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18 de novembro de 2009

Na cama com o Kindle (do Noga Bloga)

o tijolão por baixo do Kindle é Infinite Jest, um portento de 1070 páginasSomente mulheres femininas eram permitidas na Rússia - e eu não era feminina.
Clarice Lispector, em sonho narrado em sua biografia, Why this world

Sabem aquela velha frase-chave pra selecionar namorado, "que livro você levaria para uma ilha deserta"? Pois é. Deixou de fazer qualquer sentido. Eu já havia respondido que levaria o Ulysses, mas agora me corrijo: levaria o Kindle e os 1500 livros que por ventura cabem nele (Ulysses incluído, claro), ah, tudo bem. Tem quem poderia dizer pra atrapalhar minha festa... e a bateria? Como é que você faria pra recarregar a bateria numa ilha deserta?
Bem. Melhor esquecer. Afinal de contas, a questão é apenas retórica, não é mesmo? Quem é que pretende hoje em dia, com tantos sites obrigatórios de relacionamento, se isolar realmente numa ilha deserta? Ou até mesmo embarcar num navio?
De volta ao Kindle, pois é: acabei de ganhar o meu, uma das raras e boas surpresas verdadeiras que tive na vida, gente!, eu juro que não esperava isso. E foi logo paixão à primeira vista, isto é, ao primeiro toque, porque à primeira vista, devo confessar, o Kindle parece pequeno demais, frágil demais, simples demais, embora eu na verdade esperasse que ele fosse de plástico, assim, digamos, mais vagabundinho, bem mais descartável do que realmente é. Mas ao tocar pela primeira vez o botão que o liga, ah, que sensação inesquecível! O Kindle é leve, fácil de manusear, comprar livros é incrivelmente instintivo (nem precisa digitar nem confirmar número algum, nem senha, nem nada, 60 segundos et voilà!, está lá o livro novo na sua mesa) e ainda vem com dicionário embutido, nunca mais a cabeceira entupida de livros.
Melhor ainda é o livro que escolhi para estrear este admirável gadget novo, cá entre nós que não sou de gadgets, nunca fui: não tenho iPod, nem iPhone, nem Blackberry nem nada disso, apenas um indispensável Nokia velho com câmera, sabem como é, e um notebook HP quebrado que ops, acabou de travar de novo, ô vida.
Toca a desligar, esperar, tentar reiniciar, mas eu não estava falando, ou começando a falar, da nova biografia de Clarice Lispector?
O curioso é que sem que eu jamais tenha sido fã, nem dedicadamente lido tudo que ela deixou disponível, minha vida parece intrincadamente misturada à dela, com suas incômodas origens binacionais e tudo o mais, segundo Benjamin Moser, autor do livro, uma questão central para a enigmática escritora: faz pouco tempo que descobri, imaginem, que a dedicada acompanhante de mamãe foi também acompanhante até a morte do ex-marido de Clarice, vítima de derrames sucessivos, que até a morte foi afetado pela forte presença pós-mortem da primeira esposa, segundo ele "uma pessoa muito maluca". E foi justamente esta acompanhante que trouxe do Rio para mim na manhã de ontem, em mãos, o precioso presente enviado por meu irmão: meu Amazon Kindle.
Ainda estou no comecinho do livro, mas já posso afirmar, com o tom de exagero que me é peculiar, que converti-me irremediavelmente ao Kindle ao ler na cama sobre a vida de Clarice. Nunca mais aqueles livros pesados, aquele virar a página por fora do cobertor que é tão complicado aqui na Serra nos dias mais frios, o dicionário sempre ao lado, e pior, pobres traduções para o português, nunca mais, agora que tenho à distância de um toque sem fio o acesso barato a todos os originais, que cheiro de papel que nada.
Como disse no outro dia aquele meu amigo por email, a quem eu andava ansiosa por uma brecha para citar, "Jeff Bezos é meu pastor, nada há de me faltar".

[o tijolão por baixo do Kindle é Infinite Jest, um portento de 1070 páginas
que tento ler há mais de um ano mas não consigo,
deve ser quem sabe por causa do peso do livro]

Noga Sklar nasceu em Tibérias, Israel, em 1952. Graduou-se em arquitetura no Rio de Janeiro. Desde 2004, dedica-se exclusivamente à literatura e escreve diariamente no Noga Bloga, seu bem-sucedido blog de crônicas. O gozo de Ulysses - As múltiplas línguas de James Joyce é seu terceiro livro publicado.

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Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/18/2009 10:30:00 PM | | | Voltar

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14 de novembro de 2009

Uma prática repulsiva, por Noga Sklar

Uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade.
Joseph Goebbels, teórico do nazismo

Tudo bem. Eu entendo que vivemos num mundo onde o jornalismo-verdade se serve à vontade de releases não confirmados, de imagens editadas e vídeos adulterados, numa enganosa e apressada salada mal temperada servida aos famintos e ignorados, ops, ignorantes, compulsivos consumidores de reportagem ligados na web e demais mídias 24 horas por dia, parafraseando Caetano, vem cá: quem quer tanta notícia?
Pode até ter sido engraçado, mas alguém aí se lembra - ou, vá lá, ouviu falar por alto do ocorrido - de quantas pessoas inocentes e iludidas foram seriamente prejudicadas, traumatizadas e feridas, pelo famoso boato radiofônicode Orson Welles em 1938, alertando sobre o ataque de Marte contra a Terra? Pois é, imaginem: andam espalhando por aí que o novo rádio é o Twitter.
Vamos combinar que o pânico instalado não se tornou tão sério ainda, mas estamos caminhando pra isso. E já não estou sozinha nessa, quero dizer, em minha guerra particular contra as sandices da mídia - pra quem não leu linko aqui, em primeira segunda mão (risos nervosos), minha denúncia dos falsos vídeossobre o Rio veiculados pela Fox News -: confiram lá no NY Times, em artigo de Gail Collins, pra que lado sinistro a coisa tem se encaminhado, e pior, tem gente demais acreditando nessa quase inédita modalidade de ataque da informação (que se infiltra sem defesa em nossas ingênuas mentes confiadas, jamais tendo sido convenientemente corroborada). Conferir pra quê?
Se isso me afeta pessoalmente? Sim, claro, ou não estaria eu escrevendo aqui sobre o tema. Meu marido Alan, por exemplo, desterrado das verdadeiras notícias nesta nossa terra onde todo boato tem peso indiscutível de verdade - calma, gente, que esta doença insidiosa já não é mais exclusividade nossa, mas que aqui tudo termina em pizza, ah, isso... -, assiste regularmente à Fox News e acredita mesmo nos Hannities da vida, abastardando completamente minha visão objetiva dos acontecimentos do dia, convenientemente filtrada, é claro, por uma intuição supertreinada - devido às traições repetidas daquele vil ex-marido, vocês me entendem - em extrair da rara verdade as mais vergonhosas mentiras.
Mas o que eu não entendo, e que nesses últimos dias tem realmente me afetado e enraivecido, é por que uma mentira comprovada não consegue se sobrepor a uma verdade igualmente comprovada, querem prova do que digo?
Trata-se aqui de uma brasa abafada na qual eu alegremente, coitada, cozinhava a minha sardinha mais fresquinha, isto é, essa história de pescador que atribui a um errôneo autor o verdadeiro pioneirismo brasileiro no Kindle, que, cá entre nós, pertence a um livro de poemas da Ibis Libris, uma beleza de lirismo digital disponível a nível mundial como ainda nenhum outro título conhecido, isso eu garanto: Marco Polo & a Princesa Azul , de minha editora Thereza Christina, é o primeiro livro de autor brasileiro à venda no Kindle, não acreditem em nada diferente disso - isto é, não acreditem em mim tampouco: é ver para crer, comprar e ler -, não aquele famoso O Seminarista que todo mundo esperou mas ninguém encontrou.
Meu interesse nisso? Nada além do tesão tecnológico digital e da paixão infecciosa pela simples verdade dos fatos, ainda que seja pela mera novidade da coisa: Kindle books só na Kindle Store. O resto é ebook, baixado e lido naquela velha tela que faz mal à vista, sabem como é, e ainda por cima com risco de vírus.

***

Um esclarecimento necessário: os livros desta que vos escreve também estão disponíveis no Kindle faz um tempinho, mas por um deslize mal entendido da Amazon com respeito a direitos autorais internacionais, disponíveis apenas para quem mora nos Estados Unidos (ou para quem, sendo do Brasil, tem algum endereço lá). Estamos cuidando para desfazer o lapso - ops, nó sem laço - ou vocês pensavam que eu perderia tempo ao não reivindicar para mim mesma o verdadeiro pioneirismo? Assim que for resolvido eu aviso.

Noga Sklar nasceu em Tibérias, Israel, em 1952. Graduou-se em arquitetura no Rio de Janeiro. Desde 2004, dedica-se exclusivamente à literatura e escreve diariamente no Noga Bloga, seu bem-sucedido blog de crônicas. O gozo de Ulysses - As múltiplas línguas de James Joyce é seu terceiro livro publicado.

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Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/14/2009 08:27:00 PM | | | Voltar


Kindle de graça

Gente, estou tão animada que não caibo em mim (ui!). Desde que amanheceu o dia estou propagando aos mil ventos (quatro agora parece tão pouco...) que o Kindle para PC já está disponível, de graça, para todo mundo ter: nem precisa mais possuir um Kindle, já pensaram nisso?
Nem precisa (pensar, quero dizer, ou hesitar). Vai lá, baixa e usa. É a revolução digital do livro completamente disponível, isso é que é democracia, hein?
Agora. Claro. Seu livro precisa estar disponível na Kindle Store, e quanto a isso eu e o Verdes Trigos estamos dando uma boa mãozinha, confere .
E, cá entre nós (que ninguém, etc., etc.), se aparecer no seu "kindle" alguma restrição para a América Latina, não se aborreça: basta adicionar à sua conta um endereço qualquer nos Estados Unidos, daquele seu amigo, da sua prima, do seu contato de Facebook que quiser facilitar a sua vidinha terceiromundista, se é que você me entende.
E eu, que não sou hacker nem nada, sou pela honestidade transparente em todas as circunstâncias - quem me lê, sabe -, já configurei o meu... Pois quando bate a impaciência, sabem como é, os espertinhos da informática não custam nadinha a encontrar uma saída, por que não eu? Por que não você aí, que quer fazer parte imediata deste admirável mundo novo dos livros*? Hein?
Vai lá. Aproveita, porque eu... já estou aproveitando.
Divirtam-se. E comprem meus livros, claro, basta clicar nos links aí do lado, obrigada! É bem barato, e não tem correio, nem demora, nem nada!

*insisto de novo pra que fique bem claro: para comprar livros em inglês não precisa de nada disso, basta instalar o software no seu PC que eles estão disponíveis para o mundo inteiro, você vai ver.

Via Noga Bloga

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29 de outubro de 2009

O joio do trigo no Kindle, por Noga Sklar

- A senhora tem jornais aí? - escuto vindo lá de fora a voz do pintor que chega, de manhã bem cedo, para retoques na casa, enquanto Alan emerge sonado do quarto, ainda de robe e já rindo dos mais recentes desencontros que a tecnológica humanidade impõe a nosso dia-a-dia cada vez mais empobrecido (haja grana pra manter-se parte, não é?).
- Agora imagine - ele adverte se divertindo - cobrir o chão da sala inteirinho com Kindles pra proteger a pedra verde dos pingos brancos de tinta...
Isso, pra não mencionar que até na feira o jornal impresso já vem perdendo parte importante de seu uso: meu peixeiro de Itaipava, por exemplo, usa um papel finíssimo - de um lado seda, do outro uma versão suavizada de pardo rosado - para embrulhar seu peixe.
Não foi ainda no leitor de ebooks da Amazon.com que li O Globo esta manhã, lá isso é verdade, ansiosa demais pra ver meu nome registrado na fila da frente dos brasileiros publicados no Kindle, eu e Machado, pois é, se andei sumida do blog por um ou dois dias - e do Facebook, e do Twitter, e até do Globo Online -, vocês já sabem por quê: é que eu estava desbravando corajosamente, exilada de tudo o mais na mesa do escritório do andar de cima (e arrancando, desesperada, os longos cabelos brancos, com tantos bugues de linguagem me atacando no preview da tela, sabe-se lá como e vindos de onde), a selva do formato no Amazon Kindle.
Mas estou chegando lá, isto é: entre tantas outras coisas - como, por exemplo, o excitante trabalho novo como editora do VerdesTrigos Digital -, muito em breve completarei meu longo ciclo de amor e ódio como leitora do Globo: fui assinante por anos da edição em papel, depois conformei-me (ui) com as manchetes online, pra terminar com final feliz como assinante no Kindle, taí, muito em breve tudo que vale a pena ler nessa nossa apressada vida conectada estará no Kindle - ao alcance de um clique, e, claro, de um bom débito em dólares no cartão de crédito (vocês sabem, tudo tem seu preço, e enquanto não chega a cesta chinesa de tarifas, todo preço ainda tem sua base em dólares americanos), quem sabe o Kindle salvará a economia? Hein?
Pelo menos a minha espero que salve, já que estou correndo na frente, podem conferir desde já publicadas lá, sob o novíssimo VTD, as obras literárias classe A da familia Sklar.

***

Quer publicar? Vem pro VTD você também. Você não vai querer ficar de fora, né?

Noga Sklar nasceu em Tibérias, Israel, em 1952. Graduou-se em arquitetura no Rio de Janeiro. Desde 2004, dedica-se exclusivamente à literatura e escreve diariamente no Noga Bloga, seu bem-sucedido blog de crônicas. O gozo de Ulysses - As múltiplas línguas de James Joyce é seu terceiro livro publicado.

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Cheiro de e-book

O Globo - 29/10/2009 - Por André Miranda
Como se empresta um livro virtual? Se o dono de um leitor digital morrer, quem herda sua biblioteca? O que acontece com as editoras regionais se uma grande editora estrangeira traduzir obras para outras línguas e as vender pela internet? Como fica o direito autoral na rede? São muitas as perguntas e poucas as respostas trazidas pelo avanço dos e-books. As alterações se intensificaram com a chegada do Kindle, leitor digital da megastore Amazon, a mais de cem países no último dia 19. Além dele, outros leitores virtuais, como o Sony Reader e o recém-anunciado Nook, este lançado pela livraria americana Barnes & Noble, ajudam a aumentar a sensação de que o livro físico pode ser superado pelo virtual em breve. "Se o contrato com o autor permitir, nada impede que um livro de língua portuguesa seja lançado num país de língua inglesa", diz Marcos Souza, diretor de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura (MinC). Assim como as editoras, o governo brasileiro também vem acompanhando a migração de obras culturais para a internet. O MinC vai enviar, em novembro, um novo projeto de lei do direito autoral para consulta pública. A necessidade de uma revisão é urgente: a lei atual data de 1998, um dos primeiros anos de internet no Brasil. Por isso, há questões nebulosas sobre o ambiente digital.

VTD está nesta matéria do O Globo.

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27 de outubro de 2009

The Kindle experience, por Noga Sklar

Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade
Neil Armstrong, primeiro astronauta [americano, claro] a pisar na Lua

Embora assim pareça, ainda não sou eu pondo as mãos e os olhos gulosos de consumidora no mais novo e cobiçado brinquedinho eletrônico da praça, não, gente. Mesmo assim, já vou cuidando de aprimorar a incrível experiência pra você, leitor afortunado, que já tem o seu: sexta-feira à noite foi celebrada a parceria entre esta autora e o competentíssimo Portal Verdes Trigos para a edição de títulos brasileiros no Kindle, você sabia? Que apesar de estar sendo vendido para o mundo inteiro e o Brasil incluído, o Kindle somente oferece três livros em português? Dois deles de Machado de Assis, e em cópia aparentemente pirata? (ou seria de domínio público? hein? cala-te boca.)
Bom. Quero dizer. Oferecia. Até na última sexta à noite, já que a partir daquele solene momento os quatro títulos desta que vos fala já estão à venda lá, sob o selo VerdesTrigos, marcando território intelectual para as nossas letras: um pequeno passo para Noga Sklar, um salto gigantesco para a literatura brasileira, já pensaram nisso?
Livros em português para o mundo inteiro à distância de um clique? (alô, editores, tradutores, leitores estrangeiros, raros versados na bela e tão vilipendiada língua portuguesa, olhem o Brasil produzindo aqui, ó)
E por falar em quatro, sim, é isso mesmo: timidamente, sem nenhum estardalhaço por enquanto e meio assim, digamos, em formato de testes, dou meu ousado primeiro passo (crucial pra me libertar da ditadura de capa e tinta com seus cheiros e toques e possíveis riscos de degradação física [do livro] e mental [do autor mais ansioso], além de, vocês sabem, depredar por pura ambição de papel a preciosa natureza) e publico, direto ao público no Kindle - sem meios ou fins de dolorido e tortuoso acesso que me impeçam, daqui por diante, o acesso direto a quem quiser me ler -, meu mais novo livro de crônicas, "Luau Americano", pode clicar pra ver.
Sei que, por enquanto, essa coisa de Kindle Editions ainda está engatinhando, em outras línguas, claro, já que em inglês são mais de 350 mil títulos à venda e alguns milhões de Kindles já vendidos, mas me acreditem, estamos chegando lá, escritores, editores e leitores - e eu entre eles em todas as posições possíveis desse excitante jogo literário, ah, tudo bem: somos poucos por enquanto, mas o importante nisso é estar presente desde o início, é ou não é?
Não estou querendo dizer com isso que a criação do Kindle equivale à conquista da Lua nem nada, claro que não, gente: vai ser muito mais importante para a história da humanidade - e põe romance nisso -, como tem sido até hoje a tecnologia da informática. Acredito mesmo que entramos realmente na Nova Era dos Livros, uma mudança tão marcante quanto partir pra prensa mecânica vindo do papiro manuscrito, vocês se lembram: aquele de cujas fibras os egípcios faziam livro e que hoje em dia não passa de planta ornamental doméstica, como no espelho d´água aqui de casa, por exemplo, se é que vocês me entendem. Tenho certeza que sim.

Noga Sklar nasceu em Tibérias, Israel, em 1952. Graduou-se em arquitetura no Rio de Janeiro. Desde 2004, dedica-se exclusivamente à literatura e escreve diariamente no Noga Bloga, seu bem-sucedido blog de crônicas. O gozo de Ulysses - As múltiplas línguas de James Joyce é seu terceiro livro publicado.

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8 de novembro de 2008

Complexo de vira-lata, por Noga Lubicz Sklar

"Ele escreve seus próprios livros!", afirmo para o meu marido Alan enquanto enumero, entre tantos outros motivos, minha preferência política por Barack Obama. Olho pra ele, ele olha pra mim, e caímos na gargalhada os dois, onde já se ouviu tamanho absurdo, "escreve seus próprios livros"? Uai, gente, não é isso que um escritor faz? Escrever? Mas bem, hum, tudo isso já está no passado, a eleição de Obama, quero dizer, não o mal de um mercado literário onde raros são os escritores que escrevem seus próprios livros, ih, já estou me repetindo, insistindo num estado de coisas que a bem da verdade não deveria espantar ninguém.
Outro dia mesmo a minha nova editora explicava seu trabalho de, hum, editora, me contando que os livros que chegam para publicação vêm completamente crus, com erros terríveis, enfim, impublicáveis. E que depois de editados, imaginem, o autor ainda os altera, isto é, "corrige" a edição, voltando muitas vezes aos erros de antes e por aí vai, euzinha aqui num estado terrível de ansiedade e curiosidade suspensa pra descobrir como é que vai ser comigo (refiro-me à revisão das "Crônicas de Ulysses"), será que o que escrevo é assim também, ruim a um ponto de, além de rejeitado por boa parte das grandes editoras, ainda ter que ser completamente reescrito? A conferir que se for o caso, prometo confessar pra vocês, mas de volta a Obama que essa coisa de se perder do assunto no meio do texto tampouco está com nada. ==>>> LEIA MAIS

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13 de outubro de 2008

O seu é o limite, por Noga Lubicz Sklar

"EU TENHO LOÇÃO DE RIDÍCULO", declara em alto e bom som Josirene da Silva - a mulata burra e bunduda do cabelo duro e nariz achatado de Black Music - ao seu interlocutor indeterminado: eu? você? ela mesma segundo alguns?, num clássico fluxo funkado de consciência, derramado e truncado e gritado, belamente intensificado nas letras garrafais que atravessam as 37 páginas finais do livro.

Com a breve exceção de um trecho em minúsculas sussurrado, confirmando com isso uma velha conhecida regra de todo internauta no estilo adotado. Mas ops. Peraí. O sujeito a quem se dirige (falando mais de sexo, mas também de outros encontros) é fatalmente um desnomeado do sexo masculino, como indica um eventual "meu querido" que logo de cara me exclui, pelo menos emocionalmente, da caudalosa parada impressionista. Ou impressionante. Do acalorado conflito musical resultante, em ritmo de um rap louro alucinante, nem Duque Elintão escapa, tá ligado? "Zoou comigo, acaba no microonda".

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3 de agosto de 2008

O que há de novo está no ovo, por Noga Lubicz Sklar

"Faz parte da natureza humana quando está diante de uma coisa nova, dizer: "É uma merda".", afirma Paulo Coelho, meu herói desta e de todas as outras semanas, entrevistado em Paris por João Paulo Cuenca, ah, bom: não se trata aqui de nenhuma ampla, geral e irrestrita anistia intelectual tardia concedida ao Mago, gente, não, apenas de uma autêntica conveniência marqueteira, estando o Cuenca em Paris e, nem faz tanto tempo assim, dividindo sala com Coelho na mesma editora, a tradicional porém moderníssima Agir.

Outras duas sacadas geniais de Coelho o Noga Bloga já pratica faz tempo: disponibilizar por princípio suas obras na internet ["Só tenho a ganhar com a pirataria. As pessoas lêem o início no computador, depois acabam comprando o livro"] e a política inovadora de "privacidade zero" no blog. Bem. Hum. Eu entendo. Compartilhar da privacidade do Paulo é uma coisa. Da minha é outra muito diferente. Não? Bem. A gente nunca sabe. Quem sabe em breve Coelho e eu poderemos também compartilhar a sala, hein? Porque o segredo da prosperidade, vocês sabem, não é a olímpica e já clássica data mágica chinesa - oito de agosto de dois mil e oito às oito horas e oito minutos - mas sim, vamos combinar: apostar na baixa. Pra realizar o lucro na alta, é claro. ==>>> LEIA MAIS

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12 de maio de 2008

Isso é ridículo!

Vocês me desculpem, eu não queria tocar no assunto. Bem. Todo mundo sabe que o Mecenato Moderno, minha proposta generosíssima de patrocínio a blogueiros, contendo inclusive um selo editorial para literatura de boa qualidade exercida online, foi recusada pelo Ministério da Cultura. Até aí tudo bem que eu já tinha me conformado, cancelado o site e aposentado o sonho não só de sobreviver blogando, mas de possibilitar o mesmo a outros blogueiros. Pois bem. Acabo de receber carta oficial do MinC justificando a recusa. Segue:
"...a concessão de bolsas para "blogueiros" (aspas deles) é vedada pela legislação, por configurar-se em utilização de recursos públicos para aumento de patrimônio de pessoa física ou pessoa jurídica."
Agora vem cá, alguém me explique qual é a diferença entre o artista blogueiro e qualquer outro tipo de artista que neste país só vive de patrocínio oficial. Hein?

[concordo com a NOGA]

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27 de abril de 2008

Vida de autor(a) , por Noga Lubicz Sklar

Não sei se é interessante a tendência hoje em dia dominante de se falar demais da própria vida, transtornando a literatura num caldo insossamente autobiográfico, coisa que sim, eu mesma faço e sem vergonha nenhuma. Esclarecer, esclarece. Mas limita a fantasia alheia, sei lá, perde o mistério e quem sabe a graça. Por outro lado, restringe consideravelmente a gulosa possibilidade de uma demolição futura da personalidade, processo sofrido em mais alto grau por Ann Hathaway, esposa de Shakespeare e praticamente uma desconhecida da história, vítima preferida dos adoradores acadêmicos do bardo. O assunto aparece revitalizado por Germaine Greer em "Shakespeare´s Wife", resenhado na edição desta semana do suplemento literário do NY Times. Tudo bem que muito do que se sabe da vida elizabetana não vem de fatos historico-antropológicos mas... das peças de Shakespeare, e nem nas páginas de Ulysses Ann Hathaway escapa de sua imagem tradicional como musa inspiradora do marido: a megera (in)domada, pra quem o escritor deixou de herança não mais do que sua segunda melhor cama. +++++++

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16 de março de 2008

Uichiquibeijmaijpuunapuuhuc!, por Noga Lubicz Sklar

Este episódio Circe do Ulysses é tão complexo que dá pra ver nele como Joyce se enrolou. É muito interessante: a dimensão do impacto criativo do artista retém o seu frescor nas loucuras do texto.
Tenho aqui em casa, vocês sabem, quatro versões principais do livro (fora capítulos esparsos na web e milhares de anotações): duas em inglês (uma impressa e uma em pdf) e duas em português, sendo a do Houaiss impressa e em pdf, o que facilita as idas e vindas, a busca de palavras através do livro, ocorrências repetidas e, agora em Circe, discrepâncias entre elas, ou vocês pensavam que eu guardava tudo isso na cuca? Ho ho ho, gente, assim nem Joyce. O curioso é que Houaiss seguiu a versão que tenho impressa e Bernardina seguiu a versão que tenho em pdf, o que dá uma visão quase completa da coisa.
Joyce, a gente nota, acha às vezes que exagerou na radicalidade. E volta atrás. São palavras inventadas, frases, falas inteiras cortadas ou acrescentadas, porque embora a minha mente lógica queira acreditar que a mais complicada veio primeiro não dá pra garantir nada, já que em Joyce, todo mundo sabe, a complexidade tendeu a se agravar até desembocar no quase incompreensível Finnegans Wake. Há momentos no Ulysses que são a prévia perfeita disso - é Burgess quem aponta -, como num dos paragráfos finais de Nausicaa que resume em meia dúzia de frases todo o pensamento do personagem até ali. Ou ainda no inglês recém-parido do Gado misturando sons de não sei onde pra resultar num idioma pra não sei quem muito joyciano mesmo, fecha essa matrafalaca. Ops. Falamatraca. ===>>> LEIA MAIS

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28 de fevereiro de 2008

A arte imita a arte, por Noga Lubicz Sklar

Depois que descobriram um novo monstro marinho - isto é, um velho - numa ilha da Noruega, não vou me espantar nadinha se afirmarem que o de Loch Ness existe mesmo. Isso, claro, devido às descobertas tecnológicas de um Michael Crichton, que nos permite fertilizar dna de fóssil. Já estou pagando pra ver.
Porque se a gente deixar, um clima hiperreal de pesadelo toma conta de nossas vidas, e hoje nem é sexta-feira treze. É quinta. É fevereiro. Embora o dia de amanhã, todo mundo sabe, nem vai existir, calma, gente: é ano bissexto e, vocês sabem, outro assim só daqui a... sei lá. Nem quero saber. Como esse porteiro de Copacabana, coitado, espancado quase até a morte pelo simples fato de existir e ocupar um lugar no mundo, lugar errado, isto é, no prédio comercial fechado à noite. Ou aquele prisioneiro no Iraque, um cidadão comum torturado pelo simples fato de estar ali no carro, ou o garoto atropelado, ou aquele soldado queimado e esquartejado por seus colegas pelo simples comando da mente doente - síndrome pós-traumática - vítima e algoz afundando no mesmo barco, afinal de contas, são atores ou veteranos recuperados? Ou como o finado Tim Lopes que não tinha síndrome nenhuma nem estava no lugar errado, mas foi espancado até a morte, queimado e esquartejado assim mesmo porque, francamente, muito errado mesmo anda o nosso mundo. Ou nossa visão distorcida dele. E o nosso Tim, imaginem, nem foi candidato ao Oscar de ator estrangeiro. Injustiça. ===>>> LEIA MAIS

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18 de fevereiro de 2008

Vergonha de quê?, por Noga Lubicz Sklar

"Jim, how beautiful you are!"
de Nora Barnacle a James Joyce, morto, pelo visor do esquife

Que por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher, todo mundo sabe. Mas por trás de uma grande mulher, existe o quê? Um homem pequeno? Um ego masculino domado? Amansado, sim, mas a pão-de-ló, cama, cozinha e roupa lavada, café da manhã na cama. Pequeno? Talvez. Mas, certamente, raro. Nem sempre paciente.
"Bem, Jim está escrevendo seu livro. Vou pra cama e este homem se senta no quarto ao lado e continua rindo do que ele mesmo escreve. Então eu bato na porta e digo, Jim, olha, pára de escrever ou então pára de rir." É meia-noite, num certo apê em Zurique. Mas pelo que sei, poderia ser aqui, ao meio-dia, nesta sala apertada do Alto Leblon, e esta fala na boca do Alan, é, gente. Sim: é duro ser Noga e Nora ao mesmo tempo. ===>>> ++++++

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10 de fevereiro de 2008

Ah, se eu soubesse, por Noga Lubicz Sklar

Frase enigmática que por muito tempo intrigou os intérpretes do Ulisses de Joyce, "Women won´t pick up pins. Say it cuts lo." - Mulher não apanha alfinete. Diz que corta o am. (ou em outra opção de tradução, espanta o aman) - esse espanta o aman, ou corta o am, não passa de uma boa mandinga: mulher não apanha alfinete no chão porque espanta o amor, cuts lo(ve), deu pra entender? Bom. Desculpe aí se o mistério acabou de perder a graça.
Ah. Pena que eu não soubesse disso. Já fiz a mandinga contrária, gente, é: me acreditem. E me dei muito mal. Funcionava assim, envolvendo pétalas de três rosas vermelhas - e vela de sete dias, sem fita amarela, e bilhetinhos cortados com o nome do amado - fervidas em água com mel, você besuntada com aquela mistura melada antes do primeiro encontro e o bilhetinho nomeado debaixo da vela acesa de sete dias. Podia até ser que não resultasse em fogo na casa, mas no coração de alguém, jamais falhava. E comigo tampouco falhou: fiquei com o sujeito insistindo na minha cola, bem depois de ter decidido, de ter tentado ardentemente, me afastar para sempre dele, ah! se eu soubesse o macete do alfinete. Apanhava do chão quantos fossem preciso.

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30 de janeiro de 2008

Cadê os nacionais?

O Globo - 30/01/2008 - por André Miranda e Miguel Conde
Duas palavrinhas devem ser acrescentadas à velha máxima de que "brasileiro lê pouco". Levantamento feito pelo jornal Globo junto às principais editoras do país, e ilustrado na pilha de livros ao lado, mostra que apenas um nacional figurou entre os dez livros de ficção adulta mais vendidos no Brasil em 2007: Elite da tropa" (Objetiva), uma obra cujas vendas foram alavancadas pelo filme-sensação "Tropa de elite" e que possui o apelo extra de ser uma história real "disfarçada" de ficção. Portanto, se é verdade que o brasileiro lê pouco, parece mais claro ainda que o brasileiro lê pouco romance brasileiro. O desempenho comercial da ficção brasileira parece ainda mais fraco após uma olhada na lista de não-ficção, na qual a presença nacional é muito maior: em 2007, houve semanas em que até seis livros brasileiros apareciam entre os dez mais. No ranking de ficção, Elite da tropa ficou em oitavo, atrás de obras de autores de Afeganistão, Austrália, Índia, Estados Unidos e Espanha. >> Leia mais

Leia também: Assunto relevante, no Bloga Noga

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26 de janeiro de 2008

Paradigmas, por Noga Lubicz Sklar

"A arte" - afirma A.E., o poeta George Russell, no nono episódio (dialética) de "Ulisses" - "deve nos revelar idéias, essências espirituais informes. A questão suprema sobre uma obra de arte é a profundidade da vida que brota dela."
"O resto" - conclui - "é especulação de um colegial para outros."
Bons tempos. O que é que escapa hoje em dia ao rótulo maldito de pura especulação? Hein? Pelas mãos de quem faz tempo já passou de seus tempos de colegial? Não a arte. Certamente que não. E o espírito? Ainda menos.

Ah. O espírito. Que perda de tempo. A vida esotérica não é pra qualquer um, diagnostica Joyce - pela irônica boca idealista de Stephen Dedalus, seu alter-ego jovem quando artista - antes que a dor da vida o transforme num Bloom traído qualquer. Entre ovos áuricos cintilantes e um corpo de carne que muda, completamente, a cada seis meses - ops. exagero. hoje em dia, todo mundo sabe: a cada seis anos - J.J. oscila hilário entre crente e sarcástico, entre o ridículo e o radical. ==>> LEIA MAIS

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19 de janeiro de 2008

Um livro que ninguém lê, por Noga Lubicz Sklar

"não se preocupe, não sou tão intelectual quanto pareço. nunca li Nietzsche nem Hegel,
e o Ulisses de Joyce dorme há anos na minha cabeceira, esperando eu ter coragem de atacar.
no entanto, já vi muita coisa... os filmes velhos todos, de Aurora a Caligari. e Fred Astaire e Boggie...
depois Fellini, Almodóvar..."

Noga Lubicz Sklar em "Hierosgamos"

"Eu nunca li "Ulisses" de Joyce e provavelmente nunca o lerei", afirma com uma espécie besta de orgulho o francês Pierre Bayard, autor de um volume fininho e baratinho intitulado "Como falar de livros que não lemos?". Mesmo assim ele se considera apto a fazer referência a Joyce em suas aulas, já que está por dentro do assunto e da "situação" do épico romance. Azar o dele.
Não dá pra negar que uma breve sinopse de Ulisses tem lá sua breve utilidade, o que não substitui em hipótese alguma o prazer de mergulhar plenamente nele. Digamos assim: o enredo é um roteiro de viagem, um bem-bolado folheto de propaganda da agência com uma ou duas páginas e uma bela imagem na capa. Mas quem imagina que só isso basta, que já provoca o tesão - pessoal e insubstituível - da descoberta de um mundo novo, uma outra cultura, paisagens exóticas e o clima excitante do desconhecido, tsk tsk: se ilude. É como, mal comparando, visitar o Louvre pela internet e acreditar-se um connoisseur de história da arte. Ou se contentar com a Monalisa em foto de celular.
Vou contar pra vocês como é que estou lendo Ulisses. Sim, no presente: estou lendo.

Convite da NOGA: Acompanhe online a criação do meu próximo livro: Crônicas irônicas de Ulisses.

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13 de janeiro de 2008

A América contra a caretice, por Noga Lubicz Sklar.

"Não existe uma América negra. Não existe uma América branca. Não existe uma América latina ou uma América asiática. O que existe são os Estados Unidos da América", prega o mantra comunitário de Barack Obama a favor de um mundo civilizado.
"Maravilhoso, não?", comenta Ali Kamel em seu artigo "Obama" no Globo. "Tudo isso escrito e publicado por um político negro nos EUA. Que os Estados Unidos tenham um candidato negro, viável, e que pense assim, é em si um sinal de que se está mais perto do sonho de Martin Luther King", continua o Ali. E de alguns outros sonhos também. Um sonho ameaçado, no entanto, pelo conservadorismo americano, que embora dê sinais de algum desejo de mudança, ainda persiste na caretice. E persiste apesar de atitudes progressistas, que plantaram sua semente de modernidade há muito tempo atrás.
Não sei vocês, mas eu não sabia disso: o Ulisses de James Joyce, banido nos Estados Unidos sob a acusação de obscenidade, só foi publicado, em 1933, graças à sensibilidade do juiz federal John M. Woolsey.

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29 de dezembro de 2007

Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis

Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis

de Nathan Englander (tradução de Lia Wyler; Rocco; 224 páginas; 36 reais)

Publicado nos Estados Unidos em 1999, esse livro foi uma das mais aclamadas estréias dos últimos tempos. Englander foi comparado a outros grandes escritores judeus, como Bernard Malamud, Saul Bellow e Philip Roth. E ele faz por merecer essa admiração crítica. Seus nove contos visitam o universo judaico com uma ironia que não dispensa o sentimento da tragédia histórica, como se vê em O Vigésimo Sétimo Homem, sobre um grupo de escritores iídiches que são torturados e mortos na União Soviética de Stalin, ou no conto-título, sobre as dificuldades sexuais de um casamento ortodoxo.

 

[Termino o ano de 2007 com a leitura deste lançamento do Nathan: um presente da Noga (isso mesmo, ela surpreendeu-me com este livro), vou conferir letra por letra. Nathan Englander é matéria de capa do Prosa & Verso, do Globo, de 29/12, com entrevista e mil elogios]

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Segredo ou sagrado?, por Noga Lubicz Sklar.

Segredo ou sagrado?
"Nunca aceitei esse ranço de obediência na relação do artista com as multinacionais. De eles saberem mais, de terem o poder de orientar. Eu sempre disse não, e eles sempre respeitavam esse não. Porque eu sempre fiz muito bem tudo o que quis."
Maria Betânia, imperdível, em entrevista ao Caderno Ela de O Globo

Na mesa de almoço em família comunico ao meu tio intelectual minha firme intenção de atacar o velho Ulisses, de James Joyce — um livro que é meu livro de cabaceira, ops, cabeceira, há mais de 5 anos* — nestas férias de fim-de-ano. Já tendo lido, com um prazer inenarrável (ui!), as primeiras cem páginas, não consigo entender as razões para ter hesitado tanto. Deve ser o marketing, ou no caso, o anti-marketing, confirmado por minhas jovens primas: é chato.
Mas, gente, se tem um adjetivo que não se aplica, de jeito nenhum, a esse ícone da literatura, é este. Chato? Pode ser incomum. Pode até ser meio difícil pra quem não tem o hábito da boa leitura, se limitando aos novos lançamentos, resenhados e elogiados por razões muitas vezes obscuras (pra não dizer comerciais, mesmo). Mas chato nunca. Instigante. Poético. Ousado. Isso sim. Nunca gratuito. A gente sente por trás dos neologismos, das citações, da ordem expressa das palavras, a clara intenção do escritor. Nada. Nada de preguiça de (re)escrever ou pressa de publicar. Por enquanto estou lendo, claro, a tradução de Antonio Houaiss. E por falta de opção melhor confiando nela, na erudição do tradutor, na compreensão ampla que ele teve do original, coisa que certamente eu jamais alcançarei. Porque meu passo seguinte, pasmem, é perscrutar o original que encomendei na Amazon. Que pretensão. =>> LEIA MAIS

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15 de dezembro de 2007

Trem da Cultura

Para meu espanto e decepção dos envolvidos, o Mecenato Moderno foi indeferido pelo MinC na 148ª CNIC. Nosso MeMo foi um entre os oitocentos projetos analisados em dois dias de reunião. Sim, pasmem, oitocentos: descontando o almoço da galera, dá em média um projeto por minuto. E considerando a complexidade requerida para submeter as propostas, com todas as planilhas, justificativas, orçamentos e organogramas envolvidos — eta eficiência, sô —, sobram menos de dois segundos para cada página entupida de dados técnicos.
Sorry, folks, mas nosso futuro brilhante acaba de ficar incerto. (Noga Bloga)

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Centenário, por Noga Lubicz Sklar.

Esta crônica, publicada originalmente em 15 de janeiro de 2007 no Noga Bloga, foi responsável por minha seleção para a Oficina de Crônicas da Flip, e é com ela que homenageio, hoje, o centenário ilustre do dia. Obrigada por sua inspiração, Mestre Oscar. Nisso e em tudo o mais.


Hey, Óscar
Em minhas mais íntimas fantasias, me sinto igualzinha a qualquer celebridade (celebridade verdadeira, digo, como Picasso, Fellini, Caetano. Pina Bausch e outros do nível, nada de Ilha de Caras, por favor, que dessas não chego nem perto. Haha. Vocês notaram. Deixei o Philip Roth de fora, porque aí já seria pretensão demais). Não vejo diferença nenhuma entre o talento deles e o meu, mas como personalidade, é óbvio que o buraco é mais embaixo. Não sei o que me falta, gente: talvez um pouco mais de loucura, de ousadia, de um não-ligar-pro-que- alguém-pensa-de-mim. Ainda não cheguei lá mas vou me arrastando, penosamente, nessa direção. =>> LEIA MAIS

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8 de dezembro de 2007

Que livro é esse?, por Noga Lubicz Sklar

Promoção inédita no Globo premia com um exemplar de "Eu sei que vou te amar", novo livro de Arnaldo Jabor, as sessenta melhores respostas para a pergunta "Qual a maior loucura que você já fez por amor?" enviadas para o endereço promoglobo@oglobo.com.br.
Vou à Cultura e descubro que não, não é erro do jornal. O livro acaba de ser lançado pela Objetiva, mas uai, gente, não era esse o nome de um filme de Arnaldo Jabor? Que, se não me engano, deu prêmio em Cannes a uma muito jovem Fernanda Torres?
Normalmente o trajeto do livro ao filme se dá na direção oposta, e me acreditem: é a melhor coisa. Ter visto o filme interfere demais na relação muito íntima, quase sexual, que o leitor estabelece com o livro através da imaginação.
Tudo bem que a forma escrita, o ritmo, a escolha da palavra certa e da ordem certa das palavras contribui bastante, o sentir na pele o empenho do autor, o gozo pleno da literatura. Bah. Coisa mais antiga, do tempo assim, digamos, de Flaubert, como muito bem mostra este post do Digestivo Cultural. Porque ninguém tem mais tempo pra isso, fala sério: vinte páginas escritas em um mês? E o mercado, gente? E o mercado? Além do mais, a imposição da imagem hoje em dia é tanta, e tão intensa, que tanto faz a linguagem, e é aí que o livro-depois-do-filme perde um bocado da graça. Pelo menos é o que estou sentindo ao finalmente ler, com considerável atraso, aquele que é considerado um dos melhores romances do século, hum, qual? Vinte e um? (É meio cedo pra isso, né não?) Nele, se realiza a contento a descrição dos personagens, das paisagens e ambientes, a vivacidade da trama, todos brilhantemente traduzidos em filme no maravilhoso "Reparação", baseado no romance homônimo de Ian McEwan - nossa, alguém já me ouviu elogiar um filme assim? Acho que eu estava de bom humor naquele dia ou, no mínimo, muito bem acompanhada, me sentindo bem-amada.==>> LEIA MAIS

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2 de dezembro de 2007

O reincarnado da Avenida Parque*, por Noga Lubicz Sklar

Nathan Englander merece o benefício da dúvida, e não só por ser este gato aí da foto. Desculpem. Nunca antes aqui no Noga Bloga publiquei a foto de um autor, mas esta estava lá, dando pinta no artigo do San Francisco Chronicle, pedindo pra ser usada. Não resisti, dá pra entender porquê. Nathan Englander merece o benefício da dúvida por ter publicado seu primeiro livro aos 29 anos (nos EUA, em 1999) - esses contos que acabei de ler e que podem ser resumidos numa única constatação: o texto não faz por merecer o excelente título, "Para alívio dos impulsos insuportáveis" -, e ter recebido por ele não sei quantos prêmios, a ponto de ser considerado pela mídia um rock-star da literatura. Nathan Englander merece o benefício da dúvida por ter tido seu primeiro romance, publicado este ano, na lista dos 100 melhores livros de 2007 do New York Times. Não é pouca coisa.
Nathan Englander se acredita intenso, brilhante, e além de tudo isso, a reincarnação da literatura iídiche, intensa e brilhante, de Isaac Bashevis Singer e Bernard Malamud. A coisa é tão óbvia que depois de ter comentado com o Alan que o cara pretendia ser o novo BS ou BM dei de cara com o mesmo tipo de comentário na resenha do New York Times.  ===> > >  + + + + +

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19 de novembro de 2007

O que vem por aí, por Noga Lubicz Sklar.

"Este é um romance de ficção. Com exceção das partes que não são."
Michael Crichton

O que ele faz nem é considerado literatura, mas Michael Crichton não está nem aí. Segue em sua trajetória alarmista de sucesso iniciada com "Parque dos Dinossauros", agitando o cartão vermelho do futuro no nariz de quem discorda de sua visão do mundo. Entre os quais não me incluo, e a prova disso é que até me arrisco, sob o risco de desprezo dos meus pares, a citar seu último romance "Next" na coluna "Estou lendo" do meu blog. A partir dessa decisão me comprometi com algum comentário, e pra ser honesta, me espantei ao encontrar o livro resenhado no NY Times. Metendo o pau, claro.
Michael Crichton discorda do pensamento dominante e por isso - e também por seu trabalho de pesquisa e a ousadia de ir contra a corrente do lucro que permeia hoje em dia o idealismo ambiental -, tem a minha simpatia. Além disso, domina o ritmo frenético da prosa e a política da linguagem, o que garante, pelo menos, uma boa e bem revisada diversão. No original em inglês, pelo menos.
Com sua proposital ambigüidade, Crichton irrita críticos e leitores. Mas provoca a reflexão quando a gente descobre, por exemplo, que o coelho fluorescente de Eduardo Kac, um dos ícones da arte biogenética que ele descreve, é pura realidade, não delírio deslavado de um ficcionista de araque. O Alan, por exemplo, não sabia disso, mas Eduardo Kac, vocês sabem, é daqui do Rio e o coelho verde dele, pra nós, não é novidade nenhuma. ==>>> + + + + +

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14 de novembro de 2007

Oh, Yoko! , por Noga

"Our life, together, is so precious, together, we have grown, we have grown."
John Lennon

É tão fácil para fãs dos Beatles, entre os quais me incluo, que já virou clichê há muito tempo: culpar Yoko Ono pelo fim do sonho. De todos os nossos sonhos. Me admira é Daniela Thomas e Arnaldo Jabor caírem nessa. Yoko como artista não chega aos pés de Lennon, tá certo, mas vai saber o que John viu naquele dia, naquela galeria de Londres, nos pés da mulher baixinha trepada na escada com um martelo na mão. Alguma coisa muito bela foi, bela a ponto de durar, inspirar, capitular. Transformar um homem revolucionário, mais famoso que Jesus Cristo, em amoroso househusband, já pensou? Não é pouca coisa. Deste encontro veio a mensagem de paz que o Jabor menospreza, algumas das mais belas canções de amor que a gente conhece, um belo filho e um trágico desfecho. Ou a gente acha que o John era gênio ou que o John era ingênuo a ponto de se entregar à "víbora", pobre Yoko. Imagino o assédio assassino dos fãs se até eu, que não sou ninguém, já fui vítima disso. Yoko, garanto, pouco liga: foi amada, idolatrada, salve salve, por um dos homens mais cobiçados da história. Bom pra ela que até hoje ainda se alimenta deste grande amor. Ela merece. Já o veneno de quem a detesta sem nenhum motivo nem sai da língua gordurosa de quem o destila. Cuidado aí pra não mordê-la. (Noga Bloga)

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9 de novembro de 2007

Genealogia da repressão, por Noga Lubicz Sklar.

"Uma equipe de biólogos franceses isolou um "gene Mestre", que faz as pessoas tentarem controlar o outro ... O estudo mostra que o gene está presente não somente nos que gostam de mandar, mas também nos que gostam de ser mandados, pessoas extremamente inclinadas a adotar modas de todos os tipos — um comportamento "fashion" —, e a suprimir opiniões e preferências que não são compartilhadas por seu grupo." Michael Crichton em "Next" (tradução livre do original em inglês)

A maioria das pessoas que eu conheço não confessaria nem sob tortura que um dia leu Michael Crichton. Nem eu. Mas a verdade é que, pra relaxar, gosto de ver filminhos, e se a coisa estiver muito preta, ler livrinhos, vocês sabem, só pra distrair.

Por conta desses enganos é que caí na esparrela do último filme de Meg Ryan, "In the land of women". Gente, tem alguma coisa de muito errado lá com a eterna cool girl — do muitas vezes repetido "Mensagem pra você" —, e até o fim do dvd, entre uma cochilada e outra, não descobri o que é. Não sei se é a idade (olha o coxo, etc, etc), ou uma plástica mal-feita, ou se é má interpretação mesmo, numa comédia de equívocos que junta maus atores a um roteiro ruim, passando inevitavelmente por uma péssima direção. Fujam. ++++++

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26 de outubro de 2007

Balança mas não cai, por Noga Lubicz Sklar.

Crash, ou melhor, ColisãoSe não me engano, foi Sérgio Rodrigues quem disse que o filme era chato e o livro, ilegível. Sérgio diz no post que o filme foi dirigido por David Cronenberg, mas pelo que sei, é na verdade de Paul Haggis, um diretor badalado que em 2006 arrebatou longa lista de prêmios, Oscar de melhor filme e roteiro original. Me lembro de ter gostado do filme, mas essa de roteiro original me confundiu: é baseado no romance homônimo ou não? Ah, bom, santo google que resolve todas as dúvidas, mas o fato é que o filme de Cronenberg não consta em lugar nenhum: não saiu em dvd, nem está no IMDB, ops, procura daqui, procura dali, achei: eis a diferença entre uma cronista que chuta e um jornalista que apura, sendo eu a primeira e o Sérgio, claro, o último, caramba, esbarrei sem querer numa polêmica das boas.
Tudo isso era só pra dizer, enquanto eu pensava que "Crash" — o livro ilegível de J. D. Ballard que eu não li, que o Sérgio odiou, mas muita gente boa adorou: o sujeito é badalado à beça, tem até ballardosfera na internet — é que tinha sido filmado por Haggis e resultado num filme imperdível... ou melhor, pra afirmar que outro livro ilegível como "O doce veneno do escorpião" tem a chance de resultar, pela intervenção talentosa de Karim Aïnouz, num filme decente e até relevante. Diz o futuro roteirista, diretor de "O céu de Suely", que "o filme vai retratar o submundo da prostituição em São Paulo", já fui gostando da expressão "submundo": dá uma certa esperança de colocar as coisas em seu devido lugar.
Agora, não vão vocês me culpar de ter a boca podre se, daqui a um par de anos, alguém fizer um filme homônimo, com tema semelhante e roteiro original (como no caso do segundo "Crash") — bancado pela Globo e estrelado pela estonteante Camila Pitanga no papel de Bebel —, jogando a história real da Bruna no esquecimento e arrebatando kikitos. Trata-se, aparentemente — e a julgar pelo sucesso de público das duas "damas" —, de tema apaixonante, embora a paixão amorosa fique pra sempre fora dele. Isso enquanto, na vida real (na minha, pelo menos), é a única coisa que verdadeiramente interessa.

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21 de outubro de 2007

Infiel, por Noga

Infiel: Ayann Hirsi AliEu estava certa de já ter falado aqui no blog sobre esta força em forma de mulher que é Ayaan Hirsi Ali. Mas parece que me enganei, procurei, não achei nada. O fato é que ela já tinha chamado a minha atenção há mais de um ano, quando li artigo não sei onde, provavelmente no New York Times — é, foi —, sobre a autobiografia que ela estava lançando. Esta bela mulher aí da foto, acreditem, teve extirpado o seu clitóris — este assunto sim, já abordei várias vezes, e nunca é demais insistir — mas não sua fibra, sua garra, sua disposição acima de qualquer ameaça para mudar um absurdo estado de coisas.
"Defendi sim, o direito de ofender, dentro das regras do jogo democrático, claro. A democracia é isto: o direito de dizer tudo o que se pensa, inclusive expressar idéias que podem ser agressivas ou ofensivas a outros. Só assim existe um verdadeiro debate. As idéias têm que ser livres. As sociedades que censuram as palavras são aquelas nas quais os conflitos são resolvidos pela violência, pelo desrespeito à liberdade dos indivíduos", afirma ela, no artigo de Marília Martins publicado hoje no Globo.
Ayaan Hirsi Ali mantém um blog e já protagonizou histórias incríveis. O diretor do filme "Submissão", cujo roteiro sobre mulheres muçulmanas vítimas de violência doméstica ela escreveu, foi assassinado na rua em Amsterdã. No momento Ayaan vive nos Estados Unidos, segundo ela o país mais democrático e livre que existe. Seu livro autobiográfico "Infiel" acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras.
Ou vocês queriam que eu perdesse meu tempo para explicar que tudo bem, existe o vandalismo, mas estas vacas de fibra da Cow Parade já nasceram condenadas à decadência: um conceito fraco, mal executado, e que não resiste ao sol e à ação natural do tempo?

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7 de outubro de 2007

Seja um MEMO* você também, por Noga Lubicz Sklar


A gente cria. Escreve. Publica. Livros. Blogs. Comunidades. Mas no vamos ver, vamos viver de quê? A coisa, entre outras coisas, tem me encucado. Andei buscando uma solução. E a encontrei.
Fiquei devendo pra Martha Medeiros no outro dia mas me redimo hoje, com citação e tudo. (Morde e assopra é comigo mesmo. Mas não é por ser puxa-saco, ou por insegurança, ou por pena. Nada disso. É que digo o que penso, e se for de amigo e não for o melhor, o mais elogioso, logo me arrependo. Não de dizer a minha verdade, hum, mas de pensar e sentir aquilo, fazer o quê.) Na Revista deste Domingo, Martha mostra porque é mesmo uma deusa, vai lá. Concordo com ela em conceito, exemplo e atitude, vejam só: "Não se sinta culpado por pensar em si próprio. Cuide do seu espírito, do seu humor. Arrume seu cotidiano. Agora sim, vá em frente e mostre aos outros como se faz."
Detto e fatto, bem, não é tão fácil. Arrumar como? Diz o Globo que existe escassez de 20 mil engenheiros no país, em todas as áreas. Bem. Nem todo mundo quer (ou pode) ser engenheiro. E a vida de artista, como é que fica? De escritor? De blogueiro? Vender livro, já se viu, dificilmente é solução pra bolso. Emprego em jornal, nem pensar, como disse uma amiga no outro dia: "nem dando pro Xexéo", ah, tá bom. Melhor deixar pra lá. A gente tem o que dizer, vai e diz: escreve no blog, e não é coisa pouca. Exige pesquisa, criação, revisão e edição, fotos, links, cuidado. Ou vocês pensam que só leva um segundo? Não, gente. É trabalho, trabalho sério. Do bom. Vai daí que eu já tinha pensado: com essa audiência toda, imagine se cada um que te curte resolve te patrocinar, hum, digamos, com cinco reais por mês. Nem falo daquelas visitas todas que o contador mostra, não mesmo, falo dos 10 por cento que te lêem mesmo, ficam mais de uma hora contigo todo dia, sacou? Hum... um, dois, cinco reais, mas só quando a gente quiser, se der vontade de apreciar um texto bom, sem vínculo ou compromisso. Gostou? Patrocine. De NY, comenta aqui no blog a Simone K. : "Como sabe o doar aqui, ou a falta dele, pode até ser um motivo de vergonha. Trabalho voluntário é a forma mais popular, não? Se a gente não faz, o vizinho reclama."
Ah, sim. Brasileiro não dá nada de graça pra ninguém, mas bem que a gente podia mudar um pouco isso. Um amigo meu, artista como eu, achava humilhante um link que eu tinha aqui no blog, pra doações no PayPal: acabei apagando. Mas continuei pensando: uai, gente, humilhante por quê? É humilhante ser apreciado? Ser pago por seu trabalho? Já faz um bom tempo que me debato com a questão; como "trabalhadora da luz", o dilema era o mesmo: trabalhar pode; cobrar não. E nesses tempos de ascensão, quem é esotérico sabe bem do que estou falando: fala-se muito em mudanças radicais, em um novo ambiente de altíssima energia onde cada um só faz o que lhe dá prazer. Muito belo. Muito bom. Mas a pergunta persiste: se o nosso mundinho tresdê ainda funciona à base de dinheiro, como é que se vai sobreviver? Novas formas de viver? E quais seriam? Hein?
A web é uma resposta, com certeza. Uma mente coletiva: troca de idéias e ideais, um celeiro criativo de tudo. Dos engenheiros (a troco de salário, gente, pra eles não falta emprego!) vêm as ferramentas. Dos artistas, o conteúdo: todo mundo usa e abusa, e online, se doa de graça, não tem o menor problema. A web já está no futuro, no admirável mundo novo onde a gente só faz o que quer, e não precisa de dinheiro: é muito maior do que o Second Life. It's the One and Only Life.
Eu penso, gente, e penso muito. Vai daí que surgiu essa idéia de patrocínio voluntário de blogs. Gostou? Patrocine. Não espere o governo, o bolsa-família, o Ministério da Cultura, o prêmio, a lei, a corrupção. Nem precisa de projetos complexos, de concorrência ou aprovação. Gostou? Patrocine. Simples assim.
Pode ser que funcione. Pode ser que não. Mas é, certamente, uma opção. Faço como a Martha diz: penso em mim, começo por mim, ensino como se faz, e... bem. Espero que façam o que eu digo. E faço. Bom domingo pra vocês, e pra mudar de vida hoje mesmo, seja um MEMO* você também.

* MEMO: mecenatomoderno.org, um jeito web de mudar sua vida, e a vida de quem você curte. Visite o site. Participe da Comunidade.


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