Um pé atrás diante do rótulo de "clássico", por Chico Lopes
Como tudo que há no mercado cultural, o rótulo de "clássico" para alguns DVDs vendidos em bancas tem que ser visto com um bom pé atrás. Já adquiri alguns filmes de que tinha boa lembrança, fosse pelos atores, fosse pela trilha sonora ou alguma outra vaga indicação de algum crítico de renome que jazia obscura em minha mente, e me arrependi a tal ponto que os joguei fora. Por vezes, o erro era meu - supervalorizei uma boa lembrança, uma daquelas miragens saudosistas que de vez em quando nos dominam, e quebrei a cara encontrando uma banalidade anacrônica que não poderia mesmo resistir ao tempo. Por vezes, eram os filmes que vinham em cópias tão deficientes que chegavam a dar ódio, pelos problemas de som e imagem, por terem sido extraídos de VHS e parecerem verdadeiras armadilhas para saudosistas incautos.
Claro que são episódios isolados e que há muita coisa boa à venda. Mas, no tocante a decepções, são paradigmáticos os filmes de Sarita Montiel que adquiri, como "La Violetera" e "A rainha do Chantecler", com imagens desbotadas e som horrível. Além disso, são dramalhões tão terríveis que só se pode rir de um dia eles terem nos feito chorar e o que os salva é o charme e a voz de Sarita, que foi um mito espanhol no cinema e era mesmo uma estrela, mas nunca uma atriz. Mas certas coisas só se percebe mesmo em retrospectos maduros.
Um bom auxiliar para mim, nesses casos, tem sido os guias de DVD lançados por Rubens Ewald Filho, que sempre esclarecem quando as cópias se encontram em mau estado. Há decepções de outra ordem, também, mas aí o risco advém da publicidade excessiva em torno de algumas produções e da badalação que receberam junto a alguns críticos e de nossa própria suscetibilidade a essas coisas - ninguém que cede ao saudosismo escapa a cometer equívocos embaraçosos. Sob o rótulo de "clássico", na verdade, o mercado de DVDs, muito útil e precioso por seus filmes e extras indispensáveis, tem empurrado muita coisa ruim para o público. Ou, quando não é ruim, serve apenas para os que são muito complacentes com suas emoções; bastaria só um pouquinho de senso crítico e a saudade toda iria por água abaixo.
EQUÍVOCO DE DOUGLAS SIRK
Exemplo de filme que pode seduzir e enganar é "Sinfonia interrompida", uma daquelas produções da Universal dos anos 50 que hoje em dia acabaram sendo superestimadas pela crítica porque seu diretor, Douglas Sirk, foi revalorizado por Fassbinder e outros e colocado num panteão honroso. Bem, Sirk fez coisas boas, mas fez também muita coisa "matada" e duvidosa como esse filme, estrelado por June Allyson e Rossano Brazzi.
Ela é uma americana típica (ninguém parece tão americana típica quanto a housewife sorridente Allyson, símbolo da caretice ianque dos anos 50) que vai para a Alemanha e, em Munique, conhece um temperamental regente de orquestra (o clichê é infalível) vivido por Brazzi. Ele teria que passar por alemão, mas como é impossível fazer Brazzi parecer um, os roteiristas optaram por torná-lo metade italiano de nascimento (sic). Ele é casado em circunstâncias meio estranhas, mas Allyson se apaixona por ele. O curioso é que Brazzi, que havia feito papel semelhante em "Quando floresce o coração", parecia predestinado a ser o italiano de caráter dúbio que encanta americanas (ele é o Renato que deixa a solteirona Katherine embasbacada em Veneza). Aqui, tal como no caso de "Quando o coração floresce", Allyson conclui que ele não é homem com quem uma americana direita deva se casar. O casal de atores não tem a menor química, é embaraçoso, e o filme só se salva por uma boa fotografia e a trilha sonora que nos leva até Salzburgo para ouvir Mozart. Mas, quem esperar muito dessa produção, quebrará a cara solenemente.
BOGART E HEPBURN EM ESTADO DE GRAÇA
Isto sim é nostalgia de primeira, disponível nas bancas - "Uma aventura na África". A cópia que vi tinha erros de tradução grotescos, mas nada consegue prejudicar um filme com Katharine Hepburn e Humphrey Bogart em estado de graça, a mais perfeita comédia romântica com boas doses de aventura e algum drama que já existiu.
Bogart ganhou um Oscar por esse papel, e nada parece tão justo e merecido. Ele é incrível como o aventureiro bebum que desce os rios africanos na Primeira Guerra Mundial e, numa dessas, colhe Hepburn como a puritana irmã de um pastor inglês que sobreviveu a um ataque dos alemães. O convívio de duas figuras tão antagônicas no barco é de tirar o chapéu - a gente se esbalda com o filme, porque é evidente que Hepburn e Bogart nunca se divertiram tanto e nunca um caso de amor implausível pareceu tão delicioso.
Quando se vê um filme desses, e quando se compara com o que passa por comédia romântica hoje em dia, dá uma vontade irresistível de repetir o que Peter Bogdanovitch disse: "Os bons filmes já foram todos feitos". Realmente, submetidos a Adam Sandlers e Lindsay Lohans, estamos numa época infeliz...
SADO-MASOQUISMO DE LUXO
Outro equívoco comum nas bancas é tomar por "clássicos" filmes de um passado mais recente (por exemplo, os anos 70) que, em sua época, foram recebidos com boa dose de rejeição, e por bons motivos. É o caso de "O porteiro da noite", filme de 1974 realizado pela italiana Liliana Cavani que teve certo sucesso de "escândalo" naquela década e parecia bastante ousado, mostrando o caso de amor sado-masoquista entre uma judia e seu torturador nazista, que ela reencontra anos depois quando, casada, vai parar num hotel podre de chique de Viena.
Mas o filme todo é mais podre que chique, embora embale com muita "estética de filme europeu de arte" o peixe estragado que vende. É como um "Nove semanas e meia de amor", a mesma coisa afetada e vazia, o amor de dois "peixes mortos" pervertidos cuja humanidade nos interessa tanto quanto a de um abajur.
Dirk Bogarde é o porteiro e, bom ator em alguns filmes, nesses apresenta o seu pior defeito: aquele arquear de sobrancelhas e aquele biquinho de supremo desprezo pela humanidade que só parece fruto de um egoísmo esnobe. Ele contracena com Charlotte Rampling que, jovem e linda, é boa de olhar, mas é só. O filme é suntuoso pela fotografia e por ter Mozart na trilha sonora ("A flauta mágica" é a ópera em reapresentação, quando os dois se reencontram). Mas é curiosamente de uma complacência terrível com o nazismo e seus fetiches, parecendo um álbum pornográfico daqueles que se popularizaram entre os gays, principalmente, nos anos 70 e 80, pelo sado-masoquismo dos uniformes e aparatos nazistas dos SS. Portanto, o filme parece criticar alguma coisa, mas é ele próprio aquilo que ele mais critica.
A COBRA CORAL DE TIERNEY
A prova de que a volta dos clássicos verdadeiros em DVD é excelente são dois DVDs primorosos de Gene Tierney que se pode encontrar no mercado. No primeiro, nem é preciso dizer, ela é "Laura", personagem-título no que é seu filme mais famoso. No segundo, ela é a psicótica Ellen em "Amar foi minha ruína", melodrama de suspense de John M. Stahl que resistiu muito bem ao tempo.
"Amar foi minha ruína", de 1945 parece dramalhão e é mesmo, mas é um dramalhão contraditório e matizado e traz a primeira encarnação de um caso letal de femme fatale psicopata, no cinema. E, como essa mulher é Tierney, com sua beleza para lá de qualquer adjetivo, o filme tem um carisma incrível - apresenta-nos uma cobra coral com todas as suas cores vivas mortais. Amar Ellen é inevitável, e é o que acontece com o personagem do escritor vivido por Cornell Wilde, canastrão, mas adequado como peixe fisgado pela doidona sans merci. O filme é até atualíssimo, porque os crimes de Ellen são de uma frieza acentuada que não parecia comum nos cinema dos anos 40. Nos extras de "Laura", o espectador conhecerá algo mais sobre Gene Tierney num documentário que só por si justifica a aquisição dos dois discos.
Chico Lopes é autor de "Nó de sombras" (IMS, SP, 2000), e de "Dobras da noite" (IMS, SP, 2004), contos prefaciados o primeiro por Ignácio de L.Brandão e o segundo por Nelson de Oliveira. Tradutor, publicou também nova tradução do clássico "A volta do parafuso", de Henry James (Landmark, SP, 2004). Tem vários livros inéditos de ficção, poesia e ensaio.
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VerdesTrigos @ 11/18/2009 10:29:00 PM | | | Voltar


Em arte, como na vida, boas intenções não bastam e o sentimentalismo edificante pode edificar, dependendo da mão do artista, nada além de rasas choupanas que tentam canhestramente passar por belas casas. Basta que se veja "No entardecer" ("Evening"), de Lajos Koltai, para se chegar a esta conclusão. O filme é uma co-produção EUA/Alemanha de 2007 e tem um elenco tão impressionante que, ao retirá-lo de uma locadora no escuro, a gente o faz por topar com Meryl Streep, Vanessa Redgrave, Glenn Close, Toni Collette, Natasha Richardson, só para ficar em nomes bem conhecidos. Em escala inferior (no quesito talento) há também Claire Danes, que está no papel principal, além da estréia da filha de Meryl, Mamie Gummer, num papel de relevo.
Se você sente que precisa fugir de tantos filmes violentos, repletos de perseguições, tiroteios e mortes horríveis, todos dentro dessa mania de sadismo impenitente que domina cinemas e locadoras e que faz com que o ser humano cada vez mais pareça um monstro cujo apetite de destruição vai para muito além do delírio, é bom saber que esses mesmos cinemas e locadoras ainda oferecem alternativas como filmes históricos e românticos ocasionalmente bem feitos.
Hoje, 10 de novembro de 2008
Entre os filmes que vi neste ano, não me lembro de nenhum que tenha me prendido tanto a atenção e me deixado tão incomodado quanto "O nevoeiro" ("The mist"), produção norte-americana de 2007 dirigida por Frank Darabont. 
Benicio del Toro, que interpretou Che Guevara no filme de Steven Soderbergh --o mesmo que tem Rodrigo Santoro no papel de Raúl Castro --, disse que o guerrilheiro argentino teria sido um dos grandes escritores da América Latina se tivesse se dedicado à literatura. 
O Olhar Selvagem – O Cinema dos Surrealistas, de Sergio Lima. 

O CineEsquemaNovo - Festival de Cinema de Porto Alegre (CEN) começou neste sábado 11 de outubro. Acesse o site 
Para Freud, os sonhos expressam a realização de desejos inconscientes. Para Jung, os sonhos não apenas revelam desejos reprimidos, mas também são uma ferramenta da psiquê para buscar equilíbrio por meio de compensação. No entanto, consideradas as diferenças, os dois autores concordam num ponto: os sonhos são a estrada através da qual o conhecimento do inconsciente se torna possível. Seja qual for a metodologia, nada seria mais proveitoso do que a pura entrega ao espetáculo do sonho, reino de imagens poéticas e sons cuja mensagem sempre se mostra misteriosa e cativante. Assim são os sonhos apresentados em Sonhos de
Equipe Técnica da Finalização: A finalização do filme está por conta de Hugo Caserta, que utiliza recursos 2e 3D para efeitos especiais em cenas do filme, para transformação e textura de imagens antigas, assim como recuperação de filmes e fotografias. A trilha sonora de Renato Pires e Arthur Denincasa dão vida à epopéia da viagem monçoeira. Como assistentes de edição e finalização Carolina Martins e Bianca Verrone vivem a contradição do aprendizado da universidade e a prática de transformar imagem em sonho.
UM AMOR PARA TODA A VIDA - O chato de quem vê muito cinema é a constante traição às expectativas. A gente sabe que a realidade cinematográfica anda medíocre e esgotada (parece que todos os gêneros vão se esvaziando dia após dia), mas sempre tem a louca esperança de encontrar aquele filme que desminta nossos tristes prognósticos infalíveis na maior parte dos casos. Queremos ter surpresas, queremos nos emocionar, irritados pela realidade lógica, mas desmancha-prazeres.
Fernando Meirelles é, dos novos diretores, o mais promissor. Apesar de quererem encaixar seu último belo filme, Ensaio sobre a Cegueira, em uma trilogia - idéia completamente sem pé nem cabeça -, suas três obras serviram para consolidar uma identidade narrativa e uma linguagem visual únicas.




Filme de Walter Lima Jr., com Rodrigo Santoro e Cláudia Abreu, usa perído da bossa nova para falar de amizade


BOA HISTÓRIA NÃO DISPENSA APELAÇÕES - Paul Verhoeven, diretor holandês famoso por filmes rodados nos EUA como Instinto selvagem, O vingador do futuro e Robocop, está de volta às locadoras com o sucesso A espiã (The black book) e, para muitos críticos, o filme é a sua reabilitação, depois de sucessivos fracassos norte-americanos como O homem sem sombra e Tropas estelares, que o fizeram retornar à sua terra natal, de onde havia saído já com fama. 

JACK E MORGAN NUM PACTO PELA ALEGRIA - "Antes de partir", de Rob Reiner, chegou aos cinemas brasileiros precedido por palavras não muito animadoras dos críticos norte-americanos, que ou não gostaram do filme ou acharam-no apenas mediano, carregado nas costas pela dupla de atores que o estrelam no mais alto nível, Morgan Freeman e Jack Nicholson. Mas, fez boa carreira e chegou às locadoras com pinta de que fará sucesso entre os espectadores de DVDs que admiram esses dois veteranos, e também pelo fato de ser um filme sobre a velhice e a morte levado com leveza e perícia. O assunto do filme é, na verdade, amargo ao cubo, e a situação seria insuportável sem dois atores do porte de Freeman e Nicholson. 
Alguns veículos de comunicação noticiaram que a atriz israelense Ayelet Zurer (“As Tragédias de Nina”) será a protagonista da adaptação de “Anjos e Demônios”, livro escrito por Dan Brown, publicado no ano de 2000.

A violência no Cinema tem uma longa história que não poderei rastrear neste simples artigo, no qual quero apenas apontar algumas coisas, registrar algumas impressões que me ficam de ter visto, em dois dias sucessivos, dois filmes muito diferentes, mas basicamente dominados por um tema: a violência. Foram eles "No silêncio da noite", thriller "noir" de Nicholas Ray realizado em 1950, e "O gângster", produção norte-americana de 2007, dirigida por Ridley Scott, que foi um grande sucesso do ano passado e concorreu com trombetas favoráveis da crítica neste 2008. 


O 



O diretor
Zeitgeist é o nome de um documentário que fala essencialmente sobre política, terrorismo e religião. Foi feito sem fins lucrativos sendo o seu único propósito a tentativa de fazer com que as pessoas passem a olhar para o mundo de uma forma mais crítica e questionem coisas que são actualmente tidas como "verdades absolutas" por uma grande maioria da população.
A atriz israelense Natalie Portman esteve em Madri para divulgar seu novo filme, “
A atriz francesa Jeanne Moreau, de 80 anos, afirmou que trabalhar em seu novo filme sobre a luta de uma família para falar do Holocausto trouxe de volta memórias de sua própria infância durante a ocupação nazista. “Plus Tard Tu Comprendras” ("Mais tarde você entenderá"), do diretor israelense Amos Gitai, conta a história de Victor, um homem de meia idade que tenta convencer sua mãe (Moreau) a falar sobre sua infância e a morte de seus pais em Auschwitz. 

Baseado em "




















