou te amar", novo livro de Arnaldo Jabor, as sessenta melhores respostas para a pergunta "Qual a maior loucura que você já fez por amor?" enviadas para o endereço promoglobo@oglobo.com.br.
Vou à Cultura e descubro que não, não é erro do jornal. O livro acaba de ser lançado pela Objetiva, mas uai, gente, não era esse o nome de um filme de Arnaldo Jabor? Que, se não me engano, deu prêmio em Cannes a uma muito jovem Fernanda Torres?
Normalmente o trajeto do livro ao filme se dá na direção oposta, e me acreditem: é a melhor coisa. Ter visto o filme interfere demais na relação muito íntima, quase sexual, que o leitor estabelece com o livro através da imaginação.
Tudo bem que a forma escrita, o ritmo, a escolha da palavra certa e da ordem certa das palavras contribui bastante, o sentir na pele o empenho do autor, o gozo pleno da literatura. Bah. Coisa mais antiga, do tempo assim, digamos, de Flaubert, como muito bem mostra este post do Digestivo Cultural. Porque ninguém tem mais tempo pra isso, fala sério: vinte páginas escritas em um mês? E o mercado, gente? E o mercado? Além do mais, a imposição da imagem hoje em dia é tanta, e tão intensa, que tanto faz a linguagem, e é aí que o livro-depois-do-filme perde um bocado da graça. Pelo menos é o que estou sentindo ao finalmente ler, com considerável atraso, aquele que é considerado um dos melhores romances do século, hum, qual? Vinte e um? (É meio cedo pra isso, né não?) Nele, se realiza a contento a descrição dos personagens, das paisagens e ambientes, a vivacidade da trama, todos brilhantemente traduzidos em filme no maravilhoso "Reparação", baseado no romance homônimo de Ian McEwan - nossa, alguém já me ouviu elogiar um filme assim? Acho que eu estava de bom humor naquele dia ou, no mínimo, muito bem acompanhada, me sentindo bem-amada.==>> LEIA MAIS

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3 de dezembro de 2007

Loja de bonecas II, por T.M. Castro

Em minhas andanças, vi-me, certa ocasião, em uma rua cuja estreiteza bem demonstrava sua secular existência. Em ambos seus lados alinhavam-se pequenos cômodos sob forma de caixas de vidro, vizinhosinconhamente, pegados uns aos outras por paredes de alvenaria. Entre uns e os outros que também se lhes defrontavam, não caberiam mais que dois a três passos do comum caminhar, razão porque o tráfego de veículos era ali vedado ou atéimpossível. Eram as caixas a parte térrea de edificações do século XVIII, com suas típicas janelas estreitas e compridas. Cortinados ao fundo limitavam o espaço envidraçado, vedando ao transeunte observador ter ciência da parte térrea que sobejava à caixa e de escadas de madeira que provavelmente conduziam aos andares superiores , dois ou três. A simetria e mesmismo que imperavam no conjunto eram habilmente disfarçados pelo multicolorido do interior das caixas, pela diversidade física das silhuetas nelas enclausuradas, uma a cada caixa, e pelos atavios, maquilagens e costumes que usavam. Sem dúvida, encontrávamo-nos em uma loja de bonecas de tamanho natural e esta impressão, em tudo real, só se dissipava pelo humano piscar de olhos daquelas quase imóveis criaturas.
Turistas que éramos, já tínhamos ouvido falar que naquela parte de Amsterdã, sua zona antiga, suspeita, vermelha, havia primores de caixas ornadas com veludos, cortinados e chaises longs à Recamier onde belíssimas mulheres, qual bonecas, mui bem maquiladas e vestidas, se expunham ao olhar dos passantes, que se demoravam frente às vitrinas. Significativos gestos e olhares cambiados entre o ser envidraçado e o passante compõem o preambular ritual da mercancia que se travará nas partes posteriores das caixas, cômodos que os postulantes só poderão devassar com seus olhos e corpos quando já admitidos clientes ou fregueses. =>>> LEIA MAIS

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14 de novembro de 2007

Oh, Yoko! , por Noga

"Our life, together, is so precious, together, we have grown, we have grown."
John Lennon

É tão fácil para fãs dos Beatles, entre os quais me incluo, que já virou clichê há muito tempo: culpar Yoko Ono pelo fim do sonho. De todos os nossos sonhos. Me admira é Daniela Thomas e Arnaldo Jabor caírem nessa. Yoko como artista não chega aos pés de Lennon, tá certo, mas vai saber o que John viu naquele dia, naquela galeria de Londres, nos pés da mulher baixinha trepada na escada com um martelo na mão. Alguma coisa muito bela foi, bela a ponto de durar, inspirar, capitular. Transformar um homem revolucionário, mais famoso que Jesus Cristo, em amoroso househusband, já pensou? Não é pouca coisa. Deste encontro veio a mensagem de paz que o Jabor menospreza, algumas das mais belas canções de amor que a gente conhece, um belo filho e um trágico desfecho. Ou a gente acha que o John era gênio ou que o John era ingênuo a ponto de se entregar à "víbora", pobre Yoko. Imagino o assédio assassino dos fãs se até eu, que não sou ninguém, já fui vítima disso. Yoko, garanto, pouco liga: foi amada, idolatrada, salve salve, por um dos homens mais cobiçados da história. Bom pra ela que até hoje ainda se alimenta deste grande amor. Ela merece. Já o veneno de quem a detesta sem nenhum motivo nem sai da língua gordurosa de quem o destila. Cuidado aí pra não mordê-la. (Noga Bloga)

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9 de novembro de 2007

Antes ou depois da chuva?, por Lucius De Mello.

Mário de Andrade viveu uma intensa história de amor com Belém, a capital do Pará. Estar no mercado Ver o Peso, era um dos programas prediletos do poeta paulistano. Lá, onde as palavras e as idéias, em fartura, disputam com os patos, os peixes, os ingredientes da maniçoba, o tucupi, o cupuaçu, o bacuri, o açaí, o artesanato e os curandeiros da floresta, a preferência dos consumidores da subjetividade. Escritores sempre voltam de Belém grávidos.
Turista aprendiz, o autor modernista soube consumir o mundo subjetivo da Amazônia como poucos. Assim também o fez Carlos Gomes. Foi em Belém que o nosso compositor maior morreu. Hoje ele é lembrado em todas as noites de espetáculo no Theatro da Paz. Seja qual for o tema ou autor da peça, ópera ou concerto a ser apresentado, as cortinas de veludo vermelho sempre se abrem ao som do trecho mais famoso de O Guarani. Pude conferir ao assistir a apresentação solo da soprano paraense Patrícia de Oliveira. Naquela noite, era o único convidado a ocupar o privilegiado camarote do Secretário de Estado da Cultura.

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O olhar de um forasteiro que se deixou enfeitiçar por Poços de Caldas

Completando 15 anos de Poços de Caldas, o escritor Chico Lopes, nascido em Novo Horizonte, SP, escreve a crônica "O olhar de um forasteiro que ficou" sobre a bela cidade mineira, que completou 135 anos no dia 6 último.

Chico Lopes diz que sua carreira literária desabrochou por completo foi à sombra da serra da Mantiqueira e andando pela cidade de clima privilegiado e belas paisagens, tão inspiradora que o escritor Guimarães Rosa, no seu livro "Ave, palavra", chamou-a de "afrodisíaca".

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Quando o sapo vira Eros, por Sabina Vanderlei

Esta "tentativa" de crônica-artigo foi alucinada ao som do "Requiem", de Mozart, quando a autora deste pseudo-texto se deu conta dos seus idos vinte anos e de que com eles se foram (ou pelo menos deveriam ter ido) as ilusões da juventude ou os "famosos óculos cor-de-rosa"...
Homem ideal? Toda mulher tem, não adianta negar, mentir, fugir ou disfarçar! É biológico! Desde que o mundo é mundo, as fêmeas sempre buscaram os "melhores" machos, aqueles que, por algum motivo, mais lhe chamavam atenção. Seja o mais bonito, o mais forte, o mais inteligente, o mais rico, o mais poderoso, o "mais sarado", o bom de cama... Não importa, todas sempre escolhemos e sempre escolheremos, seja no nível das fantasias inconscientes, seja conscientemente.
Vale tudo na hora da escolha: mapa astral, simpatias, tarô, Santo Antônio... As mais modernas chegam a apelar para agências de matrimônio, salas de bate-papo, Orkut e outras opções ainda mais escusas. Tive oportunidade de conhecer cada um desses casos e, eu juro, vi pelo menos um em cada um deles funcionar! Então, vocês perguntam: como fazer dar certo? Por que com uma dá certo e com a outra não?
Homens reclamam que mulher é um "bicho complicado" e somos mesmo! Somos feitas de uma outra substância, somos predominantemente femininas e, arquetipicamente, o feminino é regido pelo princípio do Eros, que é o princípio de ligação, o amor, aquele que gera e mantém a vida. + + + +

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Genealogia da repressão, por Noga Lubicz Sklar.

"Uma equipe de biólogos franceses isolou um "gene Mestre", que faz as pessoas tentarem controlar o outro ... O estudo mostra que o gene está presente não somente nos que gostam de mandar, mas também nos que gostam de ser mandados, pessoas extremamente inclinadas a adotar modas de todos os tipos — um comportamento "fashion" —, e a suprimir opiniões e preferências que não são compartilhadas por seu grupo." Michael Crichton em "Next" (tradução livre do original em inglês)

A maioria das pessoas que eu conheço não confessaria nem sob tortura que um dia leu Michael Crichton. Nem eu. Mas a verdade é que, pra relaxar, gosto de ver filminhos, e se a coisa estiver muito preta, ler livrinhos, vocês sabem, só pra distrair.

Por conta desses enganos é que caí na esparrela do último filme de Meg Ryan, "In the land of women". Gente, tem alguma coisa de muito errado lá com a eterna cool girl — do muitas vezes repetido "Mensagem pra você" —, e até o fim do dvd, entre uma cochilada e outra, não descobri o que é. Não sei se é a idade (olha o coxo, etc, etc), ou uma plástica mal-feita, ou se é má interpretação mesmo, numa comédia de equívocos que junta maus atores a um roteiro ruim, passando inevitavelmente por uma péssima direção. Fujam. ++++++

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4 de novembro de 2007

Um passeio pelo inferno, por Elaine Tavares.

Chove a cântaros em Florianópolis. São seis e 15 da tarde e saio do trabalho como um bagaço. Foi um longo dia. A sombrinha comprada no camelô vaza água por cima e molha toda a minha cabeça. Aperto o passo para chegar logo à parada do ônibus. Mas, um motorista, dentro de um ônibus da Insular, passa a toda velocidade sobre uma poça de água e encharca a minha saia. Maldito! Não têm consciência de classe. Preparo-me para o calvário que me espera. Em Florianópolis ninguém fica menos de meia hora numa parada de ônibus.

Passam 35 minutos e eu ali, gelada e com ódio. Xingo os empresários dos transportes, os vereadores, o prefeito e toda a sua geração. O Volta ao Morro enfim passa e lá vou eu até o final da Carvoeira para pegar mais um ônibus - na famosa “integração” inventada por Ângela Amin - rumo ao Rio Tavares. A chuva não dá trégua. Já são sete e dez da noite e eu tenho de andar mais um pouco na chuva para chegar à parada. Começo a chorar, num ódio surdo deste transporte desintegrado, incompetente e ineficaz. Bate uma vontade de quebrar tudo. +++++

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3 de novembro de 2007

Auerbach e o Brasil de hoje, por Adelto Gonçalves.

Não há crítico literário digno desse nome nos séculos XX e XXI que não tenha lido e se deixado influenciar por Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental (São Paulo, Editora Perspectiva, 1970), de Erich Auerbach (1892-1957), obra de 1946 que se tornou clássica nos estudos de literatura porque, a rigor, abriu novas possibilidades de análise e leitura dos grandes textos da criação literária. Basta ver que professor Antonio Candido (1918), decano dos críticos literários brasileiros, sempre reconheceu que sua atividade foi fortemente influenciada por Auerbach.

Agora, meio século depois da morte do autor, a Editora 34 e a Livraria Duas Cidades, de São Paulo, depois de negociar com os herdeiros da obra, colocam nas livrarias Ensaios de Literatura Ocidenta l: filologia e crítica, coletânea organizada pelos professores Samuel Titan Jr. e David Arrigucci Jr. e que reúne 15 ensaios escritos entre as décadas de 1920 e 1950, período em que Auerbach se dedicou aos estudos literários, iniciado com sua tese de doutoramento Sobre a técnica da novela no início do Renascimento na Itália e na França (1921) e que se concluiu com Linguagem literária e pública na tardi a Antigüidade latina e na Idade Média (1958). + + + + + +

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2 de novembro de 2007

A conta ambiental dos Finados, por Efraim Rodrigues.

"O homem está destruindo a Terra!" esta meia verdade é o chavão mais batido nas aulas do ensino básico. Muitos homens, não todos, destroem e aliás, contam também com a ajuda de muitas mulheres.
Alguns homens e algumas mulheres não param de poluir nem quando morrem. A mesma tradição cultural que transformou os ciclos fechados, sustentáveis e sovinas da natureza, em ciclos abertos e perdulários da modernidade, transformou os seres humanos em matéria não reciclável. Da mesma forma que guardar as moedas em um porquinho de louça pára a economia, não reciclar os nutrientes dos corpos, causa problemas para a natureza. +++++++

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31 de outubro de 2007

A CRÔNICA E SEUS TEMAS, por T.M. Castro

O argentino Borges disse certa vez que só escrevemos sobre experiências que imaginamos possíveis de acontecer e que tais fenômenos são mui pouco originais, isto é, o campo que nos é oferecido éexíguo, daí escrevermos sobre poucas coisas, se pretendemos originalidade.
Eis, então, que só escrevemos sobre o que é sempre possível. Para fugir deste rame-rame, deveríamos, penso, buscar material no que existe fora do comezinho sempre. Dentro do sempre há um tudo descrito ou seráque ainda há algo a ser descerrado?

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Perdoe-me eventual paciente leitor por esta minha pretensa-pseudo filosofagem em torno do escrever e seus temas. É que, colaborador episódico do sítio literário Verdes Trigos, vi-me, de repente, de mouse em punho e nada desingular no cotidiano me ocorreu para narrar, pois pelejava comigo mesmo em torno de dois episódios distintos, mas concomitantes e interligados, que aconteceram no mundo literário de Brasília, DF.
Um, o conto "Hóspedes do vento", de Chico Lopes, escritor e também colaborador de Verdes Trigos; o outro, o artigo "Escrever para quem?", de Pedro Paulo Rezende, escritor e jornalista da equipe do Correio Braziliense, ambos publicados no encarte literário Pensar, do referido periódico, sábado, dia 27 de outubro. ++++++++

 

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30 de outubro de 2007

Benjamin, filho da felicidade; por Terezinha Pereira

benjamimdeoliveira Artigo escrito por Terezinha Pereira após apresentação da peça “Circo-teatro Benjamin”, no teatro da Escola Estadual Fernando Otávio, de Pará de Minas, em 20/10/07, pelo Grupo NEPAA – Núcleo de Estudo das Performances Afro-ameríndias, do Rio de Janeiro/RJ.

Essa peça tem o texto de João Siqueira e Zeca Ligiéro. Conta fatos e feitos de Benjamin de Oliveira, nascido em Pará de Minas/MG em 1870 e falecido no Rio de Janeiro em 1954. É tido como o primeiro palhaço negro brasileiro, artista de primeira grandeza, que além de se destacar como profissional do circo, introduziu o teatro dentro de um espetáculo de circo, encenou e adaptou obras de autores famosos, escreveu roteiros, compôs músicas, cantou e tocou violão. A peça “Circo-teatro Benjamin”, além de narrar a história deste artista múltiplo, de maneira fantástica e como muita alegria, apresenta uma cena de uma peça de Benjamin, “Sai Despacho!”.  +++++

* em destaque: cartaz de circo de 1909, com o imagem do Benjamin

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26 de outubro de 2007

Balança mas não cai, por Noga Lubicz Sklar.

Crash, ou melhor, ColisãoSe não me engano, foi Sérgio Rodrigues quem disse que o filme era chato e o livro, ilegível. Sérgio diz no post que o filme foi dirigido por David Cronenberg, mas pelo que sei, é na verdade de Paul Haggis, um diretor badalado que em 2006 arrebatou longa lista de prêmios, Oscar de melhor filme e roteiro original. Me lembro de ter gostado do filme, mas essa de roteiro original me confundiu: é baseado no romance homônimo ou não? Ah, bom, santo google que resolve todas as dúvidas, mas o fato é que o filme de Cronenberg não consta em lugar nenhum: não saiu em dvd, nem está no IMDB, ops, procura daqui, procura dali, achei: eis a diferença entre uma cronista que chuta e um jornalista que apura, sendo eu a primeira e o Sérgio, claro, o último, caramba, esbarrei sem querer numa polêmica das boas.
Tudo isso era só pra dizer, enquanto eu pensava que "Crash" — o livro ilegível de J. D. Ballard que eu não li, que o Sérgio odiou, mas muita gente boa adorou: o sujeito é badalado à beça, tem até ballardosfera na internet — é que tinha sido filmado por Haggis e resultado num filme imperdível... ou melhor, pra afirmar que outro livro ilegível como "O doce veneno do escorpião" tem a chance de resultar, pela intervenção talentosa de Karim Aïnouz, num filme decente e até relevante. Diz o futuro roteirista, diretor de "O céu de Suely", que "o filme vai retratar o submundo da prostituição em São Paulo", já fui gostando da expressão "submundo": dá uma certa esperança de colocar as coisas em seu devido lugar.
Agora, não vão vocês me culpar de ter a boca podre se, daqui a um par de anos, alguém fizer um filme homônimo, com tema semelhante e roteiro original (como no caso do segundo "Crash") — bancado pela Globo e estrelado pela estonteante Camila Pitanga no papel de Bebel —, jogando a história real da Bruna no esquecimento e arrebatando kikitos. Trata-se, aparentemente — e a julgar pelo sucesso de público das duas "damas" —, de tema apaixonante, embora a paixão amorosa fique pra sempre fora dele. Isso enquanto, na vida real (na minha, pelo menos), é a única coisa que verdadeiramente interessa.

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25 de outubro de 2007

Cassandra Corbu, por Ademir Pascale Cardoso.

Sul da França. Aldeia de Rennes-le-Château, em algum dia de outono do ano de 1877.

Desde criança, eu enxergava coisas que os outros não enxergavam... O que eu via? Pessoas... mas não pessoas normais de carne e osso; enxergava espectros.

Tudo começou quando eu tinha apenas 14 anos de idade, quando arrumei meu primeiro namorado; David Uriel - este era o seu nome. Nas tardes de Outono, costumávamos passear de nossas casas até a igreja de Santa Maria Madalena. O caminho era curto, mas a prosa era longa. Não saberia dizer de onde desencadeávamos tantos assuntos. Sentia-me bem ao seu lado... sua expressão era sempre sorridente; seu espírito tinha uma força benevolente e sua fala era talhada de sabedoria e cordialidade. As minhas perguntas eram sempre supridas com elucidativas respostas, porém, em uma tarde como todas as outras, não o encontrei no lugar e horário onde sempre costumávamos nos encontrar; no final do grande jardim de peônias de sua casa às 17h em ponto. Esperei por trinta minutos; minutos que duraram uma eternidade... +++++++

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24 de outubro de 2007

Que saudades da francesinha!, por T.M. Castro.

Que a volta seja a melhor parte da viagem é dito que se torna dia a dia mais verdade. Os dias de ausência são sempre permeados por lembranças bem peculiares a cada qual: aquele disco do Sinatra a acompanhar um uísque à tardinha, o jornal da terra sobre a santa mesinha, vera credência a apoiar hieráticos costumes cujas origens se perdem na poeira dos palácios persas, gregos, egípcios, romanos e se alojam em nossos costumes modernos e ocidentais; e o bafo do Lulu aos pés e até mesmo aquela baratinha francesa sempre a desfilar sobre o aparador da cozinha. Poupe-se a bichinha até minha volta.
Essa nostalgia pelo lar doméstico decorre dos percalços, a cada dia mais insólitos, mais desconfortáveis, mais inexplicáveis, que acometem os viajantes. +++++

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22 de outubro de 2007

A paixão pelo livro, por Moacyr Scliar

Folha de S. Paulo - 22/10/2007 - por Moacyr Scliar
Um livro de bronze de três quilos que integra uma escultura em homenagem aos poetas Mário Quintana (1906-1994) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) exibida na praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre (Rs), foi furtado. O crime ocorreu há cerca de duas semanas - a Polícia Civil não sabe a data exata. De autoria dos artistas Xico Stockinger e Eloísa Tregnago, a peça foi inaugurada em outubro de 2001, por encomenda da Câmara Riograndense do Livro. Os poetas são representados em tamanho real. O gaúcho Quintana está sentado e olhando para Drummond, que é representado em pé, com um livro pregado em uma de suas mãos. Foi este o pedaço de escultura levado. O quilo do bronze é vendido por cerca de R$ 5 em lojas e depósitos de sucata de Porto Alegre. >> Leia mais

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Sonhos de uma vida infeliz, por Manoel Hygino dos Santos.

Quando Ronaldo Cagiano elegeu os autores que constariam de sua “Antologia do Conto Brasiliense”, nela incluiu Whisner Fraga. E fez bem. O jovem engenheiro mecânico nascido em Ituiutaba, em 1971, é uma das belas revelações de nossas letras.
Whisner é autor de “Seres e sombras”, “Coreografia dos danados”, “Anatomia de todas as noites”, os dois primeiros em prosa, e terceiro poesia, gênero que lhe deu distinção na revista inglesa “Poetic Hours”. E tem uma peça: “Biografia de um dia só”, monólogo intimista; dentre outros trabalhos.
Em 2007, aparece com ““As espirais de outubro””, pela Nankin Editora, de São Paulo. É a história de uma jovem que sonhou conquistar o Nobel de Literatura, e viveu a vida sonhando com o estrondoso sucesso nas letras e felicidade
pessoal, jamais conquistada.  ++++

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21 de outubro de 2007

Tropa de Elite, por Contardo Calligaris.

"Nóis goza", mas "nóis sofre" de culpa: somos desculpados de nossa inércia pela culpa

NA SEXTA passada, "Tropa de Elite", de José Padilha, estreou em São Paulo e no Rio; amanhã, entrará em cartaz no resto do país. O filme é inspirado no livro "Elite da Tropa" (Objetiva), de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel (os dois últimos são policiais).
Padilha nos apresenta um momento de crise na vida do capitão Nascimento (o ótimo Wagner Moura), do Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM do Rio. Além do combate entre as forças da ordem e os bandidos do tráfico, há quatro eixos de tensão: a oposição entre o Bope (um pequeno corpo de incorruptíveis treinados para a guerra) e um sistema policial inepto e corrupto; o conflito entre a vida de família do capitão, que vai ser pai, e, do outro lado, a brutalidade de sua tarefa; a luta do capitão contra o desgaste e os efeitos traumáticos de seu dia-a-dia; o embate entre a polícia e os próprios cidadãos de quem ela deveria defender a vida, a tranqüilidade e as posses.  +++++++

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Agonia dos minutos, por Manuel da Costa Pinto.

"Ensaios Escolhidos" do gaúcho Augusto Meyer mostra crítica que se fazia à margem da especialização acadêmica

"AQUELA COUSA que ali está, atirada sobre a cama, entre cochichos tristes, é o corpo morto de Machado de Assis. Quatro horas da madrugada. Vem das árvores do Cosme Velho um cheiro de seiva. Os galos vão cantar."

O parágrafo parece do próprio Machado de Assis, ou de um Brás Cubas fazendo o obituário de seu criador -mas está na abertura de um dos textos de "Ensaios Escolhidos", livro de Augusto Meyer (1902-1970) organizado pelo poeta e historiador Alberto da Costa e Silva. O ensaio, cuja força estilística dá idéia do conjunto, é uma meditação sobre a arte e a morte. "Formulando a questão em termos paradoxais, extraordinário me parece o seguinte: o autor continuar a viver, apesar da sua obra, esse túmulo."  +++++++

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17 de outubro de 2007

Uma questão de linguagem, por Noga Lubicz Sklar.

"no outro dia, você reclamou que eu estava sendo grossa, e só agora entendo porquê... boquete é um termo contemporâneo, verdadeiramente obsceno, entendo perfeitamente o teu fellatio, meu príncipe, me perdoa. não percebi que as nossas conversas eram tão literárias, apesar de ter embarcado nessa com prazer e graça, ter deixado fluir." (Hierosgamos, de Noga Lubicz Sklar)

"É inevitável comparar Mônica Veloso a Monica Lewinsky — esta, sim, que, no mais catastrófico blowjob da História, mudou o mundo", afirma Arnaldo Jabor em sua crônica de hoje. Eu entendo o que ele sente. Parece bem mais aceitável usar em público o americano blowjob que o nosso desgastado, mais que vulgar, boquete. Passei por enormes crises morais enquanto traduzia, do diálogo original em inglês, os termos altamente éroticos do Hierosgamos. Ao mesmo tempo fui me dessensibilizando, encarando as palavras picantes como apenas normais, parte da vida adulta. E desde então, tenho advogado isso. Acontece muito em filmes na tevê: o excesso de moralismo atravanca a linguagem do legendador, transformando "cunts" pops em pomposas "vaginas", e chulos "dicks" ou "cocks" em "pênis" ridiculamente anatômicos, desvirtuando completamente o tom original do texto, soando falso e afastando o leitor do clima desejado pelo autor do script.  +++++++

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7 de outubro de 2007

Seja um MEMO* você também, por Noga Lubicz Sklar


A gente cria. Escreve. Publica. Livros. Blogs. Comunidades. Mas no vamos ver, vamos viver de quê? A coisa, entre outras coisas, tem me encucado. Andei buscando uma solução. E a encontrei.
Fiquei devendo pra Martha Medeiros no outro dia mas me redimo hoje, com citação e tudo. (Morde e assopra é comigo mesmo. Mas não é por ser puxa-saco, ou por insegurança, ou por pena. Nada disso. É que digo o que penso, e se for de amigo e não for o melhor, o mais elogioso, logo me arrependo. Não de dizer a minha verdade, hum, mas de pensar e sentir aquilo, fazer o quê.) Na Revista deste Domingo, Martha mostra porque é mesmo uma deusa, vai lá. Concordo com ela em conceito, exemplo e atitude, vejam só: "Não se sinta culpado por pensar em si próprio. Cuide do seu espírito, do seu humor. Arrume seu cotidiano. Agora sim, vá em frente e mostre aos outros como se faz."
Detto e fatto, bem, não é tão fácil. Arrumar como? Diz o Globo que existe escassez de 20 mil engenheiros no país, em todas as áreas. Bem. Nem todo mundo quer (ou pode) ser engenheiro. E a vida de artista, como é que fica? De escritor? De blogueiro? Vender livro, já se viu, dificilmente é solução pra bolso. Emprego em jornal, nem pensar, como disse uma amiga no outro dia: "nem dando pro Xexéo", ah, tá bom. Melhor deixar pra lá. A gente tem o que dizer, vai e diz: escreve no blog, e não é coisa pouca. Exige pesquisa, criação, revisão e edição, fotos, links, cuidado. Ou vocês pensam que só leva um segundo? Não, gente. É trabalho, trabalho sério. Do bom. Vai daí que eu já tinha pensado: com essa audiência toda, imagine se cada um que te curte resolve te patrocinar, hum, digamos, com cinco reais por mês. Nem falo daquelas visitas todas que o contador mostra, não mesmo, falo dos 10 por cento que te lêem mesmo, ficam mais de uma hora contigo todo dia, sacou? Hum... um, dois, cinco reais, mas só quando a gente quiser, se der vontade de apreciar um texto bom, sem vínculo ou compromisso. Gostou? Patrocine. De NY, comenta aqui no blog a Simone K. : "Como sabe o doar aqui, ou a falta dele, pode até ser um motivo de vergonha. Trabalho voluntário é a forma mais popular, não? Se a gente não faz, o vizinho reclama."
Ah, sim. Brasileiro não dá nada de graça pra ninguém, mas bem que a gente podia mudar um pouco isso. Um amigo meu, artista como eu, achava humilhante um link que eu tinha aqui no blog, pra doações no PayPal: acabei apagando. Mas continuei pensando: uai, gente, humilhante por quê? É humilhante ser apreciado? Ser pago por seu trabalho? Já faz um bom tempo que me debato com a questão; como "trabalhadora da luz", o dilema era o mesmo: trabalhar pode; cobrar não. E nesses tempos de ascensão, quem é esotérico sabe bem do que estou falando: fala-se muito em mudanças radicais, em um novo ambiente de altíssima energia onde cada um só faz o que lhe dá prazer. Muito belo. Muito bom. Mas a pergunta persiste: se o nosso mundinho tresdê ainda funciona à base de dinheiro, como é que se vai sobreviver? Novas formas de viver? E quais seriam? Hein?
A web é uma resposta, com certeza. Uma mente coletiva: troca de idéias e ideais, um celeiro criativo de tudo. Dos engenheiros (a troco de salário, gente, pra eles não falta emprego!) vêm as ferramentas. Dos artistas, o conteúdo: todo mundo usa e abusa, e online, se doa de graça, não tem o menor problema. A web já está no futuro, no admirável mundo novo onde a gente só faz o que quer, e não precisa de dinheiro: é muito maior do que o Second Life. It's the One and Only Life.
Eu penso, gente, e penso muito. Vai daí que surgiu essa idéia de patrocínio voluntário de blogs. Gostou? Patrocine. Não espere o governo, o bolsa-família, o Ministério da Cultura, o prêmio, a lei, a corrupção. Nem precisa de projetos complexos, de concorrência ou aprovação. Gostou? Patrocine. Simples assim.
Pode ser que funcione. Pode ser que não. Mas é, certamente, uma opção. Faço como a Martha diz: penso em mim, começo por mim, ensino como se faz, e... bem. Espero que façam o que eu digo. E faço. Bom domingo pra vocês, e pra mudar de vida hoje mesmo, seja um MEMO* você também.

* MEMO: mecenatomoderno.org, um jeito web de mudar sua vida, e a vida de quem você curte. Visite o site. Participe da Comunidade.


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6 de outubro de 2007

Rios e desertos desconhecidos de um romancista baiano, por Chico Lopes.


Bons livros nos chegam, às vezes, de maneira despretensiosa, como me chegou A dama do Velho Chico, do escritor baiano Carlos Barbosa, sobre quem eu não tinha informação alguma. Lima Trindade, editor do Verbo 21 de Salvador, Bahia, foi quem me falou dele. Entramos em contato. Como é comum entre escritores, mandei-lhe um livro meu e ele me mandou o seu, os que tínhamos disponíveis.
Sempre fui leitor de ficção mais que de outra coisa, mas, em geral, pratico muita releitura; por vezes, autores novos me desanimam devido ao meu vezo conservador de querer trilhar a trilha do já sabido, jáconhecido, experimentado e amado (e os livros muito amados só o são porque muito relidos). De modo que cometo injustiças e omissões, nesse campo, mas não estou sozinho no erro. O comodismo conspira para que percamos muita coisa. E não gosto de opinar sobre livros que não li, ou li mal (quem prestar atenção a certos comentários por aí, notará que a prática de comentar sem ter lido não é rara).
Carlos Barbosa nasceu em 1958 em Oliveira dos Brejinhos, no sertão baiano, e passou sua infância em Ibotirama, beiradas do São Francisco. Portanto, sabia do que falava ao elaborar esse seu primeiro romance, lançado pela Bom Texto em 2002. A dama do Velho Chico fala de paragens que nós daqui, do Sudeste, conhecemos muito mal. Quanto ao rio, flutua em nossa lembrança, com seus barcos, feito um Mississipi caboclo. Imaginamos aquelas embarcações com suas carrancas a partir de lembranças de documentários, programas especiais de tevê. Tudo fica na superfície. Mas a vantagem da Literatura é precisamente esta: livros nos vêm de outra parte, perfuram o já-sabido, trazem mundos de cujas existências mal suspeitamos, não valendo, para adivinhá-los, os nossos estereótipos ou informações de segunda mão. ++++++++

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Contardo Calligaris: Depressão e terapia


Quem está no desespero, antes de qualquer consolação, pede que sua dor seja reconhecida.


Seja como for, a experiência confirma o que já sabíamos: quando alguém sofre, a primeira tarefa dos próximos (e dos profissionais) não é a de consolá-lo sugerindo reavaliações, mas a de ajudá-lo a encarar seu sofrimento assim como ele é.
Mais uma nota: essa constatação é também relevante na hora de administrar a necessária medicação antidepressiva. Talvez os raros efeitos paradoxais dos antidepressivos (o paciente que "estava muito bem" e, de repente, tenta o suicídio) tenham a ver não com o fracasso, mas com o sucesso da medicação, que produziu uma melhora substancial antes que o sujeito tivesse o tempo de dizer sua dor. +++++


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Contardo Calligaris: O segredo da vida de um casal


Receita do amor que dura: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente

EM GERAL , na literatura, no cinema e nas nossa fantasias, as histórias de amor acabam quando os amantes se juntam (é o modelo Cinderela) ou, então, quando a união esbarra num obstáculo intransponível (é o modelo Romeu e Julieta).
No modelo Cinderela, o narrador nos deixa sonhando com um "viveram felizes para sempre", que seria a "óbvia" conseqüência da paixão.
No modelo Romeu e Julieta, a felicidade que os amantes teriam conhecido, se tivessem podido se juntar, é uma hipótese indiscutível. O destino adverso que separou os amantes (ou os juntou na morte) perderia seu valor trágico se perguntássemos: será que Romeu e Julieta continuariam se amando com afinco se, um dia, conseguissem deitar-se juntos sem que Romeu tivesse que escalar a casa de Julieta até o famoso balcão? Ou se, em vez de enfrentar a oposição letal de suas ascendências, eles passassem os domingos em espantosos churrascos de família? ++++++++


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5 de outubro de 2007

Competências emocionais – O diferencial competitivo no trabalho, por Carla Coelho.


"Emoções são respostas químicas e elétricas que viajam por nosso organismo. Sua existência não é casual nem destacada do complexo contexto de funcionamento de nosso organismo. Na verdade, cada emoção desempenha um papel bem definido no corpo humano, que é voltado à sua proteção e à preservação da vida em geral".
Atualmente a calma e a tranqüilidade diante de situações tensas e desafiadoras são peças fundamentais no perfil de um profissional que pretende ser reconhecido por suas capacidades e qualidades no mercado de trabalho. Empresas e organizações "navegam durante todo o tempo em mares tempestuosos" e é exatamente por isso que todo o tempo os profissionais em vigência passam por provas de choque continuamente. +++++

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1 de outubro de 2007

'Se todo mundo pensa assim... tou fora', por Mário Persona


Não sabia que ser blogueiro fosse perigoso. Mas é. Descobri isso quando soube das ameaças de morte sofridas por Kathy Sierra em seu blog por causa das coisas que escreve. O que ela escreve? Aquilo que desafia o senso comum que nem sempre é o bom senso. A coisa foi tão longe que ganhou até uma matéria na CNN onde Kathy aparece com outro blogueiro, Chris Locke, que ela pensava estar envolvido com as ameaças: http://www.youtube.com/watch?v=UQ6IxYaD774


Inspirei-me nas idéias dela para escrever a crônica de hoje e se você quiser mais links e também um trecho do blog dela que traduzi, é melhor ir ler "Se todo mundo pensa assim... tou fora!" no CAFE: http://www.mariopersona.com.br/cafe/archives/00000207.htm Mais tarde, quando eu tiver um tempinho para gravar, você poderá ouvir a mesma crônica na Rádio Barbante (na coluna direita de meu CAFE ou de qualquer página de www.mariopersona.com.br )


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29 de setembro de 2007

Vaginocracia, por Noga Lubicz Sklar


"... os instruí em alguns fundamentos do funcionamento sexual: ...como Marvin podia abordar o sexo menos mecanicamente; e como ele podia, se perdesse a ereção, levar Phillys ao orgasmo, manual ou oralmente."

Irvin Yalom em "O Carrasco do Amor", aconselhando um casal na faixa dos 60

Uai, gente. E eles não sabiam disso? Não sei se foi minha irritação com o último capítulo deste livro e suas pretensões terapêuticas sobre o prazer sexual. Ou se foi porque li no Verdes Trigos que filósofos modernos "trouxeram para o centro do debate as questões de gênero, poder, sexualidade e etnicidade até então jamais abordadas". O fato é que a noite passada tive um quentíssimo, e estranhíssimo sonho erótico. Eu tinha ido a uma rave com um casal de amigos, e lá pelas tantas, me perdi deles e fiquei sozinha. A mulher do meu amigo, aparentemente, estava por trás disso: sem motivo nenhum, morria de ciúmes de mim. Na cena seguinte eu estava na cama com um garoto, hum, digamos, um cara bem mais jovem, cheio de gás. A gente pulava, se retorcia, voava sobre a cama num malabarismo tão inédito quanto impossível, até que o rapaz ejaculou com energia comparável à performance. Não cheguei ao orgasmo e ele ficou meio sem graça mas eu, compreensiva, disse que não tinha problema. Me levantei pra ir ao banheiro, tão sujo aliás quanto o resto da sala, e encontrei a mulher do meu amigo saindo de debaixo da cama: "o que estava acontecendo? ouvi uns ruídos estranhos." ++++++


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23 de setembro de 2007

A Rosa de Sharon, por Noga Lubicz Sklar



"Passei o dedo médio pela vulva, até o botãozinho rosa do lado esquerdo: meu interruptor clitoriano de gozo. Comecei devagar a acariciá-lo, com os olhos bem abertos fixados nos olhos dele - o pau dele se levanta - enquanto ele observa, curtindo o meu ato dividindo meu prazer, meu dedo se movendo do clítoris à cona (aquela boca sugando) depois de volta, esfregando mais forte e mais rápido até o limiar do orgasmo, gritando o nome dele."
Hierosgamos - Diário de uma Sedução


Estou chocada. Triste. Arrasada. O clitóris, todo mundo sabe, é o único órgão do corpo humano dedicado exclusivamente ao prazer, e que prazer. Bem. Todo mundo não. Os milhões de mulheres africanas, cruelmente submetidas à bárbara prática da circuncisão feminina, não sabem nada sobre isso. E jamais saberão.
A elas dedico este trecho do meu livro. Que sirva como alerta às gerações de pais que, com a melhor das intenções, mutilaram suas filhas. Está na edição de hoje do NY Times. Confere lá. (Noga Lubicz Sklar)

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GERALD CLARKE fez retrato definitivo de um grande escritor atormentado, por Chico Lopes.


"Capote", biografia de Truman Capote que saiu no Brasil no ano passado pela editora Globo - São Paulo (tradução de Lya Luft, 516 páginas) é um livro minucioso, alentado e que dá uma sensação de profunda honestidade sobre a vida do escritor Truman Capote, tendo vindo complementar o pacote derivado do filme "Capote", que foi indicado a 5 Oscar e, aparentemente, teve também algum sucesso de público e crítica no Brasil.
Isso é sabido e não importa muito. A meu ver, o filme era apenas razoável, carregado nas costas pela interpretação de Philip Seymour Hoffmann, que merecidamente levou um Oscar de melhor ator. Mas a produção se limitava aos tempos em que, escrevendo "A sangue frio", Capote fez suas andanças pelo Kansas, nos lugares onde aconteceu a chacina descrita no livro, e ao seu relacionamento com os criminosos. Possivelmente, quem viu o filme, saiu em busca da biografia e se deu ao trabalho de lê-la, notou que aquele episódio é só um dos recortes passíveis de adaptação para o cinema do imenso livro de Clarke. É preciso fazer mais justiça ao livro, que ficou obscurecido pelo sucesso de um filme que não merecia tantas loas. +++++++

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SIMPLESMENTE, CHARLES DICKENS, por Ademir Pascale Cardoso.


SIMPLESMENTE, CHARLES DICKENS: Uma criança séria e autodidata. - Essa era a descrição de Charles Dickens (1812-1870) quando ainda era uma pequena criança que devorava centenas de livros de renomados autores, como Daniel Dafoe, Tobias Smollett e Henry Fielding. Charles não pertencia a uma família rica e seu pai era um homem mergulhado em dívidas, até que um dia, fora preso por muito tempo. A família perdeu praticamente todos os bens materiais e foram morar em um quarto barato no bairro de Camden Town em Londres.
O pequeno Charles, agora com doze anos de idade, fora obrigado a trabalhar duramente em uma empresa de graxa para sapatos chamada Warren´s. A função de Charles Dickens era a de rotular incansavelmente inúmeros frascos de graxa.
Com poucos anos de idade, Dickens carregava o peso de sustentar a devedora e pobre família, o que acarretou posteriormente, na criação de dezenas de obras literárias. A primeira fora lançada em 1836 "The Pickwick Papers", a segunda, um grande sucesso até os dias de hoje "Oliver Twist" (1837-1839). Ainda lançou outros famosos romances, entre eles "A Christmas Carol" (1843); David Copperfield (1849-1850); "A Tale of Two Cities" (1859) entre outros (no total foram 44 obras produzidas). ++++++

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12 de setembro de 2007

Camaradas, o povo também se equivoca, por Marcelo Coelho.


"Esse sociólogo quer demonstrar que as elites são mais éticas do que a classe baixa!"
UMA ONDA de inconformidade e ranger de dentes parece ser o principal efeito do livro "A Cabeça do Brasileiro", do sociólogo Alberto Carlos Almeida, recentemente publicado pela editora Record.
O autor, que é professor na Universidade Federal Fluminense e diretor de um instituto de pesquisas, resolveu medir as opiniões da população brasileira a respeito de assuntos cruciais, como racismo, intervenção do Estado, sexualidade, violência policial, "jeitinho" e corrupção. Os resultados são indiscutivelmente simpáticos para as "elites" e pouco abonadores no que se refere ao "povão".
Em praticamente todas as questões propostas, os entrevistados com diploma de ensino superior se mostram menos fatalistas, menos conformistas, menos conservadores do que a população de baixa escolaridade. O abismo é total quando se compara o pensamento de uma mulher nordestina, analfabeta, idosa e moradora do interior com as opiniões de um jovem habitante de alguma capital do Sudeste. +++++


===>>> Para realizar o lançamento da obra "A Cabeça do Brasileiro", o autor Alberto Carlos Almeida realizará uma na noite de autógrafos no dia 13/09 (quinta-feira), na livraria Saraiva do Brascan Century Plaza (Avenida Joaquim Floriano, 466, - Tel. 11- 3078-7887), a partir das 19h. O livro traz os resultados da Pesquisa Social Brasileira, que ouviu 2363 pessoas, em 102 municípios. O resultado é uma radiografia da sociedade no Brasil. ++++


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