RSS para VerdesTrigos
Seu Email

Blog Verdes Trigos

PÁGINA PRINCIPAL BLOG VERDES TRIGOS TOP 30 POST´s QUEM SOMOS CONTATO

18 de novembro de 2009

Um pé atrás diante do rótulo de "clássico", por Chico Lopes

Como tudo que há no mercado cultural, o rótulo de "clássico" para alguns DVDs vendidos em bancas tem que ser visto com um bom pé atrás. Já adquiri alguns filmes de que tinha boa lembrança, fosse pelos atores, fosse pela trilha sonora ou alguma outra vaga indicação de algum crítico de renome que jazia obscura em minha mente, e me arrependi a tal ponto que os joguei fora. Por vezes, o erro era meu - supervalorizei uma boa lembrança, uma daquelas miragens saudosistas que de vez em quando nos dominam, e quebrei a cara encontrando uma banalidade anacrônica que não poderia mesmo resistir ao tempo. Por vezes, eram os filmes que vinham em cópias tão deficientes que chegavam a dar ódio, pelos problemas de som e imagem, por terem sido extraídos de VHS e parecerem verdadeiras armadilhas para saudosistas incautos.

Claro que são episódios isolados e que há muita coisa boa à venda. Mas, no tocante a decepções, são paradigmáticos os filmes de Sarita Montiel que adquiri, como "La Violetera" e "A rainha do Chantecler", com imagens desbotadas e som horrível. Além disso, são dramalhões tão terríveis que só se pode rir de um dia eles terem nos feito chorar e o que os salva é o charme e a voz de Sarita, que foi um mito espanhol no cinema e era mesmo uma estrela, mas nunca uma atriz. Mas certas coisas só se percebe mesmo em retrospectos maduros.

Um bom auxiliar para mim, nesses casos, tem sido os guias de DVD lançados por Rubens Ewald Filho, que sempre esclarecem quando as cópias se encontram em mau estado. Há decepções de outra ordem, também, mas aí o risco advém da publicidade excessiva em torno de algumas produções e da badalação que receberam junto a alguns críticos e de nossa própria suscetibilidade a essas coisas - ninguém que cede ao saudosismo escapa a cometer equívocos embaraçosos. Sob o rótulo de "clássico", na verdade, o mercado de DVDs, muito útil e precioso por seus filmes e extras indispensáveis, tem empurrado muita coisa ruim para o público. Ou, quando não é ruim, serve apenas para os que são muito complacentes com suas emoções; bastaria só um pouquinho de senso crítico e a saudade toda iria por água abaixo.

EQUÍVOCO DE DOUGLAS SIRK

Exemplo de filme que pode seduzir e enganar é "Sinfonia interrompida", uma daquelas produções da Universal dos anos 50 que hoje em dia acabaram sendo superestimadas pela crítica porque seu diretor, Douglas Sirk, foi revalorizado por Fassbinder e outros e colocado num panteão honroso. Bem, Sirk fez coisas boas, mas fez também muita coisa "matada" e duvidosa como esse filme, estrelado por June Allyson e Rossano Brazzi.

Ela é uma americana típica (ninguém parece tão americana típica quanto a housewife sorridente Allyson, símbolo da caretice ianque dos anos 50) que vai para a Alemanha e, em Munique, conhece um temperamental regente de orquestra (o clichê é infalível) vivido por Brazzi. Ele teria que passar por alemão, mas como é impossível fazer Brazzi parecer um, os roteiristas optaram por torná-lo metade italiano de nascimento (sic). Ele é casado em circunstâncias meio estranhas, mas Allyson se apaixona por ele. O curioso é que Brazzi, que havia feito papel semelhante em "Quando floresce o coração", parecia predestinado a ser o italiano de caráter dúbio que encanta americanas (ele é o Renato que deixa a solteirona Katherine embasbacada em Veneza). Aqui, tal como no caso de "Quando o coração floresce", Allyson conclui que ele não é homem com quem uma americana direita deva se casar. O casal de atores não tem a menor química, é embaraçoso, e o filme só se salva por uma boa fotografia e a trilha sonora que nos leva até Salzburgo para ouvir Mozart. Mas, quem esperar muito dessa produção, quebrará a cara solenemente.

BOGART E HEPBURN EM ESTADO DE GRAÇA

Isto sim é nostalgia de primeira, disponível nas bancas - "Uma aventura na África". A cópia que vi tinha erros de tradução grotescos, mas nada consegue prejudicar um filme com Katharine Hepburn e Humphrey Bogart em estado de graça, a mais perfeita comédia romântica com boas doses de aventura e algum drama que já existiu.

Bogart ganhou um Oscar por esse papel, e nada parece tão justo e merecido. Ele é incrível como o aventureiro bebum que desce os rios africanos na Primeira Guerra Mundial e, numa dessas, colhe Hepburn como a puritana irmã de um pastor inglês que sobreviveu a um ataque dos alemães. O convívio de duas figuras tão antagônicas no barco é de tirar o chapéu - a gente se esbalda com o filme, porque é evidente que Hepburn e Bogart nunca se divertiram tanto e nunca um caso de amor implausível pareceu tão delicioso.

Quando se vê um filme desses, e quando se compara com o que passa por comédia romântica hoje em dia, dá uma vontade irresistível de repetir o que Peter Bogdanovitch disse: "Os bons filmes já foram todos feitos". Realmente, submetidos a Adam Sandlers e Lindsay Lohans, estamos numa época infeliz...

SADO-MASOQUISMO DE LUXO

Outro equívoco comum nas bancas é tomar por "clássicos" filmes de um passado mais recente (por exemplo, os anos 70) que, em sua época, foram recebidos com boa dose de rejeição, e por bons motivos. É o caso de "O porteiro da noite", filme de 1974 realizado pela italiana Liliana Cavani que teve certo sucesso de "escândalo" naquela década e parecia bastante ousado, mostrando o caso de amor sado-masoquista entre uma judia e seu torturador nazista, que ela reencontra anos depois quando, casada, vai parar num hotel podre de chique de Viena.

Mas o filme todo é mais podre que chique, embora embale com muita "estética de filme europeu de arte" o peixe estragado que vende. É como um "Nove semanas e meia de amor", a mesma coisa afetada e vazia, o amor de dois "peixes mortos" pervertidos cuja humanidade nos interessa tanto quanto a de um abajur.
Dirk Bogarde é o porteiro e, bom ator em alguns filmes, nesses apresenta o seu pior defeito: aquele arquear de sobrancelhas e aquele biquinho de supremo desprezo pela humanidade que só parece fruto de um egoísmo esnobe. Ele contracena com Charlotte Rampling que, jovem e linda, é boa de olhar, mas é só. O filme é suntuoso pela fotografia e por ter Mozart na trilha sonora ("A flauta mágica" é a ópera em reapresentação, quando os dois se reencontram). Mas é curiosamente de uma complacência terrível com o nazismo e seus fetiches, parecendo um álbum pornográfico daqueles que se popularizaram entre os gays, principalmente, nos anos 70 e 80, pelo sado-masoquismo dos uniformes e aparatos nazistas dos SS. Portanto, o filme parece criticar alguma coisa, mas é ele próprio aquilo que ele mais critica.

A COBRA CORAL DE TIERNEY

A prova de que a volta dos clássicos verdadeiros em DVD é excelente são dois DVDs primorosos de Gene Tierney que se pode encontrar no mercado. No primeiro, nem é preciso dizer, ela é "Laura", personagem-título no que é seu filme mais famoso. No segundo, ela é a psicótica Ellen em "Amar foi minha ruína", melodrama de suspense de John M. Stahl que resistiu muito bem ao tempo.

"Amar foi minha ruína", de 1945 parece dramalhão e é mesmo, mas é um dramalhão contraditório e matizado e traz a primeira encarnação de um caso letal de femme fatale psicopata, no cinema. E, como essa mulher é Tierney, com sua beleza para lá de qualquer adjetivo, o filme tem um carisma incrível - apresenta-nos uma cobra coral com todas as suas cores vivas mortais. Amar Ellen é inevitável, e é o que acontece com o personagem do escritor vivido por Cornell Wilde, canastrão, mas adequado como peixe fisgado pela doidona sans merci. O filme é até atualíssimo, porque os crimes de Ellen são de uma frieza acentuada que não parecia comum nos cinema dos anos 40. Nos extras de "Laura", o espectador conhecerá algo mais sobre Gene Tierney num documentário que só por si justifica a aquisição dos dois discos.

Chico Lopes é autor de "Nó de sombras" (IMS, SP, 2000), e de "Dobras da noite" (IMS, SP, 2004), contos prefaciados o primeiro por Ignácio de L.Brandão e o segundo por Nelson de Oliveira. Tradutor, publicou também nova tradução do clássico "A volta do parafuso", de Henry James (Landmark, SP, 2004). Tem vários livros inéditos de ficção, poesia e ensaio.

Mais sobre Chico Lopes, clique aqui. Mais CRÔNICAS ou ENSAIOS, clique aqui. Mais RESENHAS, clique aqui.

Email: franlopes54@terra.com.br

Marcadores: ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/18/2009 10:29:00 PM | | | Voltar

·······

2 de novembro de 2009

Consciência de forma e de classe num romance visceralmente paulista, por Chico Lopes

Uma noção que parece arraigada nas fileiras da crítica literária, hoje em dia, causa a impressão contínua de que há duas correntes editoriais em atividade: uma em que os escritores cuidariam de enredos, personagens e histórias bem contadas e outra em que a preocupação seria acima de tudo com a linguagem, a invenção e a fragmentação narrativa sem preocupação com linearidade. Dentro deste raciocínio, a primeira daria em livros populares, candidatos a best-sellers superficiais e descartáveis ou então irremediavelmente anacrônicos com seu realismo inteligível, e a segunda desembocaria em livros lidos só pelo autor e seus no máximo cinco ou seis amigos de algum boteco em moda, com volumes destinados a formar pilhas fracassadas em garagens particulares desses escritores que, decididamente, jamais poderiam aspirar a ser conhecidos. Porque a qualidade que suporiam ter seria violentamente desmentida por resultados em livros de peito estufado, mas estruturalmente pífios, ou talvez bons, mas inatamente impopulares.

A divisão tem suas verdades, mas em certa medida é estanque - há muita gente procurando contar boas histórias sem abrir mão das liberdades e conquistas formais obtidas pela modernidade literária e há muitos livros ditos experimentais, ousados ou "transgressivos" que são simples e irremediavelmente chatos, paradoxalmente envelhecidos em sua diluição das vanguardas, destinados a "morrer na praia" menos por injustiça do mercado editorial que pela sua presunção e seu descuido metido a vanguardeiro - a julgar por eles e pelas declarações de seus autores, todos uns gênios injustiçados e ressentidos, o Mercado (assim, com maiúscula) é, decididamente, um vilão hediondo.

Por isso a situação no mundo literário parece tão controversa e tensa - há grupelhos e egos demais, patotas que exigem adesão ou condenam o resistente à morte e à invisibilidade de tal modo que escritores mais sérios e cuidadosos, com exigências mais profissionais, são vistos como vendidos ao tal difuso Mercado ou violentamente condenados por amadores displicentes que não amam senão a literatura que eles próprios fazem e acham de uma importância descomunal renegar todas as outras.

Tudo isso tem sido um terreno propício demais à clássica e óbvia "inversão dos valores" e prolonga o clima tenso que sempre se verificou na chamada "vida literária" brasileira, com gerações e escolas, pedantes e intuitivos se digladiando, rangendo dentes, bradando calúnias e clamando vinganças e cometendo notórias e cegas injustiças. Raramente conseguindo chegar a um patamar estável de profissionalismo (que dispensaria muitas polêmicas ardentes e fúteis), o escritor brasileiro simplesmente interessado em escrever bem parece totalmente perdido em meio a tantos tiroteios de gente que se improvisa literata prematuramente demais e quer justificar sua mediocridade e displicência na razão ou na histeria. Sair chamuscado é praticamente infalível.

Daí, surpreendo-me quando encontro a primeira obra de ficção de uma autora que, decididamente, parece não se importar muito com esses antagonismos e futilidades endêmicos. Ela é Ivone C. Benedetti e o livro se chama "Immaculada" (edição da Martins Fontes, 379 páginas).

O livro pode dar a impressão superficial de se filiar a um tipo mais tradicional de leitura com sua capa e aspecto sóbrio. Mas eu o peguei e não consegui largá-lo. Porque, acima de tudo, é um romance bem contado e tem esse mérito nada desprezível de ter uma história com começo, meio e fim que de modo algum é desinteressante ou "careta". É apenas uma excelente história. E seus personagens estão longe de qualquer maniqueísmo - mesmo seu quase monstruoso personagem principal, que ocupa mais espaço que a própria personagem-título, é um ser humano de quem de vez em quando sentimos compaixão. A escritura de Benedetti é sutil e não tipifica - sempre que se pensa que um dado personagem cairá no clichê, ele se prova vivo, contraditório e matizado e até mais compreensível, à luz do contexto histórico, do que se imaginaria. Por outro lado, em livros ditos inventivos e experimentais, sem enredo ou direção que não os caprichos de linguagem do "inventor", não raro encontramos personagens mais estereotipados que nos livros mais tradicionalmente armados como este. Os que em geral acusam os livros com enredo e personagens definidos de retrógrados não saberiam construir coisas assim, não têm o cuidado e a humildade da verdadeira arte literária.

* * *

Ivone C. Benedetti, que primeiro dedicou-se ao magistério e depois às traduções (de italiano e francês), constrói seu enredo com paciência e congruência. E, além de tudo, escreveu um romance visceralmente paulista, cuja história, cobrindo os fins dos anos 20, a revolução de 32, a tomada de poder por Getúlio (que descontenta facções poderosas da elite paulistana) e avançando sutilmente no tempo e no espaço, traz um panorama que mexe com quem, de uma geração mais recuada, informada e politizada, nasceu no interior ou na capital do estado. Além de tudo, há um vaivém sutil dos personagens entre campo e cidade, mostrando aquilo de que a gente vem suspeitando intuitivamente há muito tempo - que o coronel do campo, prepotente, autoritário, machista e racista ao cubo, continua vivo na alma de grande parte no empresário moderno que forma, junto com outros "jagunços envernizados", grupos influentes de pressão e lobbies junto aos políticos, das grandes cidades. Entre a injustiça e o atavismo, o passo é curto.

Francisco, advogado e fazendeiro, é bem isso. Sem nenhuma comparação com o "São Bernardo", de Graciliano Ramos, ele é o homem que "fez coisas ruins que deram lucro e coisas boas que deram prejuízo", o Paulo Honório dono de terras e triturador de almas prepotente e egoísta que não consegue enxergar um palmo além de seus interesses. Ademais, tem sua Madalena na mulher, Lucinha, o que resulta em episódios dramáticos e absorventes na primeira parte.

Só na segunda parte é que veremos surgir Immaculada e entenderemos a razão de seu nome ter valido para título do romance. Na primeira parte, a ambientação em fazendas paulistas dos anos 20 e 30 é muito correta, do ponto de vista sociológico e reconstituição histórica, Benedetti tem perícia nas descrições e a criação de uma atmosfera fica garantida por todos os cuidados bem visíveis de uma autora sem pressa. Mas, saltando para a cidade grande, ela não é menos habilidosa.

Dois personagens frutos do machismo, o velho Evaristo e seu filho também Evaristo, ilustram muito bem o que mencionei quanto à ausência de maniqueísmo e traços tipificados em Benedetti. São dois mulherengos, o filho de maneira mais debochada e óbvia que o pai - são os machões clássicos para quem as mulheres são uma distração e, caso independentes e infiéis, um senhor problema. Com eles, vamos vagar por uma região entre Botucatu e Ribeirão Preto, mergulhar no atavismo dos fazendeiros com suas "amigadas", sua arrogância de donos de consciências políticas e comerciantes de pequenas cidades num Brasil que muito lentamente deslocava seu eixo vital do campo para a cidade (e que até hoje não perdeu seu atavismo de atraso mental roceiro, sob muitos aspectos; o fantasma do Arcaico entre nós é muito vigoroso e isso torna o livro de Benedetti atual). O Evaristo filho se perde por puro sensualismo, lascívia, bebedeira, pusilanimidade e vadiagem irresponsável de filho de rico, mas não deixamos de compreendê-lo por isso - suas fraquezas são muito humanas. O Evaristo pai, até certa altura um vilão aparente, é mais simpático e vivo (o que resulta em sua atração sexual) que o personagem principal, seu filho Francisco, e assim Benedetti, habilidosamente, evita que o leitor se plante num terreno previsível. Tudo isso faz com que fiquemos presos à movimentação da narrativa, interessados o tempo todo.

Na segunda parte, veremos um movimento social e histórico definido, quando colonos italianos expulsos em decorrência de truculências e arbitrariedades dos fazendeiros do interior se fixam na capital e vão engrossar as fileiras da esquerda sindical e da oposição ao fascismo (se bem que não faltem os politicamente omissos ou direitistas) num mundo paulistano italianizado perfeitamente conhecido por todos nós que conhecemos primeiro, no interior, os emigrantes fixados nos cafezais paulistas, e depois, em São Paulo, os que provieram tanto das roças interioranas quanto da própria Itália com ambições mais citadinas pelo perfil industrial da metrópole, por assim dizer.

Não é surpreendente, no segundo caso, encontrar-se aí tipos que evocarão até o Matarazzo tão economicamente importante para a capital e variações. Francisco, numa ótima cena, se reencontra com um italiano conhecido de seu pai no campo (venerador de Mussolini) instalado como fornecedor de frios e iguarias e, não resistindo aos muitos queijos que ele lhe oferece numa longa conversa à noite, padecerá de uma intoxicação alimentar violenta que quase o matará de madrugada. Punido pela gula? Não apenas: a sutileza da escrita de Benedetti mostra que, afeito a tudo que é estrangeiro por achar mais refinado, assim como acha que só na capital há pessoas cultas o bastante para conversar com ele, o advogado, intoxicado por tanto produto importado, revela aí seu colonialismo grosseiro e primário. Na verdade, é um deslumbrado, um ingênuo diante daquele mundo "sofisticado", como é ingênua e pretensiosa culturalmente grande parte da classe dominante que ele frequenta.

Em lances de interesse político e econômico, a ainda garota Immaculada entrará como objeto de venda descarado, e será oferecida a Francisco, a esta altura viúvo da infortunada Lucinha, como esposa. Na verdade, ele está mais interessado é na sua mãe e quem lhe aponta a menina, ironicamente, é seu pai, com quem, aliás, num outro lance de decisiva ironia, a menina simpatiza muito mais. De equívoco em equívoco, de dominação em dominação, de homens realmente desejados a homens social e politicamente impostos a mulheres submissas, este é um livro em que o feminismo, militante ou não, encontrará muitos motivos para teses.

As mulheres estão escravizadas aos seus papéis domésticos decorativos e não podem dar um passo além daí e às vezes parecem autênticos zumbis teleguiados por patriarcas arbitrários - os adultérios e falhas que ficariam muito evidentes são encobertos hipocritamente por reclusões forçadas em conventos ou terminam em suicídios. Mulher como pessoa não existe, para esses homens - qualquer esboço de emancipação dá em tragédia (para elas) - classicamente, claro, eles têm as suas concubinas, vivem sua falocracia à vontade e uma delas, aliás, muito amada pelo Evaristo pai (e parece sinceramente amada), se prova de uma astúcia muito maior do que a das esposas oficiais. Uma outra, de classe baixa, italiana, Annunziata, que parece uma vilã tenebrosa, mostra uma tão completa consciência de classe diante dos desmandos da patroa, mãe de Immaculada, que sua manobra vitimizando Immaculada com ajuda de seu irmão, Paolo, sedutor italiano, não chega nem a parecer tão terrível. É, aliás, uma das grandes qualidades do romance a sua consciência de classe que, não forçando na ideologia, é dramaticamente utilizada e artisticamente muito coesa. Essa aguda consciência de classe faz com que o sentimentalismo untuoso típico de telenovela ou folhetim barato vá para o ralo, graças aos céus. Todo mundo parece consistente e lucidamente plantado em seus papéis sociais e econômicos e o mundo se divide entre empregados e patrões em posições hostis que correspondem à realidade.

Immaculada, na verdade, terá um papel aparentemente pequeno em toda a história, se comparado ao do advogado Francisco, seu marido. Aparentando uma passividade mórbida, ela será objeto de troca e não poderá amar quem verdadeiramente a atraiu como homem, Paolo, o irmão de Annunziata, senão de modo inocente e desajeitado, sendo premiada com uma revelação desalentadora mais à frente. Mas tampouco o "cafajeste" bonitão que Paolo parece ser é um personagem estereotipado e detestável. Ele tem uma centelha de consciência que malogra os planos da irmã. Immaculada, a despeito de sua rebeldia, é encaminhada para o casamento como para um matadouro e é tida como "sonsa" por Francisco, que a quer como ornamento social e instrumento de ascensão política e econômica, mas é assim, "sonsamente", que espalhará a sua subversão e seu veneno em atitudes que terão um peso decisivo na narrativa. O conceito implícito em seu nome, de pureza feminina ideal, é uma carga injusta e humanamente absurda que toda mulher, sob a tirania do patriarcalismo hipócrita, cristão-utilitário e mórbido do Brasil, bem conhece. Deixo isso, claro, para conhecimento dos leitores.

Este é um livro que recomendo a todos. Ivone está iniciando sua carreira de ficcionista muito bem, virá com um livro de contos provavelmente no próximo ano e elabora um segundo romance, sempre com as preocupações sócio-políticas que a orientam. Um romance digno de ser esperado por todos que conhecerem "Immaculada".

Chico Lopes é autor de "Nó de sombras" (IMS, SP, 2000), e de "Dobras da noite" (IMS, SP, 2004), contos prefaciados o primeiro por Ignácio de L.Brandão e o segundo por Nelson de Oliveira. Tradutor, publicou também nova tradução do clássico "A volta do parafuso", de Henry James (Landmark, SP, 2004). Tem vários livros inéditos de ficção, poesia e ensaio.

Mais sobre Chico Lopes, clique aqui. Mais CRÔNICAS ou ENSAIOS, clique aqui. Mais RESENHAS, clique aqui.

Email: franlopes54@terra.com.br

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/02/2009 09:11:00 PM | | | Voltar

·······

31 de dezembro de 2008

Grande elenco não salva filme da mediocridade e comédia romântica sobre tema polêmico, por Chico Lopes

Em arte, como na vida, boas intenções não bastam e o sentimentalismo edificante pode edificar, dependendo da mão do artista, nada além de rasas choupanas que tentam canhestramente passar por belas casas. Basta que se veja "No entardecer" ("Evening"), de Lajos Koltai, para se chegar a esta conclusão. O filme é uma co-produção EUA/Alemanha de 2007 e tem um elenco tão impressionante que, ao retirá-lo de uma locadora no escuro, a gente o faz por topar com Meryl Streep, Vanessa Redgrave, Glenn Close, Toni Collette, Natasha Richardson, só para ficar em nomes bem conhecidos. Em escala inferior (no quesito talento) há também Claire Danes, que está no papel principal, além da estréia da filha de Meryl, Mamie Gummer, num papel de relevo.

Tudo isso torna evidente que o filme, baseado num best-seller de Susan Minotti que pouca gente parece conhecer, é um daqueles em que o elenco feminino é que dá as cartas. Porque a parte masculina, confiada a dois atores desconhecidos como Patrick Wilson e Hugh Dancy, fica mesmo de escanteio. Não pela desimportância dos personagens, mas pela fraqueza da dupla.

LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 12/31/2008 01:45:00 PM | | | Voltar

·······

26 de novembro de 2008

ANNE HATHAWAY: o enigma de Jane Austen em "AMOR E INOCÊNCIA", por Chico Lopes.

Se você sente que precisa fugir de tantos filmes violentos, repletos de perseguições, tiroteios e mortes horríveis, todos dentro dessa mania de sadismo impenitente que domina cinemas e locadoras e que faz com que o ser humano cada vez mais pareça um monstro cujo apetite de destruição vai para muito além do delírio, é bom saber que esses mesmos cinemas e locadoras ainda oferecem alternativas como filmes históricos e românticos ocasionalmente bem feitos.
Um dos últimos é "Amor e inocência" ("Becoming Jane"), estrelado por Anne Hathaway. Ela começou a fazer sucesso com "Diários da princesa", comédia romântica bem frívola, e ninguém diria que acabaria crescendo a ponto de contracenar muito bem, com Meryl Streep, em "O Diabo veste Prada", ganhando destaque (se bem que equivocado) numa comédia blockbuster como "Agente 86" e virando uma atriz de respeito. Na verdade, cresceu tanto que é possível que seja indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2009 pelo sucesso de crítica que está fazendo no filme "Rachel´s getting married", último de Jonathan Demme: um monte de gente importante achou-a o máximo. Em "Amor e inocência", faz Jane Austen aos 20 anos com muita dignidade e charme.

==>>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/26/2008 01:46:00 PM | | | Voltar

·······

8 de novembro de 2008

Parábola de Frank Darabont é um filme de terror para ser lembrado, por Chico Lopes.

Entre os filmes que vi neste ano, não me lembro de nenhum que tenha me prendido tanto a atenção e me deixado tão incomodado quanto "O nevoeiro" ("The mist"), produção norte-americana de 2007 dirigida por Frank Darabont.
A história original é de Stephen King, notório em fornecer ao cinema argumentos que degeneraram, no mais das vezes, em filmes meramente horríveis ou por vezes terrivelmente ridículos, tão ruins que é melhor nem citá-los. King é contraditório - produz material literário em abundância e, na sua política de fertilidade produtiva, perpetrou muito lixo e algumas coisas boas. Diretores como De Palma ("Carrie, a estranha"), Rob Reiner ("Louca obsessão"), Stanley Kubrick ("O iluminado") fizeram alguma coisa digna com suas histórias, mas mesmo um filme tão cultuado quanto "O iluminado" parece uma enorme bobagem salva pelo enfoque monumental gelado, a sugestividade e as perícias de direção de Kubrick. Virou um filme de arte fazendo o lixo reluzir, mas, para muita gente, o lixo continuou lá, fazendo a mistura cheirar mal. Frank Darabont foi feliz adaptando "Um sonho de liberdade" e "À espera de um milagre", tornando-se uma espécie de marca de qualidade a partir de King. Por alguma razão, achou a maneira certa de adaptar as histórias abusivamente paranormais e apelativas do escritor, extraindo delas personagens ricos e lições de humanidade. Em "O nevoeiro", nada de braçadas. ==>>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/08/2008 07:20:00 PM | | | Voltar

·······

3 de novembro de 2008

Carlos Felipe Moisés: noturno com jazz, blues, tango e "morte árabe", por Chico Lopes

Os que ainda não descobriram que Carlos Felipe Moisés é um dos maiores poetas brasileiros vivos, dos que estão aí há algumas décadas escrevendo poesia com um sucesso de crítica que sabem que infelizmente jamais terá a propagação merecida, poderão fazê-lo agora, no próximo dia 24, quando ele lançará seu novo livro de poesia, "Noite nula", no Bar Balcão, em São Paulo.
É um livro de poesia incomum, a começar pela capa. Conversando com Moisés, ele me disse que a achara pouco convencional. De fato, lembra a capa de um almanaque, com figuras célebres (as mais reconhecíveis, de imediato, são as de Billie Holiday, Theda Bara e Carlos Gardel) e quebra o padrão dos livros do gênero, que em geral trazem imagens vagas, alusivas ou abstratas, como se a poesia fosse sempre alguma coisa um tanto incorpórea, como se não se relacionasse a carne e sangue e osso e nervos.
Não é o caso do projeto de Moisés, ainda que sua escrita remeta aos terrenos mais para abstratos (palavra, afinal, filistéia) do gênero, e nem poderia deixar de remeter. O livro é cheio de um calor humano incomum. É um projeto de afeto, desespero e ironia. E música. Em alguns momentos, como na saudação a Charlie Parker, é impossível que os admiradores da boa poesia e do grande músico não se sintam comovidos até as lágrimas, se prestarem atenção à forte mescla de ritmo e comoção que move o poema. Começa pela lembrança do "Charles Anjo 45" de Jorge Benjor e vai para o infinito, com todas as asas a que o poema (e o leitor) tem direito.

LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/03/2008 10:02:00 PM | | | Voltar

·······

28 de outubro de 2008

PARA GOLDBERG, UTOPIA FOI SUBSTITUÍDA PELA EGOLATRIA, por Chico Lopes

Conheci Jacob Pinheiro Goldberg em alguma das longas tardes áridas do interior paulista, quando, sem saber o que fazer da vida, eu lia muito e, entre outras coisas, via televisão. Velha televisão, dos tempos em que a inteligência ainda era respeitada na telinha e ninguém precisava se sentir consternado pelo ato de sentar-se diante do tenebroso eletrodoméstico. Pela tarde, na TV-Bandeirantes, havia um programa, "Xênia e você", com uma linguagem audaciosa e entrevistados que diziam coisas anti-convencionais. Goldberg era um deles, prestei bastante atenção ao que ele dizia, e nunca me esqueci daquele rosto.

Mas quis a vida que eu conhecesse só agora o que ele escreve, através de um de seus livros, "Psicologia em curta-metragem", que me interessou pela óbvia relação com um assunto que amo tanto.

Goldberg não escreve para todo mundo. Sua escrita, mais que convencer, procura incomodar, provocar. E, para isso, ele mistura filmes e idéias psicanalíticas e desvenda as coisas de uma maneira pouco ortodoxa. É uma proposta diferente, em matéria de livros de psicólogos sobre cinema. Li alguns do gênero, e me cansei daquelas análises fáceis do complexo de Édipo do personagem X, da ninfomania da mulher Y ou da neurose de Fulano e Beltrano. A psicologia de Goldberg quer outra coisa, quer arrebentar camisas-de-força sociais e provocar atitudes. Ele também procura entender a pavorosa experiência do dia a dia de violência neste país, onde o sado-masoquismo popular vem atingindo picos dementes, e eu converso com ele sobre filmes e violência, recebendo respostas curtas, sintéticas e implacáveis, como o leitor pode conferir clicando aqui.

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 10/28/2008 12:25:00 AM | | | Voltar

·······

4 de outubro de 2008

FIASCOS ROMÂNTICOS E CLÁSSICO DE CARMEN MIRANDA DIRIGIDO POR BUSBY BERKELEY, por Chico Lopes

UM AMOR PARA TODA A VIDA - O chato de quem vê muito cinema é a constante traição às expectativas. A gente sabe que a realidade cinematográfica anda medíocre e esgotada (parece que todos os gêneros vão se esvaziando dia após dia), mas sempre tem a louca esperança de encontrar aquele filme que desminta nossos tristes prognósticos infalíveis na maior parte dos casos. Queremos ter surpresas, queremos nos emocionar, irritados pela realidade lógica, mas desmancha-prazeres.
"Um amor para toda a vida", que tem à frente do elenco os veteranos Christopher Plummer e Shirley MacLaine, parecia merecedor de uma locação esperançosa.
Qual o quê! Realizado em 2007 pelo inglês Richard Attenborough, que já fez filmes de muito sucesso como "Ghandi" e "Um grito de liberdade", "Um amor para toda a vida" ("Closing the ring") é um filme particularmente frouxo, embora tenha um bom elenco e uma história de amor promissora, que começa na Irlanda, na Segunda Guerra Mundial, e é ligada aos dias atuais por um anel que certo piloto, morto num acidente, deixou para a sua namorada americana, muito desejada pelos seus amigos. Não vou me lembrar do nome do ator que ama e é amado por sua namorada americana (mais tarde, ela será o personagem de Shirley MacLaine), mas ele é de uma ruindade espantosa, não consegue passar a menor chama. =>>>>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 10/04/2008 01:45:00 PM | | | Voltar

·······

18 de setembro de 2008

O Velho Hitch, por Manoel Hygino dos Santos

Chico Lopes entende de cinema. Não sem razão está no Instituto Moreira Salles, embora também se dedique, com merecido sucesso, à literatura. Seus livros de contos venderam o que podem, no Brasil que lê pouco e em que os costumeiros leitores, não têm o necessário embasamento para conveniente apreciação.
O mesmo acontece com a sétima arte: o que, ao crítico, tanta vez parece uma obra-prima, ao espectador comum não passa de uma grande porcaria. Tampouco o que agradava à platéia adolescente de décadas atrás, satisfaria os jovens de hoje. Os tempos mudam, e, com eles, os gostos.
Comentando Hitchcok, há poucos dias, afirmava Chico Lopes que os espectadores de novas gerações, com o privilégio de poder descobrir a obra toda do diretor inglês em caixas de DVD´s, que são um dos maiores petiscos do consumismo cinéfilo atual, vão certamente se encantar com as obras-primas e nelas descobrir coisas que nem adivinhariam.
Quanto a mim, digo sem medo de causar surpresa: gostei de todos os filmes de Hitch a que tive oportunidade de assistir. É um dos gênios do cinema do século passado, quer dirigisse na Europa, quer nos Estados Unidos. Enfim, como não sou crítico, mas mero diletante, escapo à censura.

LEIA MAIS

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 9/18/2008 11:45:00 PM | | | Voltar

·······

17 de setembro de 2008

Desastre imperdoável, o grande Daniel Auteuil e um faroeste sem rumo, por Chico Lopes

ANNETE BENING NÃO SALVA PRODUÇÃO EQUIVOCADA - Há filmes diante dos quais a gente só consegue mesmo lamentar a locação. E alguém deveria atentar melhor para a questão da propaganda enganosa, nesses casos, porque, sem maiores referências sobre determinadas produções, o consumidor as procura na contracapa dos DVDs, sendo levado a uma locação por chamarizes que não se cumprem; o truque habitual é reproduzir a citação de algum crítico de alguma publicação americana colocada de tal modo que pareça importante; o destaque funciona e muita gente se deixa convencer é por aí. No caso específico de "Correndo com tesouras", a citação diz tratar-se uma "comédia brilhante".
Bem, não é uma comédia. Se queria ser, falhou clamorosamente. Como humor negro, não funciona, e, como drama, menos ainda. O filme simplesmente não é nada, não achou seu tom e, na verdade, só depois de vê-lo, como incauto bem-intencionado, é que fui saber que a crítica americana em bloco o massacrara. Com toda razão. Os críticos às vezes exageram para bem, mas, quando caem matando num filme com unanimidade, o único conselho é evitá-lo, porque não há salvação.
"Correndo com tesouras" é a autobiografia de Augusten Burroughs, narrada em forma de diário (de modo canhestro, porque, de vez em quando, o filme se perde tanto que a gente fica esperando que o diário com a voz em off volte para pôr um pouco de ordem na mixórdia). Ele é um garoto criado por uma mãe metida a poeta que, frustrada em sua ambição e no casamento com um alcoólatra que tem toda razão em considerá-la uma chata monumental (talvez beba é por ter se casado com ela), cria o filho como seu maior fã e sua única platéia. O início, mostrando a relação dos dois com habilidade, é promissor, e de imediato a gente sente que o garoto vai virar homossexual, inevitavelmente, com uma mãe ególatra e possessiva daquele jeito. >>>>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 9/17/2008 11:41:00 PM | | | Voltar

·······

4 de setembro de 2008

DOIS HITCHCOCKS MENORES: MAESTRIA, A DESPEITO DE TUDO, por Chico Lopes.

Os espectadores de novas gerações, que têm hoje em dia o privilégio de poder descobrir a obra toda de Alfred Hitchcock em caixas de DVDs que são um dos maiores petiscos do consumismo cinéfilo atual, vão na certa se encantar com as obras-primas e descobrir nelas coisas que nem imaginavam, mas, se tiverem cuidado e não forem desprezando os filmes de Hitchcock tidos por menores, descobrirão prazeres menos óbvios.
Porque há uma lista de filmes de Hitchcock para os quais alguns fazem cara feia e outros simplesmente evitam ou deixam para ver quando não tiverem coisa melhor a fazer: "Topázio", "Cortina rasgada", "Disque M para matar", "Pavor nos bastidores", "A tortura do silêncio", "O terceiro tiro", "Trama macabra", "Um barco e nove destinos", "Quando fala o coração", "Agonia de amor", "Suspeita" etc.
Não nego que alguns desses filmes sejam mal-sucedidos (o caso mais óbvio para mim é o de "Topázio", uma produção quase injustificável). Mas, conhecendo alguns desses títulos primeiro pela má fama que os precede, surpreendi-me quando decidi vê-los a despeito dela. "Pavor nos bastidores", às vezes colocado na triste categoria do pior filme norte-americano de Hitch, não é de modo algum um filme desprezível. E haveria o que dizer de cada um dos outros, mas decidi escolher apenas dois porque os revi recentemente e me deleitei com redescobertas e confirmações. ==>>> LEIA TEXTO COMPLETO

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 9/04/2008 08:55:00 PM | | | Voltar

·······

27 de agosto de 2008

ROSÂNGELA VIEIRA ROCHA estréia na literatura infantil com A FESTA DE TATI, por Chico Lopes.

- O lançamento será no dia 4 de setembro, às 17h, na 27ª Feira do Livro de Brasília, no Térreo do Pátio Brasil, Estande da Arco Iris Distribuidora -

A escritora Rosângela Vieira Rocha, nascida em Inhapim, MG, e residente em Brasília, onde é professora da Faculdade de Comunicação da UnB (ela também escreve crônicas no Portal da UnB), está dando um novo passo em sua carreira de escritora, entrando agora na seara dos livros infantis.
Rosângela já recebeu o Prêmio Nacional de Literatura Editora UFMG de 1988 de romance para a novela "Véspera de lua" e teve sua novela "Rio das Pedras" como vencedora da Bolsa Brasília de Produção Literária 2001. Participou também da "Antologia do Conto Brasiliense" (2004), organizada por Ronaldo Cagiano, e "Mais trinta mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira" (2005), organizada por Luiz Ruffato. Também teve lançado um livro de contos, "Pupilas ovais", pela LGE Editora, de Brasília, em 2005.
O seu novo passo registra uma preocupação com o universo infantil, focalizando um personagem marcado pela diferença, e ela fala disso e muito mais em entrevista concedida com exclusividade para o Verdes Trigos.

CLIQUE NA IMAGEM DA CAPA para imprimir o CONVITE DE LANÇAMENTO.

LEIA A ENTREVISTA DE ROSÂNGELA VIEIRA ROCHA

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 8/27/2008 11:43:00 PM | | | Voltar

·······

25 de agosto de 2008

Sebastião Nunes: a sátira para poucos de um escritor incomum, por Chico Lopes.

Conheci Sebastião Nunes lendo um artigo publicado por ele no site "Cronópios" em que brincava com a traição célebre da Capitu de Machado de Assis, numa gozação saborosa. Acho fundamental que os artistas não sejam criaturas solenes, auto-adoradoras e cheias de si como monumentos prematuros de uma glória que a gente sabe totalmente incerta num país como este, e gosto particularmente dos escritores para quem nada é sagrado e a brincadeira abre um caminho saudável de desmistificação (no caso do Brasil, a gente já está cansado de saber que, diante de tanta perversidade e absurdo, só mesmo rindo, ainda que o punhal continue a doer nas costas e o riso talvez seja um esgar).

Satisfeito com o artigo, li outros, e fui procurar saber sobre o Tião na Internet. Encontrei dados sobre uma vida de iconoclasta que me pareceu incomum e me arrisquei a escrever para o homem. Muito acolhedor e acessível, ele foi respondendo à vontade e iniciamos uma conversa, que deu em troca de livros. Os seus são particularmente divertidos e criativos e acho uma pena que pouca gente os conheça. Sua "História do Brasil", pândega, seu "Decálogo da classe média", sarro enorme nessa coisa que ele considera "inexplicável", seu "Elogio da punheta" e "Somos todos assassinos" me pareceram edições daquelas que a gente curte intensamente, como formas criativas de desabafo e bizarrice denunciadora.

Sebastião é um homem ocupado, tem uma editora pequena e cuida da feitura e da distribuição dos livros sozinho, tendo também muito a dizer sobre o que é ser escritor neste país, sobre editores e tudo mais.

Fiz uma entrevista com ele, exclusiva para o leitor de "Verdes Trigos", que não perderá em conhecer esse mineiro provocador.

LEIA A ENTREVISTA

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 8/25/2008 09:47:00 PM | | | Voltar

·······

20 de agosto de 2008

A VOLTA DE PAUL VERHOEVEN, ADAPTAÇÃO FALHA E O ESPLENDOR CÔMICO DE BILLY WILDER, por Chico Lopes.

BOA HISTÓRIA NÃO DISPENSA APELAÇÕES - Paul Verhoeven, diretor holandês famoso por filmes rodados nos EUA como Instinto selvagem, O vingador do futuro e Robocop, está de volta às locadoras com o sucesso A espiã (The black book) e, para muitos críticos, o filme é a sua reabilitação, depois de sucessivos fracassos norte-americanos como O homem sem sombra e Tropas estelares, que o fizeram retornar à sua terra natal, de onde havia saído já com fama.
Diretor talentoso ele sempre foi, de fato, mas depende muito do gosto (e do grau de civilidade) de cada espectador o que achar de seus filmes, já que abusa da violência e do sexo e sempre teve detratores e admiradores na mesma proporção - suas tintas grotescas às vezes beiram a genialidade, às vezes degeneram em puro abuso. E com A espiã, co-produção Holanda/Alemanha de 2006, a bem da verdade, não se pode dizer que ele tenha mudado muito.
É a história da judia Rachel Stein, cantora de cabaré que, na Holanda, se refugia do nazismo na casa de uma família cristã que a trata mal e depois tenta uma fuga paga com a própria família e outros judeus. Mas, não era nada mais que uma cilada - os nazistas matam e pilham todos, só ela conseguindo mergulhar num rio e escapar. Entra para a Resistência e, devido à beleza, é feita espiã, a pedido de um chefe, Hans, com quem tem um namoro. Sua infiltração entre as hostes alemãs se dá devido à atração sexual que exerce sobre um comandante, mas não terá um só momento de alívio porque, enquanto ela atua por um lado, por outro a Resistência possui algum agente duplo sabotando os planos. O filme evoluirá numa alternância entre thriller e melodrama, com todas as reviravoltas, o suspense e as surpresas (de identidade) do gênero. Ninguém pode reclamar: é eficiente, tem boa fotografia, bons atores e funciona muito bem dentro daquilo a que se propõe.
O mau gosto de Verhoeven, no entanto, dá as caras no intolerável banho de fezes da heroína, chupado diretamente do banho de sangue de porco sofrido por Carrie em "Carrie - a Estranha" de Brian de Palma. E há uma cena de que poderíamos ter sido poupados - a do chefe nazista Franken desfilando em nu frontal, repulsivo, desinibido e mandão, entre a espiã e a amante dele, uma holandesa oportunista. Também a heroína pinta seus pêlos púbicos de louro, numa cena muito comentada.
Essas coisas não parecem senão ingredientes apelativos com que Verhoeven esperava, na certa, tornar mais polêmico e escandaloso o seu filme que, de resto, segue o esquema manjado de história da Segunda Guerra Mundial feita com competência - experimentado, sabe que o espectador fará a fama da produção é a partir dessas visões lastimáveis. Mas a atriz Carice van Houten é um achado - muito bonita e talentosa, segura a história toda com garra e dignidade admiráveis. E outro ator digno de nota é Sebastian Koch, alemão, que interpreta o amante nazista de Rachel. Ele também pode ser visto como o dramaturgo vigiado pela Stasi no alemão "A vida dos outros". Koch, tal como Carice, tem um charme que o predestina a uma carreira de maior fôlego internacional, se quiser.

==>>> A VOLTA DE PAUL VERHOEVEN, ADAPTAÇÃO FALHA E O ESPLENDOR CÔMICO DE BILLY WILDER, por Chico Lopes.

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 8/20/2008 09:43:00 AM | | | Voltar

·······

4 de agosto de 2008

A saga de um homem odioso, um monstro simpático e outras visões, por Chico Lopes

NEGROR POR TODA PARTE - Negror no subsolo, negror na alma. O filme "Sangue negro", de Paul Thomas Anderson, grande sucesso de crítica em 2007, com várias indicações ao Oscar 2008, chegou às locadoras e não creio que todo mundo terá prazer em conhecê-lo em DVD. Porque é a saga de um homem odioso e, ao fim, é quase inevitável concluir que um filme que tenha em seu centro um personagem tão difícil de gostar pode ter grandes méritos, mas é, de qualquer modo, sombrio demais para cair no gosto do público.
A saga de Daniel Plainview, magnata do petróleo, é cheia de coisas bem feitas - a fotografia de Jack Fisk, a música de Jonny Greenwood e, acima de tudo, a interpretação verdadeiramente antológica de Daniel Day-Lewis (não havia concorrente para ele como melhor ator do Oscar 2008, realmente).
Plainview é só ambição, tensão, desconfiança, determinação - seu único respiradouro de afeto é o menino que adota, e que um acidente de prospecção de petróleo levará à surdez. Mas, mesmo este, tentando emancipar-se como homem e profissional, parecerá a ele um concorrente - Plainview é daqueles prepotentes que só entendem o mundo em dois pólos: hostilidade ou submissão (lembra o Paulo Honório de "São Bernardo", de Graciliano Ramos, neste aspecto). Ele não quer que o Outro exista e tenha opiniões próprias - tenta suprimir toda e qualquer vida autônoma ao seu redor.
Para entender quem ele é, é só prestar atenção ao rosto de Lewis - o personagem sorri só com a boca, os olhos vão para outros lados e são só esperteza, desconfiança e ódio - e, num raro momento de fraqueza confessional diz: "Odeio todo mundo. Vou ficar rico para me isolar de todos." Solidão mais dura e trágica, impossível.
"Sangue negro" não é a obra-prima que os críticos apregoaram, mas é um belo filme, muito superior a "Onde os fracos não têm vez" e outros do Oscar 2008, mas não superior àquele que, a meu ver, foi o melhor dos filmes entre todos os concorrentes - "Desejo e reparação", do inglês Joe Wright.

LEIA TEXTO COMPLETO

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 8/04/2008 02:46:00 PM | | | Voltar

·······

20 de julho de 2008

Uma comédia para comover e a melancoliade uma cineasta singular, por Chico Lopes.

JACK E MORGAN NUM PACTO PELA ALEGRIA - "Antes de partir", de Rob Reiner, chegou aos cinemas brasileiros precedido por palavras não muito animadoras dos críticos norte-americanos, que ou não gostaram do filme ou acharam-no apenas mediano, carregado nas costas pela dupla de atores que o estrelam no mais alto nível, Morgan Freeman e Jack Nicholson. Mas, fez boa carreira e chegou às locadoras com pinta de que fará sucesso entre os espectadores de DVDs que admiram esses dois veteranos, e também pelo fato de ser um filme sobre a velhice e a morte levado com leveza e perícia. O assunto do filme é, na verdade, amargo ao cubo, e a situação seria insuportável sem dois atores do porte de Freeman e Nicholson.
Dá para rir de uma história em que dois homens doentes de câncer dividem um mesmo quarto de hospital entre vômitos, quimioterapia, crises? Pois os dois atores são tão grandiosos e absorventes, sutis e engraçados que os diálogos deles, mesmo sobre banalidades e absurdos, são o sal de tudo. Um é milionário e branco, outro é negro de classe média, dono de uma oficina mecânica. (Morgan e Jack estão envelhecidos, mas em Jack isso chega a ser chocante, e há uma cena em que ele se defronta com o espelho que é visceral demais e temos vontade de desviar os olhos). ===>>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 7/20/2008 06:34:00 PM | | | Voltar

·······

13 de julho de 2008

Humor deslocado, duas faces de uma atriz e um clássico romântico com Orson Welles, por Chico Lopes.

Continuo com minhas idas (raras) ao cinema e minha disparada preferência pelos DVDs, comentando um sucesso em cartaz e outras coisas que andei pegando pelas locadoras.

SÁTIRA PERDIDA NO TEMPO - A despeito das críticas favoráveis e da publicidade maciça, é bom que o espectador de cinema pense duas vezes antes de ir ver "Agente 86", um dos sucessos da atualidade nos cinemas. Hollywood vem padecendo com falta de boas idéias e novos roteiros e recicla tudo - dessa vez, é o agente satírico de um velho seriado homônimo de televisão dos anos 60, que foi feito pelo falecido Don Adams, uma idéia de Mel Brooks que tinha muito de divertido, mas também podia irritar, pela idiotice assumida. Como hoje em dia o humor no cinema pende, decididamente, para a segunda, e raramente compensa isso com diversão, "Agente 86", de Peter Segal, com Steve Carell no papel que foi de Adams, é uma produção muito barulhenta e apenas mediana. Alguns momentos de riso, ação desenfreada, e Carell acertando aqui, ficando maçante ali. Anne Hathaway até que se esforça como parceira, mas não é engraçada. Terence Stamp é de novo um vilão excêntrico. Isso já cansou muito.

TEXTO COMPLETO

Marcadores: , , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 7/13/2008 09:09:00 PM | | | Voltar

·······

6 de julho de 2008

O mundo horrível a que o cinema nos acostumou, por Chico Lopes

A violência no Cinema tem uma longa história que não poderei rastrear neste simples artigo, no qual quero apenas apontar algumas coisas, registrar algumas impressões que me ficam de ter visto, em dois dias sucessivos, dois filmes muito diferentes, mas basicamente dominados por um tema: a violência. Foram eles "No silêncio da noite", thriller "noir" de Nicholas Ray realizado em 1950, e "O gângster", produção norte-americana de 2007, dirigida por Ridley Scott, que foi um grande sucesso do ano passado e concorreu com trombetas favoráveis da crítica neste 2008.
Começando pelo segundo, começo por dizer que tanto o espectador comum quanto o crítico especializado estão sujeitos a uma coisa rotineira, hoje em dia: o ataque maciço da publicidade, que prepara todos para determinadas produções com toneladas de informações e seduções de todos os tipos. Somos preparados para gostar de certos filmes, queiramos ou não, e só depois de tê-los visto é que percebemos que, a despeito de todas as firulas e confeitos novos que eles apresentaram na forma, o que nos contavam era mais do mesmo, refletindo a velha moral cínica dos comerciantes que sabem reciclar o já faturado e seguir faturando. Mas, como gostamos de cinema e isso é provavelmente mais vicioso do que parece, seguimos como consumidores ávidos de alguma coisa que não sabemos bem o que é e que queremos que seja extraordinária. Portanto, o círculo vicioso é incurável.
O caso de "O gângster" é bem assim: a crítica teceu grandes loas ao filme (na capinha do DVD, diz-se que é "o maior filme do ano"), as indicações ao Oscar impressionaram, e lá estão dois atores de que o público não poderá deixar de gostar: Denzel Washington e Russell Crowe. Ridley Scott, diretor capaz de grandes coisas, é irregular, e faz filmes bem esquecíveis também. Mas tem o senso do espetacular e sabe fazer produções imponentes, e em "O gângster" voltou a acertar: o filme é muito bem feito, absorvente e não há reparos técnicos a fazer: a coisa nos enche os olhos, vai num crescendo de interesse, e não é um filme curto.

LEIA MAIS

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 7/06/2008 10:25:00 AM | | | Voltar

·······

31 de maio de 2008

O "revival" de ideais estropiados dos anos 60 em dois filmes que precisam ser vistos, por Chico Lopes

Dois dos filmes mais interessantes que vi ultimamente têm uma coisa em comum - e que me parece bem regressiva, com uma boa dose de saudosismo melancólico: a filosofia dos anos 60. Grosso modo, trazem um pouco do "Flower Power" e outro tanto do "hippismo" estradeiro que, no Brasil, vigorou mais intensamente foi mesmo nos 70. Nos dois filmes, tive a impressão de uma jornada para trás, para coisas que foram muito bonitas e não deram certo, permanecendo mesmo na esfera dos sonhos e dos desejos. Mas que ainda guardam certo apelo poético.
São "Across the universe", de Julie Taymor, e "Na natureza selvagem", de Sean Penn. "Across the universe", produção norte-americana de 2007, manteve, no cinema e nas locadoras, o título original em Inglês de uma das canções mais bonitas dos Beatles, que apareceu no seu último álbum (também dos mais fracos), "Let it be".
Com esse título, não há dúvida: é um musical, e já abre com o personagem Jude cantando "Girl" (que no Brasil teve uma versão bem conhecida e brega por Ronnie Von). As músicas dos Beatles vão desfilando, e elas têm tanta força, tanta História, tanta carga emocional, que se percebe que a história nos interessa pouco - parece apenas um pretexto para que uma nova canção seja cantada (podemos cantar com o filme; são todas arqui-conhecidas do grande público). E os nomes dos personagens não deixam dúvida: são Jude, Lucy, Max (na certa por "Maxwell´s silver hammer"), Martha, Jo-Jo, Sadie, Prudence. Nem todos os personagens, porém, têm as canções equivalentes a seus nomes cantadas - Jo-Jo, Sadie e Martha ficam na saudade. O filme, aliás, parece ter tido acidentes de percurso, conflitos entre direção e produção, e vai caminhando bem até certa altura para depois mergulhar no sentimentalismo e num certo desnorteamento. Não é certo que Taymor, que provou talento na direção e na criatividade visual com "Frida", cinebio de Frida Kahlo, tenha feito exatamente o que quis.

++++++

Marcadores: ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 5/31/2008 04:31:00 PM | | | Voltar

·······

27 de maio de 2008

O horror peculiar do pai espiritual de Stephen King, por Chico Lopes

Encontrei "O caso de Charles Dexter Ward", de H.P Lovecraft, num desses stands que trazem livros de bolso a preços simpáticos da L&PM, e não hesitei em adquirir.
Tenho uma relação de admiração e algum "pé atrás" com esse escritor. Conheci-o de duas coletâneas de contos lançadas nos anos 80/90 pela editora Francisco Alves ,"Um sussurro nas trevas" e "A casa das bruxas". Devem ser itens de sebo, hoje em dia, mas recomendo vigorosamente "Um sussurro nas trevas", coletânea que traz realmente o melhor de Lovecraft, contos bem mais curtos que o habitual dele e que, por mais curtos, são mais densos e sugestivos e acertam melhor na criação de atmosferas.
Jorge Luis Borges teve certo interesse por Lovecraft, mas dá para entender que deve ter achado aquelas narrativas repletas de documentos apócrifos e referindo-se a entidades, culturas, povos e raças que teriam existido na Terra antes da presença do Homem, afinadas com suas obsessões.
Também teria dito que ele o interessava por ser quase uma paródia de Edgar Allan Poe. Os excessos românticos de Poe são freados por um racionalismo e um cálculo na composição, mas Lovecraft é mais desatado e delirante e quase hilariante, de vez em quando: seu estilo, repleto de adjetivos, superlativos e coisas indefiníveis, cultos, entidades e evocações com letras maiúsculas, presta-se facilmente à imitação e ao deboche, e nisso Borges estava certo.
Não é de estranhar que Lovecraf seja tão imitado por seu discípulo mais conhecido, e mais bem sucedido editorialmente: o escritor Stephen King.===>>>> LEIA MAIS

Marcadores: ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 5/27/2008 10:01:00 AM | | | Voltar

·······

16 de maio de 2008

Herzog, Anderson, Oz e Wright: passagens pelas locadoras

Eis alguns resultados de minhas idas freqüentes a locadoras, nos últimos meses. Espero que as dicas sejam úteis para adeptos e incautos:

O SOBREVIVENTE - Werner Herzog, o gênio alemão que nos deu filmes como "O enigma de Kaspar Hauser", "Nosferatu", "Aguirre - A cólera dos deuses" e tantos outros, ainda está na ativa. Há um excelente documentário seu nas locadoras, "O homem urso", e, de repente, quando se pensava que ele se restringira a este gênero, surgiu essa produção de 2006 com Christian Bale, o último "Batman", no papel principal.
Ele é um personagem verídico (Herzog já filmara um documentário a seu respeito), o alemão Dieter Dangler, que se engajou como piloto na América no início dos anos 60, mas teve a má sorte de pegar os primórdios da guerra do Vietnam, nos bombardeios sobre o Laos. Seu avião sofre um acidente e ele cai na selva. Será capturado e levado a uma prisão, que dividirá com outros, americanos e asiáticos supostos inimigos dos vietcongs, em condições inumanas.
Tudo isso faz pleno sentido dentro da arte cinematográfica e dos temas usuais de Herzog, que filma como ninguém selvas e personagens visionários perdidos em sonhos patéticos. A fotografia é soberba, e o início é deslumbrante, com bombardeios feito um delírio pirotécnico em câmera lenta, ao som da música maravilhosa de Klaus Baldet, que parece um pouco derivada do Adagietto da Quarta Sinfonia de Gustav Mahler utilizado em "Morte em Veneza", de Luchino Visconti.

==>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 5/16/2008 10:37:00 PM | | | Voltar

·······

26 de abril de 2008

Garimpos na atualidade e no passado: filmes que andei vendo, por Chico Lopes

De vez em quando, há leitores do que escrevo aqui no "Verdes Trigos" que me cobram o fato de comentar mais filmes antigos que novos ou me acusam de só gostar de "filmes velhos". Mal respondo à acusação de só gostar de filmes do passado, porque é simplesmente uma atitude do pior obscurantismo e ignorância - como se a história do Cinema fosse desdenhável e tudo tivesse começado ontem, com algum dos fetiches tecnológicos de Spielberg e Lucas. Gosto de tudo, de qualquer época, contanto que seja bom de fato. É impossível entender o que é o Cinema sem ver os chamados "filmes velhos".Acho privilegiada uma época como a nossa, em que DVDs de velhos filmes não param de sair, que nos permitem olhar para o passado, avaliar o que foi feito, comparar com o presente (ainda que seja para lamentar este) ou simplesmente fazer uma viagem deliberadamente saudosista a personagens e valores tidos por antiquados, por quê não? (se a modernidade prega que toda pretensão a valor é hipocrisia e só a maldade dá uma idéia fiel do ser humano, talvez o que está decididamente fora de moda seja a única salvação).
Vou vendo filmes de todos os tipos, tempos e lugares. Um pouco do que ando vendo segue aqui, talvez como orientação para algum leitor que aprecie meu gosto (ou desgosto) e queira concordar (ou discordar) comigo futuramente:

ENCANTADA - Produto de Walt Disney que pretende fazer paródia dos desenhos animados clássicos do estúdio como "A Bela Adormecida", "Branca de Neve e os Sete Anões", e consegue ser inteligente e engenhoso, ao menos até à metade. A princesa típica de todos os desenhos Disney, que inclusive, folgada, faz uso de animais para serviços domésticos convocando-os com musiquinhas melosas, sofre maldição de uma bruxa, cai num abismo e este abismo dá num buraco de esgoto de uma rua da Nova York atual, onde o desenho sai como atriz (Amy Adams).
Aí, o filme passa a ser uma comédia romântica normal. Ela sai à procura de um castelo e do príncipe com quem deve se casar, deparando-se com a brutalidade do mundo contemporâneo (como se não houvesse muita crueldade velada naqueles desenhos todos!). Encontra um jovem executivo realista (nesses filmes, o sujeito que não crê em fantasia é rapidamente estigmatizado como um tipo cruel e sem imaginação) e desiludido que tem uma noiva, mas não é feliz (vocês já entenderam tudo). O filme faz rir, mas, quando a gente se dá conta, está pregando precisamente todos os valores que tentou parodiar até então, e sentimos que fomos chantageados de maneira bem baixa. Uma pena. Mas Amy Adams é boa atriz. ==>> LEIA MAIS

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 4/26/2008 03:46:00 PM | | | Voltar

·······

13 de março de 2008

'O FILHO DA BRUXA': sequência de "MALIGNA" já está nas livrarias

CHICO LOPES, tradutor brasileiro de Gregory Maguire, fala do romance
Chico Lopes, escritor e tradutor, traduziu para os leitores brasileiros "Maligna" ("Wicked"), o maior sucesso editorial do escritor norte-americano Gregory Maguire, que foi lançado em 2007 no Brasil pela Ediouro. É dele também a tradução da seqüência de "Maligna", "O filho da bruxa" ("Son of a witch") que já está nas livrarias, também em lançamento da Ediouro. Chico Lopes, admirador do estilo ricamente imaginativo e ambíguo dos livros de Maguire, fala de seu trabalho nos dois livros e conta um pouco a respeito da história de "O filho da bruxa", em entrevista exclusiva a este site cultural:

VerdesTrigos: O grande sucesso de "Maligna", romance muito vendido nos EUA e transformado em musical da "Broadway", gerou essa seqüência em que ano?
Chico Lopes: "O filho da bruxa" ("Son of a witch") saiu em 2005. Era uma seqüência muito esperada, em virtude do sucesso de "Maligna". Maguire tem uma grande legião de fãs nos Estados Unidos. Ele fez, com histórias tradicionais de fadas, bruxas, heróis e mitos do mundo infanto-juvenil, uma operação corajosa, injetando neles uma veia política contestatória, ambigüidade existencial, moral e até sexual, tornando esses livros agradáveis e inteligentes até (e talvez principalmente) para adultos. "Maligna" é uma obra-prima, em seu gênero. "O filho da bruxa" segue o primeiro romance com fantasia desvairada, contando a história de Liir, suposto filho da bruxa Elphaba com o príncipe Fiyero dos Arjikis, na primeira parte. Sem ter certeza de quem são seus pais, ele vive aventuras fantásticas nesse segundo livro. Grandes surpresas esperam quem leu "Maligna" e deseja ler esta seqüência. O sucesso de "Maligna" ("Wicked") nos palcos da Broadway fez com que Gregory Maguire dedicasse este segundo livro ao elenco e à equipe do musical, que estreou na Broadway em outubro de 2003, na noite anterior ao "Halloween" (Dia das Bruxas). ===>>> LEIA A ENTREVISTA

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 3/13/2008 11:12:00 PM | | | Voltar

·······

8 de março de 2008

PAUL BOWLES: autobiografia e contos de um viajante sem volta, por Chico Lopes

Paul Bowles como escritor e personagem começou a me despertar interesse - como acho que em quase todo mundo que o leu - pelo filme "O céu que nos protege", de Bernardo Bertolucci. O filme mexeu com gente menos convencional, precisamente por tratar de dois viajantes nada convencionais, Paul e sua mulher, Jane Auer. Bem óbvio que eles eram a fonte direta de inspiração do casal vivido no filme por John Malcovich e Debra Winger.
Nos anos 90, com esse sucesso cinematográfico obtido em nichos mais intelectualizados, houve um interesse editorial pela obra de Bowles no Brasil e, na ocasião, comprei dois livros seus editados pela Rocco, "Chá nas montanhas" e "Um amigo do mundo", que ainda, com sorte, podem ser encontrados em sebos e promoções.
Uma escritora amiga, Yara Camillo, falou-me de Bowles no final do ano passado e se referiu a uma autobiografia do escritor que eu não conhecia: "Tantos caminhos", lançada no Brasil pela Martins Fontes (edição de 1994).
Yara acabou me emprestando "Tantos caminhos" e mergulhei na leitura. Achei o livro muito interessante, decisivo para se entender a personalidade do escritor a partir de sua vida, e é uma pena que seja item de sebo, porque muita gente poderia se aproveitar da leitura. Poderia ser reeditado, mesmo com a onda Bowles tendo passado. Aliás, uma das vantagens da "poeira assentada" na questão das modas literárias é que se pode conhecer melhor um autor e sua obra tempos depois que o incensamento automático e duvidoso já sumiu de vista e os consumidores de cultura, tão fúteis, novidadeiros e desmemoriados quanto quaisquer outros, nem têm mais nada a dizer a respeito de dada figura e de seus livros. Com paixões e foguetórios apagados, faz-se um juízo mais sóbrio do que houve (tem-se a impressão de que essas ondas são ainda mais levianas entre nós, porque pouca gente lê de fato o que diz estar lendo; quase tudo é citação vaga para impressionar patotinhas presunçosas). ==>>> LEIA MAIS

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 3/08/2008 05:11:00 PM | | | Voltar

·······

24 de fevereiro de 2008

RIMBAUD e JACK KEROUAC: o prazer e o luto das biografias, por Chico Lopes

Ultimamente, diante da dificuldade para se comprar livros devido aos preços assustadores, tenho me inclinado para títulos que sempre quis ler disponíveis em sebos e promoções (basta ter paciência e sair à procura) ou para edições que têm preços mais justos para um brasileiro comum, de poder aquisitivo claramente limitado. Entre esses livros, comecei a comprar os da editora L&PM, pockets de gêneros muito diversificados, capazes de atrair, pela fama dos autores e mesmo pela audácia de certas edições. De cara, mergulhei nos muitos Bukowskis que a editora oferece. Depois, fui vendo outros títulos, e decidi que tinha que ler um clássico que todo mundo parece conhecer, mas no qual eu nunca pegara: "On the road", de Jack Kerouac. O livro andava sendo de novo comentado por conta de uma adaptação cinematográfica que teria, sob direção de Walter Salles, nos EUA. O filme estaria sendo produzido e seria lançado neste 2008. Mas, de nada mais sei. Em todo caso, valeu o clima de comentário, porque isso me fez ir ao livro, que é de fato fundamental, ainda que muita coisa tenha envelhecido.
Daí, dos Bukowskis, fui para os Kerouacs que a editora também oferece. Li "Os vagabundos iluminados", constatando que nele, infelizmente, Kerouac é derivativo, quando não desigual, auto-indulgente (o budismo devocional do livro é particularmente cansativo e redundante) ou simplesmente chato. Mas, não desanimei, porque a prosa de Kerouac, cheia desses defeitos, é também marcada por lampejos de uma força poética sempre considerável, e comprei "O viajante solitário", em que o clima de "On the road" dá melhor as suas caras. A impressão que se tem é que Kerouac foi vítima da tremenda fama adquirida por "On the road" do ponto de vista do mercado editorial e acabou tendo muita coisa sua, informe e sem interesse, publicada por questões mercadológicas, já que seu nome passou a valer ouro. Estas leituras me fizeram ter a curiosidade de saber melhor da vida dele, e, para isso, a L&PM também oferece um título: a sua biografia, escrita por Yves Buin. Basta lê-la e se descobrirá que Kerouac foi mesmo vítima da fama de seu maior livro. E que, infelizmente, não é um ser humano muito agradável. Ler esta biografia pode ser de uma tremenda importância para seus admiradores neófitos, e suponho que os tenha aos montes no Brasil, devido à lenda, que atravessa gerações. ++++++++++

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 2/24/2008 11:21:00 PM | | | Voltar

·······

27 de janeiro de 2008

Fuga ao real: incompreensões do público leitor, por Chico Lopes

Livrarias, claro, são dos meus ambientes favoritos, sejam elas grandes, espaçosas, iluminadas e recheadas de stands e cartazes, sejam pequenas, estreitas, cubículos como certos sebos, onde o cheiro de livros velhos já é um tremendo excitante. Mas, percebo que as livrarias de maior atração para o público, hoje em dia, não são exatamente lugares onde se pode conhecer os melhores e mais refinados leitores.
Como freqüentador, tenho tido a tristeza de constatar que quase não se procura mais livros de ficção mais refinados e incomuns e que o leitor já não se parece mais com um tipo decididamente culto com quem valha a pena conversar. Ele entra com idéia fixa na aquisição de algum livro que freqüenta a lista dos best-sellers (alguns mais rebarbativos levam até nas mãos para fazer suas compras), estrangeiros em maioria e destinados a entreter, tudo bem, mas dificilmente obras que poderão levar a reflexões maiores e mais interessantes sobre o mundo.
Quando um livro até bem corajoso como "Deus - Um delírio", de Richard Dawkins, faz sucesso, percebe-se que é menos pela força e a riqueza da argumentação do que pelo escândalo que vem suscitando um autor ateu confesso que ataca as religiões - grosso modo, é isso o que fisga o comprador superficial: um apetite pelo sensacionalismo. As razões que o levam a comprar um livro não são as melhores, infelizmente. É possível (e é mesmo observável) que muitos livros que se vem comprando a esse preço escandaloso na faixa dos 50 a 60 reais ou mais, acabem sendo pouco lidos e rapidamente negligenciados e encostados (há sebos com livros praticamente novos, deixados de lado por compradores apressados que não encontraram neles a excitação esperada).===>>> LEIA MAIS

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 1/27/2008 10:31:00 PM | | | Voltar

·······

22 de janeiro de 2008

Da morte de Suzanne Pleshette e outras conversas entre sobreviventes, por Chico Lopes.

Uma amiga, freqüentadora das sessões de filmes clássicos e nostálgicos que são promovidas pelo Instituto Moreira Salles - Casa da Cultura de Poços de Caldas, aos domingos, me manda e-mail com notícia da morte da atriz americana Suzanne Pleshette, aos 70 anos.
Não tivesse ela participado no papel da professora que morre atacada pelas aves, sacrificando-se pela vida da irmãzinha do homem que ama em "Os Pássaros", de Hitchcock, creio que a notícia ficaria ainda mais restrita a alguma nota de fundo de jornal. Foi também a bibliotecária que é mal vista numa cidadezinha do interior careta dos EUA e, enfastiada, vai para Roma, onde conhece Troy Donahue, no lembradíssimo (mas menos cultuado pela crítica) "O candelabro italiano", de Delmer Daves.
Seu nome era Prudence, uma piada com sua imprudência ao ler algum livro proibido naquela biblioteca de cidade do interior, que sujara a sua reputação. O filme fez todo mundo amar e chorar naqueles inícios de anos 1960, ao som de "Al-di-lá", com Emilio Perícoli. Suzanne foi casada com Donahue, idolatrado por todas as jovens de então. Ela na garupa da lambreta de Donahue é ícone nostálgico infalível na memória de muita gente.
A notícia me chegou, e a repassei a um amigo cinéfilo que, também do interior de São Paulo, na certa se lembraria de Suzanne. Tomara ele tenha lembrado, e sentido o impacto que eu senti. Foi me dando um certo calafrio pensar que há pouca, pouca gente de meu círculo - geralmente os que estão na minha faixa de cinquentão - capaz de saber quem foi Suzanne.  ===>>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 1/22/2008 09:54:00 PM | | | Voltar

·······

15 de janeiro de 2008

A última chance de Anita: o incontornável desejo e a infalível velhice, por Chico Lopes.

Entre os filmes que mais me deixaram satisfeito como espectador nos últimos anos, há uma tendência a predominar títulos do cinema espanhol. Com orçamentos pequenos, é um cinema que, desde a aparição redentora e libertária dos filmes de Almodóvar - que ganharam merecida ressonância mundial -, errando e acertando, tem sempre uma elevada dose de humanismo e uma simpatia contagiante, lembrando as melhores misturas do cinema italiano dos anos 50 e 60 (aquele delicioso calor humano, do qual a lucidez e mesmo a crueldade, não estavam excluídos, em comédias fabulosas). A gente percebe a pobreza das produções, locações limitadas, certos descuidos de figurino, cenografia, roteiro, mas isso é substituído, com talento, por uma verdade documental muito grande e por atores que se entregam aos papéis com vontade visceral de acertar.
Exemplo disso é o pequeno filme, que se vê por aí, despretensioso, nas locadoras (e muita gente nem tem maiores referências a seu respeito) chamado "Anita não perde a chance", de Ventura Pons.
"Anita não perde a chance" ("Anita no perde el tren") é de 2000 e não marcou maior presença, mas vale ser visto e descoberto, especialmente por quem se interessa por um cinema verdadeiramente humano, em que o melodrama e a comédia se fundem. Não é um grande filme, longe disso. Tampouco são grandes filmes "Fred e Elza", "Crime Perfeito" e outros petiscos espanhóis das locadoras. Mas, tal como os outros, a sua imperfeição é cheia de uma humanidade vital. ==>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 1/15/2008 10:18:00 PM | | | Voltar

·······

13 de janeiro de 2008

Filmes dignos de espera: as promessas cinematográficas do ano de 2008, por Chico Lopes.

O começo de 2008 está já com ares de celebração nos cinemas. Muita coisa boa e elogiada pela crítica americana deve chegar neste janeiro e nos próximos meses. Não esquecer que o Oscar é já em fevereiro, e que "Desejo e reparação", de Joe Wright (que estreou de maneira incerta, com "Orgulho e preconceito", no cinema), está valendo todas as apostas, desde o desempenho no Globo de Ouro. Não vi o filme e espero vê-lo para, dentro em breve, comentá-lo aqui, junto aos leitores do Verdes Trigos.
Por tudo que ando lendo nos sites de cinema americanos, desde Roger Ebert e Emmanuel Levy ao painel de "reviews" no "Rotten Tomatoes", passei a ficar à espera de algumas promessas que parecem bem substanciosas.
O diretor inglês, Ridley Scott, realizador de grande talento que já nos deu "Blade Runner", "Alien - O oitavo passageiro" e "Thelma e Louise" - mas que, infelizmente, também faz filmes bem fracos e comerciais, deixando seus admiradores indecisos entre apreciá-lo e ignorá-lo - está de volta com "O gângster", que vem recebendo enormes elogios e tem dois atores de primeira nos papéis principais, Denzel Washington e Russell Crowe.
Fala-se muito também de "There will be blood" ("Sangue negro") de Paul Thomas Anderson, o mesmo autor do excelente "Magnólia", e de "No country for old men" ("Onde os fracos não têm vez") dos irmãos Coen. No primeiro, os elogios são nunca menos que rasgados para a atuação de Daniel Day Lewis na pele de um homem solitário que enriquece com o petróleo, mas cuja ambição e dureza o impede até mesmo de amar o único filho que tem. Do filme dos irmãos Coen também se fala maravilhas, especialmente do desempenho do ator espanhol Javier Bardem, que está se consagrando na América com a interpretação de um matador implacável cuja maldade intensa é coisa poucas vezes vista no cinema - já estão comparando a atuação e o personagem de Bardem com a de Anthony Hopkins para Hannibal Lecter em "O silêncio dos inocentes". ==>> LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 1/13/2008 08:05:00 PM | | | Voltar

·······

21 de dezembro de 2007

Suspiros de 2007 e o que esperar de 2008, por Chico Lopes.

Meus leitores sabem que sou mais de ver ou rever filmes em DVD do que de ir aos cinemas porque, decididamente, não tenho espírito novidadeiro o bastante para achar, entre os tantos lançamentos, algum que me pareça mais digno de atenção. Os filmes, na atualidade, chegam rápido ao formato DVD e, tendo passado o tempo de barulho, de "sucesso", sofrem certa decantação (ela também mais acelerada, em que pese o paradoxo) e pode-se escolher melhor. O que não nos isenta de decepções, porque, hoje em dia, há muito mais publicidade que qualidade. Os outdoors, capas de revista, páginas da Internet, obas aqui, obas acolá, dão a impressão de que cada filme que sai é imperdível. É a ilusão de um mundo excessivamente consumista onde o excesso de sinais pretensamente qualitativos a todos engana.
Nessa floresta de chamarizes falsos, é preciso ter certa resistência crítica que chega a parecer estoicismo e escolher com frieza.
O hábito de ver e trabalhar profissionalmente com filmes dá considerável fadiga nesta época, quando todo mundo se põe a fazer listas dos melhores do ano, encontrando certas unanimidades e estranhando quando alguém não dá muita bola pra elas.
Eu não me abalo. Creio que, ecoando o "ficou chato ser moderno/agora serei eterno", de Drummond, procuro mais o que é sólido nesse mar de futilidades e descartes automáticos que nos assola. Simplesmente, Will Ferrell e Adam Sandler e não sei mais quem ainda não me convenceram de que são comediantes ou atores minimamente interessantes - ninguém pode superar Jack Lemmon ou Jerry Lewis nesses momentos e, se uma mesma locadora dispõe de títulos novos e antigos, e o usuário que entra conhece bem o cinema do passado, só entrará em fria vendo coisas novas se quiser. => LEIA MAIS

Marcadores: , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 12/21/2007 02:06:00 PM | | | Voltar

·······

2 de dezembro de 2007

"Da legião sem nome", por Chico Lopes.

Eles se reúnem, os insones, em torno de uma mesa de bar, num canto apertado onde claro e escuro se alternam. Eles, os que nunca conseguiram dormir cedo, embora nada encontrem na rua. Eles, os últimos a sair de qualquer bar, jamais convencidos da impossibilidade que não cessa de ser comprovada, evidência após evidência. Eles, os derradeiros crentes.
Não, não são a raça eleita, os escolhidos da Noite, dignos de uma atenção maior do Destino apenas porque mais ansiosos de vida. Essa crença é ingênua, antiga muleta dos que se organizam em rancoroso rebanho para desdenhar de outros rebanhos, opondo seitas a seitas, formando minoria apaixonada para defender pontos de vista sem defesa - pois tudo é discutível - com uma histeria que tenta compensar a fragilidade de tudo pelo excesso de gritos. + + + +

Marcadores:

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 12/02/2007 05:16:00 PM | | | Voltar

·······

16 de novembro de 2007

DEZ FILMES para se levar para uma ilha deserta, por Chico Lopes.

Para quem aprecia Cinema, foi lançado pela Publifolha há alguns anos, um livrinho chamado "Ilha deserta - Filmes". Proposta curiosa: sete autores famosos, entre críticos cinematográficos, cineastas e escritores, falam dos dez filmes preferidos que levariam para uma ilha deserta. Os autores são o teledramaturgo Agnaldo Farias, os críticos de cinema Amir Labaki e Inácio de Araújo, o escritor Bernardo Carvalho, a socióloga Isa Grinspum Ferraz, o documentarista João Moreira Salles e o cineasta Ugo Giorgetti.
Essas listas dos "dez filmes preferidos", em geral solicitada a cineastas, críticos e personalidades da cultura, foram uma mania em outras épocas, quando a cinefilia parecia mais vigorosa; hoje, parecem impressionar e influir menos, porque o peso da crítica cinematográfica sobre o público é consideravelmente menor. Os gostos mudam depressa demais hoje em dia e quase não há tempo para a dedicação contínua e sistemática a uma obra cinematográfica a ponto de torná-la objeto de um culto recorrente e, sem esse tempo, sem essa disposição de espírito, não há apego ao que se vê (a descartabilidade é endêmica e frenética), não havendo, portanto, um mecanismo sólido de eleições. + + + +

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/16/2007 12:34:00 PM | | | Voltar

·······

9 de novembro de 2007

O olhar de um forasteiro que se deixou enfeitiçar por Poços de Caldas

Completando 15 anos de Poços de Caldas, o escritor Chico Lopes, nascido em Novo Horizonte, SP, escreve a crônica "O olhar de um forasteiro que ficou" sobre a bela cidade mineira, que completou 135 anos no dia 6 último.

Chico Lopes diz que sua carreira literária desabrochou por completo foi à sombra da serra da Mantiqueira e andando pela cidade de clima privilegiado e belas paisagens, tão inspiradora que o escritor Guimarães Rosa, no seu livro "Ave, palavra", chamou-a de "afrodisíaca".

=> Leia mais

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 11/09/2007 09:25:00 PM | | | Voltar

·······

31 de outubro de 2007

A CRÔNICA E SEUS TEMAS, por T.M. Castro

O argentino Borges disse certa vez que só escrevemos sobre experiências que imaginamos possíveis de acontecer e que tais fenômenos são mui pouco originais, isto é, o campo que nos é oferecido éexíguo, daí escrevermos sobre poucas coisas, se pretendemos originalidade.
Eis, então, que só escrevemos sobre o que é sempre possível. Para fugir deste rame-rame, deveríamos, penso, buscar material no que existe fora do comezinho sempre. Dentro do sempre há um tudo descrito ou seráque ainda há algo a ser descerrado?

..............

Perdoe-me eventual paciente leitor por esta minha pretensa-pseudo filosofagem em torno do escrever e seus temas. É que, colaborador episódico do sítio literário Verdes Trigos, vi-me, de repente, de mouse em punho e nada desingular no cotidiano me ocorreu para narrar, pois pelejava comigo mesmo em torno de dois episódios distintos, mas concomitantes e interligados, que aconteceram no mundo literário de Brasília, DF.
Um, o conto "Hóspedes do vento", de Chico Lopes, escritor e também colaborador de Verdes Trigos; o outro, o artigo "Escrever para quem?", de Pedro Paulo Rezende, escritor e jornalista da equipe do Correio Braziliense, ambos publicados no encarte literário Pensar, do referido periódico, sábado, dia 27 de outubro. ++++++++

 

Marcadores: , , ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 10/31/2007 01:53:00 PM | | | Voltar

·······

6 de outubro de 2007

Rios e desertos desconhecidos de um romancista baiano, por Chico Lopes.


Bons livros nos chegam, às vezes, de maneira despretensiosa, como me chegou A dama do Velho Chico, do escritor baiano Carlos Barbosa, sobre quem eu não tinha informação alguma. Lima Trindade, editor do Verbo 21 de Salvador, Bahia, foi quem me falou dele. Entramos em contato. Como é comum entre escritores, mandei-lhe um livro meu e ele me mandou o seu, os que tínhamos disponíveis.
Sempre fui leitor de ficção mais que de outra coisa, mas, em geral, pratico muita releitura; por vezes, autores novos me desanimam devido ao meu vezo conservador de querer trilhar a trilha do já sabido, jáconhecido, experimentado e amado (e os livros muito amados só o são porque muito relidos). De modo que cometo injustiças e omissões, nesse campo, mas não estou sozinho no erro. O comodismo conspira para que percamos muita coisa. E não gosto de opinar sobre livros que não li, ou li mal (quem prestar atenção a certos comentários por aí, notará que a prática de comentar sem ter lido não é rara).
Carlos Barbosa nasceu em 1958 em Oliveira dos Brejinhos, no sertão baiano, e passou sua infância em Ibotirama, beiradas do São Francisco. Portanto, sabia do que falava ao elaborar esse seu primeiro romance, lançado pela Bom Texto em 2002. A dama do Velho Chico fala de paragens que nós daqui, do Sudeste, conhecemos muito mal. Quanto ao rio, flutua em nossa lembrança, com seus barcos, feito um Mississipi caboclo. Imaginamos aquelas embarcações com suas carrancas a partir de lembranças de documentários, programas especiais de tevê. Tudo fica na superfície. Mas a vantagem da Literatura é precisamente esta: livros nos vêm de outra parte, perfuram o já-sabido, trazem mundos de cujas existências mal suspeitamos, não valendo, para adivinhá-los, os nossos estereótipos ou informações de segunda mão. ++++++++

Marcadores: ,

Primeira Página
Link permanente··- publicado por VerdesTrigos @ 10/06/2007 07:49:00 PM | | | Voltar

·······